THE DELAGOA BAY REVIEW

22/10/2009

Escola Particular de Lourenço Marques, 1937

Filed under: Fotografia Moçambique — ABM @ 2:02 am

croplm-escola-especial-alto-mae-1937-arlindo-malosso

por ABM –

Mão amiga fez-me chegar esta fotografia de grupo dos estudantes da Escola Especial de Lourenço Marques, tirada em 1937. O exmo leitor Maschambiano se teve família lá nessa altura prima a imagem acima, imprima e mostre aos familiares (bem, sugiro que comece de avós para cima…) e pode ser que veja um antepassado seu lá. Aqui estão membros de algumas das mais velhas famílias da cidade. Se encontrar avise que a Secção Fotográfica do Maschamba faz um crop e envia por e-mail.

A Escola Especial era uma escola particular muito conceituada, na altura a única da cidade. Ficava situada na Avenida 24 de Julho no princípio do Alto-Maé, mesmo em frente a um jardim que terá tido o nome de 1º de Maio (não sei se ainda tem esse nome, provavelmente já deve ter mudado).

Um aspecto curioso da imagem (a que aqui se reproduz tem uma resolução de 500 kb, em casa a minha tem 50 MB…) é a enorme diversidade racial dos estudantes (se bem que whites estão 10 a 1 para blacks, o que revela um pouco como as coisas eram naqueles tempos).

26 comentários »

  1. “…é a enorme diversidade racial dos estudantes (se bem que whites estão 10 a 1 para blacks, o que revela um pouco como as coisas eram naqueles tempos).”

    1937

    Sr. ABM

    Maningue obrigado por nos trazer esta fotografia de 1937, é bom repetir – 1937.

    Afinal? como se diz na minha terra.

    Trata-se de uma escola particular, única na cidade, logo para meninos bem, pelo menos com posses, ou bem relacionados…

    Traduz uma realidade social óbvia, 1937.
    Não quero escamotear.
    Certo.

    Referir também que entre os whites e os blacks, há, reconhecem-se outros – “Goeses”, Indianos (Índia e Paquistão) – e Mestiços.

    Afinal não havia racismo em Moçambique, apartheid?

    O tão apregoado racismo que os esquerdalhos, os “teotónios” tanto apregoavam/am!!!

    Pena tenho de não possuir uma fotografia do género da minha escola pública do Luabo, 1957/1960.

    Pena mesmo.

    Obrigado.

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    Comentar por umBhalane — 22/10/2009 @ 9:50 am

  2. ABM vim para comentar o teu texto, aquilo que de imediato me ocorreu: é interessante ver como quando se chega à memorabilia colonial os antigos colonos (mesmo os mais despojados da ideologia “espoliadista”) incluem constantemente a afirmação ou, pelo menos, a notação da miscelânea racial do colonialismo. É um trave-mestra do olhar, mas também um diálogo, ainda hoje, com um qualquer interlocutor.

    O comentário do caro 1B é ainda mais ilustrativo do que queria dizer, o explicitar do tal diálogo.

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    Comentar por jpt — 22/10/2009 @ 12:15 pm

  3. JPT Bom dia. Acho que me expliquei mal e consequentemente me entendeste mal. Vamos por partes.

    1. Esta fotografia é genuinamente rara, interessante por uma série de razões e logo, creio, merecedora de pelo menos um olhar. Adicione-se que há muito boa gente viva e que tem ligação aos meninos e meninas que ali estão retratados. Eu pelo menos conheci um dos meninos ali retratados.

    2. Deves bem saber que eu já estou um bocado- muito- para além da fase do processo mental de me debruçar sobre certas particularidades do regime sob o qual nasci (e tu também, creio) na vertente africana. Que o sistema era inerentemente racista em favor de brancos e só um cego não o veria. E como branco eu e outros como eu auferiam das respectivas benesses sistémicas. O que não significa que eu tivesse que ter sequer opinião sobre o assunto – em 1974 eu tinha acabado de fazer 14 anos (porra) e estava demasiado ocupado a gozar o que me recordo de ter sido uma particularmente feliz, rica e elucidante juventude.

    3. Mas posso referir-te, como exemplo, que no infantário que atendi – a actual Escola Verney na cidade de Maputo – praticamente não havia negros (a não ser os serviçais e pessoal administrativo); eu fiz toda a escola primária na actual Escola 3 de Fevereiro na Polana (chamava-se Rebelo da Silva) e na minha turma, com uns trinta e tal alunos, havia um – um -colega negro. E o professor – Armando Lobo – dizia que”não gostava de pretos”, tout court. Ou seja, para ele aquele um era um a mais. Ele também achava que nós éramos brancos de 2ª pois os trópicos eram insalubres e o contexto menos moral. O dele foi apenas um episódio menor num espesso rol de discriminações negativas e positivas que fui encontrando no decorrer desta já muito demasiadamente longa vida minha. A ideia generalizada de que só um preto pode ser vítima de discriminação é das constatações mais surpreendentes a que tenho assistido na vida. Especialmente no meio académico. Especialmente no Moçambique de hoje. O mesmo posso dizer quanto aos portugueses pretos de hoje. Mas espero que eles saibam dizê-lo de sua própria boca.

    4. Isto tudo, em parte, porque quem atendia as escolas eram os filhos dos residentes naqueles bairros. E na Polana viviam muito poucas famílias negras. E claro que era assim. As cidades coloniais foram sendo construídas primariamente não para experiências de harmonia racial (como tentou o engº Trigo de Morais no Limpopo e foi uma anedota) mas para albergar as nascentes elites colonais – que eram brancas, pois os portugueses metroplitanos, peque referir o óbvio, eram (mais ou menos) brancos e vinham trabalhar no desenvolvimento que por ali havia, havendo uma forte componente urbana. A ideia de educar os nativos de cor mais escura em Moçambique só ocorreu muito mais tarde e principalmente nos últimos anos do regime. Quantos liceus e univeridades havia em Moçambique em 1960? e dez anos antes quantos alunos eram negros? a quem eram dadas as oportunidades? pois é. Era assim. Começou-se quase do zero e os brancos tinham prioridade.

    5. Mas também sugiro que nem eu, nem tu nem outros dos nossos exmos membros da comunidade dialogante Maschambiana, entrem pelo facilitismo hermenêutico de rotular sumariamente o que era nesse tempo como bom ou mau – pois isso é errar por ver as coisas apenas pelo espelho retrovisor e na base do simplismo dicotómico. No meio daquela pulhice toda e como em tudo na vida houve muito humanismo, muita solidariedade – e muito abuso e sadismo. Havia de tudo – putas, padres, paneleiros, revolucionários, fascistas, gente normal, beatos e beatas, havia os que queriam ganhar o seu e mais nada, havia até gente para quem aquilo era a ordem natural das coisas e que iria durar muitos mais anos. Enganaram-se. O Sr Otelo e os seus amigos com três pantufadas meteram um selo de validade precário no regime em Lisboa e em seis meses tudo ruiu.

    6. Ao contrário da Polana, o Alto-Maé, que ficava junto do Xipamanine, Mafalala, Benfica, Mahotas, etc, sempre foi muito mais racialmente diversificado. Não era preciso ler o Craveirinha para perceber isto. Era assim quando eu cresci na LM dos anos 60 e inicio dos anos 70. Eu conhecia gente lá, passeava lá, estudei no Liceu António Enes (que agora, como não podia deixar de ser, tem outro nome que não me lembro) que ficava no Alto Maé.

    7. O que nos traz à fotografia. Sabes que não sou nem filósofo nem sociólogo a não ser nas horas vagas. Mas dedico algum tempo a ler e analisar algumas coisas do passado moçambicano e até ontem não tinha visto a foto nem tinha ouvido falar nesta escola. Mas vindo de onde venho e de quando venho, genuinamente achei curioso constatar que a melhor – a única – escola privada da cidade de Lourenço Marques nos anos 30 do século XX tinha uma tal mistura racial. Eu sei que em muitos aspectos era típico do seu passado, até à “invasão branca” de Lourenço Marques dos anos 50 e 60.

    Ou seja, ao comentar a fotografia, eu estava a comentá-la no contexto a) da actual “conventional wisdom” sempre tão politicamente correcta a bradar o anti-racialismo onde quer que ele surja (e acho muito bem excepto quando se tenta objectivamente estudar e entender o passado) e b) e ainda face à minha própria experiência. Em que, como muitos, a tanto de nobre e de infame assisti.

    Não estava a tentar nem dourar a pílula colonial, nem a ser politicamente correcto, nem a sugerir que Moçambique era um bastião da harmonia racial. Não foi, não é, nem há-de ser nos próximos cem anos.

    Mas a percepção de que o branco andava de chapéu de côco com um chicote a bater no preto é absolutamente patético.

    E acho que é por isso que alguém como o Sr. 1B, que do muito pouco que depreendi nasceu e cresceu quase no meio do mato nas profundezas do Luabo, às vezes têm, sob o habitual risco de pessoas como tu rapidamente puxarem o rótulo (simpático, diga-se) de “colonoracistasaudosistaencampotado”, de chamar a tenção para o facto de que aquilo antigamente não era uma muralha instransponível de apartheid com o branco de chicote, etc. Como sistema o que os portugueses inventaram em África era uma merda. Mas não era assim.

    A vantagem de fotografias como esta, sabes, é que falam por si.

    E esta diz muito.

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    Comentar por ABM — 22/10/2009 @ 2:31 pm

    • Eu fui aluno em meados dos anos 60 da Escola Especial. Recordo-me muito bem de vários principios que aí apreendi e que ainda hoje os pratico. O Director era o Sr. Malveiro. Fui colega do neto dele

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      Comentar por Rafael da Graça — 27/08/2012 @ 11:02 am

      • O neto “Papi”, hoje com 84 anos ??? Edmundo Mendonça Pereira…ainda vivo a viver em Setúbal e com facebook (…) Meu pai… ou eu, com 57 anos e que fiz a 4ª classe na Escola Especial. (?) sempre tratei o meu padrinho por avô Malveiro…qual dos dois fomos colegas do Rafael da Graça?? Um bem haja, como é bom reviver e recordar…

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        Comentar por Edmundo Pereira — 28/05/2016 @ 3:22 am

  4. 1. Longe de mim dar-te lições de bloguismo. Mas acho que reincides no defeito de deixares belos “posts” na caixa de comentários.

    2. Vamos a ver: o meu comentário é explícito, não tem o subtexto que lhe quiseste dar. Vim aqui comentar o teu post (e nao o comentário de 1B) para dizer aquilo. Repara: os meus irmãos fizeram o liceu em Lisboa nos anos 60, eles no Camões ela no Filipa, que aquilo não era misto. Eles, mais velhos, tinham um autorização escrita, sufragada em casa, para se aproximarem do liceu da mana, coisa que os outros rapazes estavam proibidos, para a ir buscar, [rezam as crónicas familiares que o objectivo das suas aparições não era exactamente esse, mas enfim …]. Eu andei no Valsassina desde 1968 até 1977. Era um colégio masculino até 1974, quando começaram a entrar raparigas para a 1a classe.

    Quando aumentei esta foto e a vi reparei que a escola era mista, parecendo que as alunas são todas mais novas. Deduzi que estaria a ser introduzido o ensino misto – daí elas serem AINDA mais novas – ou então que lhes seria dado (às meninas) uma educação mais rudimentar, com menos amplitude. E achei interessante, ainda para mais porque imediatamente comparei com os exemplares que referi, bem mais tardios, no Portugal continental. Que quereria dizer isto, sob o ponto de vista pedagógico-cultural da tal elite laurentina de então, e até sob o ponto de vista político?

    O meu olhar levou-me para ali. O teu olhou para a mescla racial. E é uma constante no olhar dos ex-habitantes aqui – professando eles diversas matrizes de leitura do passado (ainda que mais explícitas de alguns prismas do que outros)

    Este era o meu ponto inicial. Claro que o comentário de 1B – que, e náo apoucando a visão individual, é recorrente, implicando a presença constante da leitura do primeiro Gilberto Freyre nos dias de hoje (ainda vive no epíteto e prática lusófona estatal, quanto mais nas mentes das pessoas) – pode implicar outras reflexóes como as que tens, e aqui deixas.

    Num sentido algo complementar gostaria de deixar duas auto-referências. Na categoria “postais de moçambique” estáo indicadas umas interessantes (ainda que nao fantasticamente impressas) edições de postais por parte da activa Escola Portuguesa de Moçambique, dedicadas a velhas escolas do período colonial (se não as tens vou ver se ainda te posso arranjar), onde a tal miscelânea racial (ainda que mitigada) surge representada -tinha uma dimensão ideológica, com toda a certeza, corresponderia também aos processos de estratificação social local via assimilação, claro, mas corresponderia também a dinâmicas de inicial massificação educacional e a concomitantes concepção do dever (e quiçá optiimsmo) pedagógico – nem todos seriam como o teu “simpático” professor.

    Por outro lado verás aí no “Antropologia” uma referencia a um livro do antropólogo brasileiro de origem britànica Peter Fry – o livro é fundamentalmente dedicado a discutir o neo-racialismo brasileiro e a importação dos modelos americanos (é muito interessante e clarividente) mas tem alguns artigos fantásticos sobre Moçambique. Um dos quais ecoando a sua primeira experiÈncia, ainda no tempo colonial, jovem antropologo entao britanico vindo da entao Rodésia e confrontado com a diferença comportamental em Moçambique. E, o que é interessante, como essa menor barreira racial comportamental levava os restantes europeus a desvalorizarem portugueses, seu colonialismo, sua competència e dimensão civilizacional. E, não posso deixar de pensar, como essa desvalorização assente num superavit racista alimentou o marxismo saxónico (e até francófono) na desvalorização das formações coloniais portuguesas (parece um contrasenso mas nao é, e agora estou a referir-me aos tais experts de capulana vestidos que referiste noutra caixa de comentários).

    Claro que não é preciso ir ler o Fry para entender a pluralidade das dinàmicasa entre-raciais nas colónias europeias e, neste caso, portuguesas. Mas é um texto fantástico, principalmente pela condição nacional-cultural do locutor e da reflexao quarenta anos depois que estabelece (e da sua extrema qualidade, já agora).

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    Comentar por jpt — 22/10/2009 @ 4:19 pm

  5. Para dizer que sou moçambicano, vivo em Moçambique, conheço o ABM e perceber que alguém possa considerá-lo antigo colono é de uma imensa violência.

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    Comentar por Espinhoso — 22/10/2009 @ 5:20 pm

  6. Bom, vou ser muito claro.

    Não tenho o arcabouço intelectual, nem do Sr.ABM, nem do JPT.
    Barra pesada!

    Entendo o JPT, mas o Sr. ABM rematou/concluiu muito bem:
    “A vantagem de fotografias como esta, sabes, é que falam por si. E esta diz muito.”
    É um documento, uma prova, uma radiografia de uma micro-realidade, certo.
    Mas existe, está registada, e não foi manipulada, retocada…(nem ninguém o sugeriu).
    Aquilo não foi 8, nem 80.
    Cada um viveu uma realidade diferente. Conforme os tempos, e locais que habitava.
    E bastava mudar de zona étnica, para tudo ser diferente.

    Muitas vezes não basta contextualizar, explicar, é preciso mesmo mostrar – e é precisamente o que a fotografia vale – é um documento (vale o que queiramos, mas existe…e fala!)

    3 irmãos meus, mais velhos, tiveram que vir estudar para a Metrópole, simplesmente porque no Luabo de então, nem sequer escola havia, pública, quanto mais particular…no mato?

    Quanto ao Colono, com letra bem grande, Colono, tenho um grande orgulho em ter sido Colono em Moçambique.
    Ofendido ficaria se me chamassem colonialista.

    Grandes vultos da minha História, da História de Portugal, foram Colonos.

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    Comentar por umBhalane — 22/10/2009 @ 8:00 pm

  7. Obrigado, JPT.
    Fez-me lembrar uma história:
    A minha mulher é branca. 1985. A minha filha chega da escola primária e em visível pânico, a chorar, pergunta:
    – Mãe, tu és colona?

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    Comentar por espinhoso — 22/10/2009 @ 8:12 pm

  8. Boa noite a todos

    Li atentamente os vossos comentários e preocupa-me pensar que a todos entendo.

    Impressionante e impressionado pelo polido regateio colectivo acima reproduzido. Cansa e exalta ao mesmo tempo. Faz-me lembrar os anos da universidade, em que andava à estalada com toda a gente. No bom sentido, claro. Mas aqui estou sentado sózinho num quarto fechado com uma lâmpada daquelas de poupar energia, a meio da noite, a tentar encontrar as teclas…só mas em companhia.

    Sr 1B não se impressione com a minha pretensa erudição. Posso dizer que me impressiona a sua e me sinto privilegiado com a sua atenção. A verdade é que com a idade – não, a vivência – cada vez mais sinto que sei muito sobre nada. Sei umas coisas e com elas faço alguns malabrismos, jogando a lucidez e a lógica contra a emoção e toneladas de informação. Prefiro sempre que vença a lucidez e a lógica e quanto à emoção prefiro sofrer em silêncio. Há tanto para sofrer. Felizmente, sofro menos pois aprendi de miudo e aperfeiçoei com a vida americana uns conceito básicos: 1. devemos ter sempre objectivos na vida; 2. devemos sempre olhar para o futuro em detrimento do passado, a não ser que esse passado nos ensine algo, 3. devemos procurar nunca nunca desistir desses objectivos, 4. e como diz a frase trabalhe como se não precisasse de dinheiro, ame como se nunca tivesse sido magoado, dance como se ningém estivesse a olhar. 5. e finalmente, “tomorrow is another day” 🙂

    O Sr Espinhoso conhece-me. Sendo assumidamente apegado a Moçambique, não me choca ser português – pertenço a toda uma geração onde para alguns isto é de certa forma um pleonasmo. Apesar de estar a desaparecer rapidamente, há ainda uma dimensão cultural e psicológica no “ser português” que extravasa este país. Em parte por isso me rotulei para este blogue como o penúltimo filho do Império. Só me choca ter que sê-lo por decreto e por força das circunstâncias.

    JPT, até há poucas semanas nunca fiz isto. Não tenho a destreza, a técnica, os truques. O bebé antes de andar tem que saber andar de gatas.

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    Comentar por ABM — 23/10/2009 @ 4:26 am

  9. (comentário em copy/past, que já tou taralhoco! 😦 )

    …..

    eu lembro-me da Escola Especial. perto do 28 de Maio, numa esquina. perto, o Judo Clube e o Aga Khan. e a casa da Alice, a pitinha mais bonita de LM.

    por dias/horas “tive lá aulas”. eu andaria ainda na João de Deus – escola primária, junto às maravilhosas barreiras. a minha mãe, então, fez lá uns tempos (”dias”/”horas”?) como auxiliar. refeitório, limpezas, essas cenas. às vezes ia com ela, ou melhor dizendo saía da João de Deus e ia ter com ela – não é muito longe. e, para me ocuparem, deixavam-me assistir às aulas.

    mais tarde vi a Alice e deixei de olhar para esse lado da rua. mais tarde ainda esqueci a Alice e regalava-me com os torneios de judo. mas no Aga Khan nunca entrei, lapso cultural.

    boa zona essa do 28 de Maio. e “terra natal” do Zeca Russo, se a memória não está totalmente carunchosa

    😉

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    Comentar por cg — 25/10/2009 @ 7:56 am

  10. JPT

    Quando eu estava a falar de penúltimo filho do Império referia-me ao IV e não ao V do Fernando Pessoa. Ser-se português em Paris, Londres ou Nova Iorque em 2009 não é bem o mesmo que o ter sido nos nove pedaços que Portugal administrou até 1975.

    A recorrente emigração portuguesa é o pefeito testemunho da falência do modelo social e económico português dos últimos 35 anos. Eu não sou de Portugal por isso para mim é mais ou menos igual ao litro mas ser português, nascer e crescer aqui e depois achar que se está melhor noutro país qualquer porque o país não tem oportunidades é no mínimo triste. Especialmente estes dias em que Portugal está à beira de uma verdadeira crise populacional de que não sei como vai resolver. Vai ser – já está a ser – uma hecatombe.

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    Comentar por ABM — 27/10/2009 @ 12:46 am

  11. há um blog dentro do blog. neste, o esqueleto que justifica e explica a carne e a pele

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    Comentar por cg — 27/10/2009 @ 3:25 am

  12. Tenho esta mesma fotografia da Escola Especial, uma vez que o meu pai também está na foto, que está em bastante bom estado se quiser posso enviá-la para o seu mail.

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    Comentar por José Soares — 16/08/2010 @ 8:58 pm

  13. Hummm! que bom ver os ex-estudantes da Escola Especial a trocarem as suas ideias. Contudo dizer que ha que respeitar as ideias e o sentido do outro.
    tambem fui aluno da Escola Especial na decada 70.
    Lembro-me que a Sra Ilda e o Sr Malverna deram-me muita porrada (mas valeu a pena). na minha sala eramos dois negritos. Mas volto a dizer: A porrada com a palmatoria feita de madeira, valeu a pena. Pena e nao ter as fotografias daquela epoca.

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    Comentar por Anastacio Massango — 10/06/2013 @ 11:42 am

    • Também nasci em Lourenço Marques e andei sim na Escola Especial em 1944/1945 com a Sra. Dª. Ilda e o Sr. Malveiro. Era bastante miuda mas lembro com saudade daquele tempo. Tenho pena de não ter fotos da altura em que lá estudei. Obrigada por terem trazido esta admirável reliquia. Maria Amália Ferreira de Almeida.

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      Comentar por Maria Amália Paiva Ferreira de Almeida — 09/04/2014 @ 6:40 pm

    • Provavelmente fomos colegas, da escola, na carteira. Rimos, brincamos e apanhamos juntos. Ainda sinto nas mãos as reguadas por não saber a história de Portugal, os reis, os rios e pelos erros dos ditados. Ali não havia cor nem raça, quem tinha que apanhar apanhava e doía para caraças…lições de vida, como gostava de encontrar aqui antigos colegas, em 1970 eu andaria na 4ª classe ou 3ª, penso…

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      Comentar por Edmundo Pereira (filho) — 31/05/2016 @ 9:53 am

  14. Estudei nesta escola, aqui fiz a minha instrução primária. Os proprietários foram Edmundo dos Santos Barbosa Malveiro e Ilda Gomes Vicente Malveiro, ambos professores primários, viveram num anexo contiguo às salas de aula da escola. O professor faleceu e foi enterrado em Maputo, vitima de cancro. Ambos assumiram a nacionalidade moçambicana quando da independência. A Dª Ilda veio a falecer em Setúbal depois de ter sido vitima de Alzheimer, está sepultada no cemitério de Algeruz nesta cidade sadina, foi para aqui trazida por um afilhado (Papi – hoje com 84 anos – meu pai) que ao saber da sua doença e porque a senhora estava em Maputo sem família, a foi buscar para aqui terminar os seus dias com alguma da pouca dignidade que a doença então lhe conferiu. A escola situa-se na 24 de Julho com a antiga João de Deus, com a independência passou a ser a escola francesa, julgo que ainda hoje o seja. Tinha dois funcionários moçambicanos de quem guardo grande saudade, o “Daniel” e o “Romão”.. Muitas mais histórias guarda este casal de professores. A exemplo: – Edmundo dos Santos Barbosa Malveiro foi colega de Álvaro Cunhal no técnico em Lisboa..por causa das suas veias revolucionárias (ambos), um exilou e o outro foi “recambiado” para Moçambique. É com grande saudade que recordo alguns desses nobres momentos, a mim transmitidos e outros por mim vividos. O meu pai foi adoptado por esta família, cresceu nesta escola e viveu com os pais do professor (Avó Angelina e Avô Araújo). A única avó que verdadeiramente tive, a minha sempre e eterna “avó Angelina” e “avô Araújo”.,ela beirã e ele alentejano. Muito mais teria aqui para contar, histórias verdadeiras e carregadas de simbolismo. Um bem haja a todos!

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    Comentar por Edmundo Pereira — 28/05/2016 @ 3:14 am

    • Caro Edmundo, Foi com imensa nostalgia que li a sua carta. Conheci bem o Sr, Malveiro e a Dª Ilda bem como a Dª Angelina e o Sr Araujo que moravam na primeira casa da Rua Pateque em Lourenço Marques. Conheci o Papi também muito bem e tive a honra de ter sido admitida na Escola Especial em Lourenço Marques aonde estudei. Eu própria vivi em criança na Vila Pateque na casa quasi em frente a Dª. Palmira Valentim o Tio Chico Valentim (marido) o Zé Bento, Zé Valentim e o Orlando. Não me recordo do numero da porta mas de algumas pessoas que lá moravam na mesma altura. Os César de Sá (Octavio, Belita e Marcelo) os Amorins e muitos mais e eramos uma familia. O meu pai era Virgilio Ferreira, funcionario dos Armazens Gerais e a minha mãe Amélia que era dona de casa. O meu irmão Vito e eu Malinha (Amália) como me chamavam. Não sei se o Papi ainda se lembra de mim pois teria uma diferença de 6 anos (mais velho) mas recordo todos com imensa saudade. Bem haja por ter trazido uma lufada de ar fresco com estaws lembranças do passado. Felicidades para todos vós. Maria Amália Paiva Ferreira (Almeida por casamento).

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      Comentar por Amália de Almeida — 31/05/2016 @ 2:58 pm

      • Olá Dª Amália, fico feliz em saber que ainda há quem se lembre daqueles tempos, daquelas lindas pessoas (apesar das reguadas na nossa escola primária…), daquela nossa linda terra, dos seus “cheiros”, das suas gentes. Vim com 15 anos (hoje 57), lembro-me de muita coisa, está tudo bem presente na minha memória, outras porque me foram transmitidas ainda aqui estão sem as esquecer. A Vila Pateque foi uma referência, aí foi criado o meu pai, com a avó Angelina e o avô Malveiro, conheço algumas dessas lindas vivências de que fala aqui … O meu pai “Papi” ainda está aqui para as curvas, até facebook tem…:sempre na vanguarda das novas tecnologias! Vou pô-lo ao corrente da nossa conversa. Um bem haja para a Senhora e família. Momentos que não esquecemos, obrigado por ter participado. Desejo-lhe um Feliz Natal!

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        Comentar por Edmundo Pereira — 09/12/2016 @ 7:43 am

      • Bem haja por me ter dado um pouco da minha infância. O Papi (assim foi sempre conhecido) era companheiro das brincadeiras apesar de termos 5 anos de diferença pois moravamos ambos na Vila Pateque. Lembro sempre o Casal Malveiro com grande amizade bem como a Dª Angelina e marido. Bons tempos Edmundo!! Um abraço ao Papi!! Bom Natal e um excelente 2017.

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        Comentar por Amália de Almeida — 09/12/2016 @ 8:52 am

    • Olá mais uma vez Dª Amália. O mundo é pequeno, muito pequeno mesmo… Acabo de estar com o meu pai que me diz lembrar-se perfeitamente de toda a sua família, muito, muito bem. O fotografo do casamento do meu pai foi o seu irmão Vito Ferreira (casado c a Lourdes)…ainda aqui está comigo mais um dos jovens do seu tempo Victor Ferreira, que também é vosso conhecido, a esposa é a Mitó…o número de telefone do meu pai é 265553408 – diz que gostaria muito de vos reaver, convida-vos para um almoço em Setúbal. O Papi ainda acrescenta aqui ao tema, as festas (bailes do 1º Maio) – como não poderia deixar de ser; e que o nº da vossa porta seria o 11 ou 15 (???) andará lá perto..? Só um “acrescento à malandreco” aqui o meu velhote diz que a Senhora sempre foi muito bonita (?) claro que estou interessado em saber se é verdade (???) e para isso cá contamos convosco para um almocinho em Setúbal, aguardo confirmação (adoro caril)…estou a gostar muito deste bocadinho, afinal esta turminha não se vê para aí há uns quarenta anos, mais que tempo para se reencontrarem…. Esperamos um vosso contacto e um bem haja do fundo do coração (diz o meu pai) algo que corroboro

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      Comentar por Edmundo — 09/12/2016 @ 11:20 am

      • Amigo Edmundo,
        O nosso agradecimento pelo convite ao almocinho em Setubal. Seria excelente voltarmos a encontrar-nos depois destes anos todos. Porém o meu irmão Vito, á beira dos 94 anos não está já para saídas de casa e só dá um passeio com a minha cunhada á roda da casa. Estamos em Quarteira no Algarve. O Vito tinha uma foto aqui desde 1977 e trespassou-a quando fez 80 anos pois já era muito para a idade dele. A Lurdes também está reformada dos Serviços Notariais e eles têm filhos gémeos já com 63 anos. Eu também caminho pela terceira idade e agradeço ao Papi o “piropo” mas diga-lhe que “já era”……..Tomei nota do numero de telefone e vou falar á Lurdes na vossa amabilidade porque o Vito começa a ter dificuldade em conhecer as pessoas normalissimo na idade avançada que já tem. Recordei com saudade os bailes do 1º de Maio onde éramos assíduos, Quanto ao Victor Ferreira e Mitó assim de repente não me lembro. Quanto ao numero da nossa casa era de facto a 11 e ainda lá moramos bastantes anos. Eu fui para a Escola Especial com 5 anos porque fugi de casa com os livros debaixo do braço e queria por força ir para a escola e a minha mãe levou-me á Dª Ilda na Escola Especial que me aceitou na 1ª classe. Se não estou em erro seria no ano de 1943 ou 1944(?). Até parecia que queria estudar para doutora mas afinal fiquei pelo secretariado e reformei-me há perto de 6 anos.Obrigada querido amigo pelas suas noticias que a minha cunhada vai delirar pois lembra-se de todos e mais ujm… Um abraço ao Papi de todos nós e quem sabe, vocês não vêm até estas bandas. O meu numero de telefone é 289 301559. Se decidirem vir até cá abaixo digam. Boas Festas para todos vós. Maria Amália.

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        Comentar por Amália de Almeida — 09/12/2016 @ 4:23 pm

      • Há histórias bonitas, daquelas que nos marcam, pela grandeza do momento, pela simplicidade ou por mero acaso, comovem. Estou encantado com a “vossa/nossa” história, 94 anos do seu irmão, as suas fotos, as amarguras da idade, a família….que riqueza de momento! O meu pai vai contactar-vos, muito obrigado Dª Amália, como é bom partilhar. Despeço-me com um beijinho e desejo de Feliz e Santo Natal.

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        Comentar por Edmundo Pereira — 10/12/2016 @ 4:12 pm

  15. Chamo-me Edmundo Guerreiro Pereira (57 anos), meu pai Edmundo Mendonça Pereira (Papi) hoje com 84 anos e a viver em Setúbal – Portugal. Edmundo Malveiro foi meu avô por “adopção”, padrinho do meu pai e também padrinho da minha irmã. Muitos pensam que éramos uma família de sangue mas não, apesar de assim nos considerarmos e assim pretendermos ser reconhecidos. O amor que ainda hoje sinto pelo meu avô Edmundo dos Santos Barbosa Malveiro é enorme, pela minha madrinha Ilda é gratificante. Mas a história é muito mais complexa e rica de conteúdos… no entanto, tanto eu como o meu pai fomos alunos da escola especial e apanhamos umas valentes reguadas, principalmente pelos erros de ditado…a Dª Ilda Gomes Vicente Malveiro, faleceu em Setúbal, onde viveu o resto da sua vida com os meus pais em sua casa. Alzheimer foi a sua doença terminal. Um bem haja a todos

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    Comentar por Edmundo Pereira (filho) — 31/05/2016 @ 10:08 am

  16. andei nessa escola mais o meu irmão. da pré até à 4ª classe. lembro-me bem do sr. Malveira ao portão de manhã à nossa espera, já não tinha dentes e não usava placa, passava o tempo a morder as bochecas por dentro. era bem alto e magro. a esposa era uma senhora toda bem-posta, com aqueles penteados dos anos sessenta. ambos residiam na própria escola. só tinha mulheres como professoras, tinham que ser casadas e com filhos, dizia ele que as solteiras sem filhos descarregavam as frustrações nos alunos. tenho muitas boas lembranças dele. nunca me deu reguadas nas mãos, dava-me umas palmadas no rabo. tenho muito boas lembranças deles os dois.

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    Comentar por Joao Silva — 25/10/2017 @ 3:13 pm


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