THE DELAGOA BAY REVIEW

19/01/2010

NO SOFÁ COM A FILHA DO ELECTRICISTA DA MATOLA

por ABM (Cascais, 19 de Janeiro de 2010)

A minha recensão de Caderno de Memórias Coloniais, escrito por Isabela Figueiredo.

Introdução

De entre a publicação de textos bio e autobiográficos – ou “memoriais” – que se têm e vão publicando sobre a África de língua oficial portuguesa, antes e depois das independências, há que referir que se tem visto pouco e um pouco de tudo.

No caso de Moçambique, com poucas excepções, essas manifestações têm sido, desde talvez a primeira, Moçambique, Terra Queimada (redigida pelo enigmático Eng. Jorge Jardim, logo em 1976) de índole essencialmente, ou principalmente, política e/ou social. Isso tem ocorrido quer em Portugal, quer em Moçambique, quer, em tempos na África do Sul, onde alguns trabalhos importantes e interessantes têm sido publicados. Trabalhos como o de João Cabrita, Jacinto Veloso, Uria Simango, Adelino Serras Pires, Ricardo Saavedra e outros, alguns dos quais têm sido referidos neste blogue.

Mas, reconhecidamente, enormes lacunas permanecem por explorar de entre os diferentes pontos de vista possíveis e os protagonistas dessas histórias. Com algumas raras excepções, a abordagem por escrito – ou publicada – configura um quase total muro de silêncio sobre esse passado.

O que é curioso, dada a relativa relevância do assunto para as pessoas tocadas pelo assunto da presença portuguesa naquele território entre 1890 e 1975 – peculiarmente designados em Portugal como “retornados” – e em especial nos quarenta anos entre 1958 e 1995, quatro décadas em que se operaram mudanças radicais em Moçambique.

Recorde-se que nesse período de quatro décadas, observou-se a formação de uma resistência organizada e militar ao regime português em Moçambique e o início de uma guerra de guerrilhas no Norte do território, o pronunciamento militar em Lisboa em Abril de 1974, o aumento das tensões até Setembro, o anúncio do Acordo de Lusaka e os subsequentes eventos em Lourenço Marques entre Setembro e Outubro, na sequência dos quais iniciou-se a saída da esmagadora maioria dos portugueses e brancos (e de muitos moçambicanos) daquele território, a independência sob a égide da liderança da Frente de Libertação de Moçambique e a implantação de um regime marxista-leninista de linha dura, suportado pelos países da cortina de ferro enquanto a economia entrou em rápido declínio, se assistiu ao surgimento de conflitos com a Rodésia de Ian Smith (a que se seguiu a implantação de um regime de maioria negra liderado por Robert Mugabe) e a África do Sul de John Vorster. Assistiu-se de seguida ao início do que se veio a tornar numa guerra civil sangrenta, suportada pelo regime sul-africano, e, finalmente, ocorreu a renúncia formal, pelo regime moçambicano, ao marxismo-leninismo, a morte de Samora Machel e, já após a queda do muro de Berlim, a libertação de Nelson Mandela, o Acordo de paz em Roma que marcou o fim da guerra civil em Moçambique, seguido pela negociação e implantação de um regime democrático na África do Sul.

Em termos editoriais, esse interesse tem-se revelado, ainda que efemeramente, principalmente em Portugal, onde se apercebe uma audiência, essencialmente não académica, se não tanto com interesse neste tópico na globalidade, pelo menos com o interesse e suficientes números para justificar (no caso de Angola também) as sucessivas edições de livros de história e ilustrações gráficas com sucesso comercial – de que se distinguem os trabalhos de João Loureiro e Moderno Tropical (Ana Magalhães e Inês Gonçalves) uma recente edição fotográfica em hardcover, sobre a arquitectura moderna nos antigos territórios portugueses, ao custo de 40 euros cada cópia.

No campo da análise e do debate em redor dos últimos anos da administração portuguesa de Moçambique, das circunstâncias que levaram à independência do país em Junho de 1975 e os anos que se seguiram, as poucas visões e opiniões publicadas têm sido  habitualmente marcadas por posicionamentos ideológicos e controvérsia.

Em Moçambique, compreensivelmente, essas posições manifestam-se tipicamente algo anti-portuguesas, anti-coloniais e críticas do sistema vigente até à independência, promotoras do “heroicismo libertador”e da criação de um “novo Moçambique”, a partir das cinzas do velho Moçambique, erradicando, nalguns casos literalmente, qualquer vestígio desse passado, dessa influência e dessa presença.

Em Portugal, publicaram-se obras mais académicas ou de análise político-estratégica, mas poucas, e quanto a biografias e memórias por parte dos antigos residentes, cujas experiências quer em Moçambique quer subsequentemente nos destinos para onde foram residir poderão ter interesse humano e histórico, senão literário, o silêncio tem sido quase absoluto.

Nesta complexa dialéctica, degladiam-se visões contrastantes e desenvolve-se, a certo nível, uma luta pela “verdade”, em que se assistem a esforços mútuos e sucessivos de branqueamento do que era e do que aconteceu. O branqueamento, por parte de alguns dos brancos/portugueses, de quão ofensivo podia ser e em muitos casos foi em geral, o sistema e a sociedade antes da independência; o branqueamento do que foi a ditadura comunista e a hostilidade para com os brancos e portugueses e principalmente para com os moçambicanos (de que destaco mulatos, indianos, etc) em Moçambique logo após a independência e nos anos que se seguiram; o branqueamento, em Portugal, da simples realidade de que em 1974 os poderes constituídos, com a quase total indiferença ou a aprovação tácita da população, pura e simplesmente abandonaram à sua sorte centenas de milhares de famílias portuguesas e moçambicanas e os seus descendentes, muitos já sem raízes em Portugal, a milhares de quilómetros de distância, completamente à mercê dos arbítrios de jovens guerrilheiros marxistas-leninistas tornados líderes governamentais, constituídos em ditadura. O branqueamento do facto de que se vivia em Portugal uma ditadura com quatro décadas, e que sobre toda a realidade colonial se sobrepunha essa maior realidade, aceite ou imposta de que, como disse Oliveira Salazar, “a Nação não se discute”. O branqueamento, finalmente, do facto que o projecto colonial nunca foi nem era per se dos “colonos” nem que estes nunca foram os seus principais beneficiários (como aliás se viu posteriormente): bem ou mal, com mais ou menos democracia, este era o projecto centenário de uma nação europeia, que falhou em constatar no que se passava no mundo e, numa das suas horas de mudança mais cruciais, em lidar condignamente com o fim previsível do capítulo colonial, e em assumir os custos dessa retirada em sangue e em dinheiro – e tomar conta dos que supostamente eram os seus.

Não há nesta história heróis nem criminosos. Quando muito, apostou-se num projecto e num ideal que acabaram mal. E muitos sofreram, em todas as partes, principalmente os agora cidadãos dos países que alguns gostam de referir serem nossos irmãos, cabendo a esta e as próximas gerações sararem as feridas que se mantêm abertas.

Se por mais nenhuma outra  forma, fatalmente, o tempo, o distanciamento e a morte dos seus protagonistas de tal se encarregarão. Já está a acontecer.

Ficará a luta pela verdade.

O Caderno de Memórias Coloniais

É neste contexto global que, com base em várias peças colocadas na imprensa nos últimos dias, surgiu recentemente a publicação, por uma obscura editora sediada em Coimbra, de uma obra soi disant de cariz memorialista, intitulada Caderno de Memórias Colóniais (aqui, CMC), pela mão de Isabela Figueiredo, uma ex-jornalista e professora portuguesa, nascida na actual Maputo em 1963, que cresceu no maior anonimato na Matola desse período e que deixou Moçambique definitivamente com 12 anos, a 22 de Novembro de 1975, para não mais voltar.

Há vinte anos, publicara uma obra, também sobre o tema africano colonial, premiada, mas de que hoje não reza a história.

O seu relato, em formato de uma sequência de textos numerados, cobre o que supostamente viu e sentiu entre os sete e os doze anos de idade.

O Tema de CMC Segundo a Crítica e a Autora

A acreditar pelos textos e entrevistas de Fernanda Câncio, uma articulista do Diário de Notícias, de Eduardo Pitta, um intelectual e poeta de origem moçambicana na revista Ler (transcrito para um blogue com o mesmo nome), de Francisco José Viegas, e de Alexandra Prado Coelho num suplemento do Público, os temas desta obra seriam, mais ou menos por esta ordem, o passado pessoal da autora e um diálogo post-mortem com o pai racista, uma caracterização sua do racismo da sociedade lourenço-marquina entre 1970 (quando efectivamente a autora inicia no seu texto o fio à meada, assumidamente biográfica) e o assumir de um estatuto de “retornada” já em Portugal e no final dos anos 70, com vários comentários feitos com referências posteriores.

À cautela, há algumas nuances no que surge através dos comentários e afirmações feitas nas entrevistas, quer da autora, quer dos seus comentadores.

Sobre CMC, Eduardo Pitta referiu no seu texto na Ler que, apesar de uma certa abundância de informação sobre o período, “faltava, porém, um relato na primeira pessoa. Foi isso que fez Isabela Figueiredo (…), sem poupar nos detalhes”, considerando que CMC “é uma obra imprescindível para compreender o sentido (ou sem sentido) da nossa presença em África”.

Na sua peça, publicada no DN no dia 9 de Janeiro de 2010, Fernanda Câncio refere que CMC “é uma carta de amor a um pai racista”(…)“é a história de uma retornada que assume o racismo português” que “desfaz o postal da África colonial mitificada”. Cita a autora, segundo a qual “comecei a escrever e a gostar do que estava a escrever. Achei que estava a sair bem, Com ternura mas também com violência. Claro que tenho medo de ser mal interpretada. Mas sinto muito alívio. Libertei-me de um fardo que carreguei comigo a vida toda.” O fardo? Ela prossegue: “a verdade é que nós vivíamos num país onde se podia atropelar um negro e não ir para a prisão”.

Câncio refere que a autora foi mais longe: “houve uma espécie de justiça nos massacres dos brancos. Mesmo se ela sabe que quando em Setembro de 1974 mataram famílias conhecidas à catanada, espalhando-lhes os restos pelas machambas, animais e pessoas, tudo o que era branco, à mistura, só por sorte inaudita ela e os pais não fizeram parte das contas”. E cita novamente a autora: “nós não podiamos dar-nos com os pretos e tudo o que eu queria era dar-me com eles”.

Inescapável, o tema do pai, em que Câncio refere o seguinte; “o homem enorme que a pegava ao colo e a levava para todo o lado, para as obras onde era electricista e onde dirigia “os seus muitos pretos” e os agredia com palavras e porrada, para as tardes de camarão grelhado e penalties com os outros homens em que aprendeu a linguagem do racismo, (…). À laia de explicação para a sua escrita, a autora refere a Câncio “tinha de gostar dos meus pais e ao mesmo tempo lidar bem com a minha consciência”.

Na sua peça, Francisco José Viegas, autor do romance Lourenço Marques, considera que CMC é “um dos livros mais tentadores da estação”. E ainda que a autora “é rápida no gatilho, escreve muito, muito bem – melhor do que todos os rendilhados que andam por aí, em súplicas desatendidas.”

Na entrevista com Alexandra Prado Coelho no Público, a autora referiu razões e motivações por detrás da obra, Cita-se abaixo, e na primeira voz.

Sobre o contexto em que escreve a obra, são de relevo, para se entender a obra:

“Foi preciso esperar muito tempo, que o meu pai morresse, que eu fizesse o luto dele, que fizesse uma série de anos de psicanálise, para ter vontade de escrever o que está aí. São coisas que precisava de dizer”

Sobre o assassínio de portugueses e brancos em Setembro de 1974:

“Quando foram os massacres que se seguiram à independência compreendi que era a justa retribuição.”

Sobre a sua solidão e conhecimento da realidade que a rodeava:

“O que acontece é que eu não tinha autorização para brincar com outras crianças, era muito protegida pelos meus pais, provavelmente por ter sido uma filha tardia. Vivia muito encerrada com a minha mãe em casa.”

Sobre o pai e a realidade sobre a qual escreveu:

“O meu pai foi um mediador entre mim e a realidade. Eu conhecia a realidade através dele e do mundo que ele trazia até mim. Portanto só posso culpar o meu pai. O colonialismo é o meu pai, a discriminação é o meu pai, porque foi o meu pai que eu vi fazer isso. Eu andava sempre com ele. Ele gostava muito de mim, levava-me para todo o lado.”

E ainda:

“Acho que nunca falei verdadeiramente com o meu pai sobre como ele me decepcionou por ser um racista.”

E ainda:

“Porque é que eu bato tanto no meu pai aqui? É pela questão do abandono? Não, é porque ele foi mesmo um grande filho da mãe. E porque fez coisas que não devia ter feito, porque as fez à minha frente, porque me magoou, e porque eu nunca lhe disse isso directamente e devia ter dito. E se digo com alguma violência é porque essa violência ainda não está totalmente gasta.”

Finalmente, mais um comentário extra-livro que ajude o leitor talvez a melhor entender o que escreveu:

“Fico muito zangada sempre que vou a uma livraria e sou confrontada com um livro sobre essa imagem [idílica de África] – e depois começo a ler como era bom comer papaia, e como tínhamos uns criados que tratavamos muito bem, e como as roupinhas dos nossos filhos iam todas para eles. Acredito que haja pessoas que não tenham participado activamente em acções destas [de discriminação e violência], mas foram cúmplices, como na Alemanha.”

Presume-se que a autora acima se refere às pessoas que viveram na Alemanha Nazi.

A Crítica

Stritu factu, com alguma sobreposição em alguns dos temas acima relevados, depois de uma leitura atenta dos textos de CMC, e pedindo desculpas a alguns exmos leitores que já o referiram, e pelo que nalguns casos já referi eu próprio, acredito que o tema central desta obra não é o colonialismo na Lourenço Marques colonial. Nem tanto a natureza impia do racismo colonial na velha Lourenço Marques. Nem nehuma confrontação titânica com pesadas consciências sobre um passado supostamente tenebroso.

Este livro não é sobre a experiência colonial de centenas de milhares de pessoas que viveram em África entre 1960 e 1974 e os milhões de moçambicanos que, a breve trecho, bem ou mal, integraram um Moçambique soberano e independente.

Não são as memórias de uma menina simpática e inocente que cresce e apreende a beleza e o amor que a rodeiam num mundo hostil e que não compreende. Não é o Bonjour Tristesse de uma Françoise Sagan.

Nem é sobre algum vislumbre de empatia e solidariedade com o destino e a miséria e a exploração e a humilhação a que muitos moçambicanos negros (os poucos que a autora refere ter visto na sua caixinha de loucuras) tiveram que se sujeitar perante a prepotência racista e neurótica de gente como os seus pais – e que ainda hoje, quarenta anos depois de independência, ocasionalmente se vê, nem sempre alinhada em termos de raça ou cultura, pelo contrário.

Só quem não conhece, só quem não sabe, só quem é que não vê, é que não percebe.

Não.

Este livro é principalmente, quase unicamente, sobre ódio puro e destilado entre duas figuras trágicas. Entre dois monstros horríveis.

É um discurso sintetizado e coisificado de dois seres perturbados, limado ao longo dos anos, em que, morta uma das partes, e não tendo havido uma tão apetecida catarse, foi, para o consolo e consumo egoísta e algo psicótico da parte remanescente, cuspido para o papel, que agora é apresentado, sob a pretensa forma de “arte”.

Quase tudo o resto é apenas, em pano de fundo colonial, um estratagema, um exercício de exibicionismo, um vulgar drag show para mostrar que gosta de chocar, que não se importa de chocar, que não tem barreiras, que pode gritar o que quiser. Os “pretos” aqui são apenas marionetes da tragicomédia, E nós pagamos o bilhete de entrada. Eu paguei.

O primeiro e principal monstro, é a autora, tão obviamente perturbada, tão quixotescamente transfigurada numa menina loira, delicada e sensível com sete, dez anos de idade (acredite quem quiser) que supostamente vivia fechada numa verdadeira caixa de horrores escondida numa Matola (então) distante, bucólica e rural, e que, com o único fito de tentar chocar e surpreender de uma maneira ou outra o leitor completamente desprevenido (nenhum dos críticos citados parece minimamente perturbado pela forma e conteúdo do que aborda, homenagem lhes seja feita), desfere, ataca, arranha, grita, insulta, achincalha, rasga quase tudo e todos. Nada lhe escapa, nem, no fim, especialmente, ela. Obcecada pelo sexo, obcecada pela raça, uma voyeur politicamente correcta do ocaso do Império. Os brancos são lixo. Os negros não são nada. Para ela a vida aos sete, oito, nove dez anos de idade, é uma orgia pérfida de revolta e sedução, em doses iguais, naquela casinha perdida na Matola.

A abordagem não impressiona por um segundo. Se o relato era verdade, era caso de polícia. Se é apenas literatura memorialista, aprende-se muito pouco. Talvez apenas que, em qualquer comunidade, incluindo as coloniais, há extremos que devem ser exorcizados. Não vão as criancinhas acabar assim, patologias por resolver.

Tudo isto embrulhado numa prosa ridícula que é de uma tal pobreza, de uma tal falta de graça, de contexto, de sustentabilidade intelectual, de equilíbrio emocional, que desafiam a inteligência e a sensibilidade de quem como eu teve o rasgo de, avisado, comprar o que só posso qualificar como o pior conjunto de verborreia pretensamente sobre a era colonial em Moçambique que jamais vi. Aquilo é um desatino em cadeia. Esta obra não é uma memória. É a memória de um grito lancinante de ódio contra um pai em relação a quem havia muito e quiçá omitido, unfinished business.

A exploração, a miséria, o racismo generalizado, o tal pano de fundo em que surpreendentemente tão diligentemente circula e que tanto faz por pintar que parte o pincel, com a excepção rara de foder o filho do vizinho preto na Matola, de cujo nome não recorda, ao contrário do idiota do Luisinho branco (ah mas este tem nome) que por cima dela se deitou.

Ainda por cima a autora tem o gáudio de, à propos,  vir referir que está convencida de que é muito boa a escrever. Que tem algo para nos dizer de especial. Que dos seus insanes, vulgares, pirotécnicos regorgitares sobre a sua aparentemente doentia e psicótica, sexualmente perturbada versão luso-tropical de Voando Sobre um Ninho de Cucos em cenário colonial, está a fazer literatura. Literatura memorialista.

Ai sim?

Mas naturalmente: ganhou um prémio qualquer em 1988 (há 21 anos) e enquanto olhava para ele na prateleria em sua casa, ficou a perceber que, se mais nada saberia fazer na vida para além de nutrir um impenitente, incontido, incontível, ingerível, inexorcizável ódio pelo pai, “apercebeu-se” que o que escrevia tinha alguma qualidade. E como no júri em 1988 estavam a Agustina, o Dinis e a Ondina, que lhe deram o único grande, inebriante prazer na vida – o de um elogiozinho e de umas palavras de encorajamento que a posteriori só posso qualificar de tragicamente equivocados – e depois de uns test flights assistidos por meia dúzia de aficcionados num blogue perdido na internet, achou por bem presentear o seu veneno destilado ao público. E como a Fernanda aplaudiu, e o Eduardo Pitta condescendeu, e o Francisco Viegas recomendou – isto é mais do que bom.

É três vezes bom.

Só pode. Pois quem somos nós os outros para julgar poder apreciar?

A outra figura trágica deste compilar de ódios generalizados, com ressalvas, pois é apenas protagonizado pela sua mão, é o (defunto) pai, cuja relação com a filha – a fazer-se uma leitura atenta – está no centro de uma vasta, doentia, distorcida,  forma de apreender a realidade e de lidar com ela. Por essa lente disforme, com uma ajudazinha da mãe na casa da Matola, tudo capta na inocência dos seus reputados e cristalinos sete, oito anitos de idade. A inocência na gaveta. Como o pai era um racista encartado (filha dixit) logo todos os brancos, toda a cidade branca, era como ele. Como o pai tinha desvarios, assim era tudo o resto. O pai, o corpo do pai, o cheiro do pai, o músculo do pai, o não sei quê do pai….

Convém um voo rasante para o exmo leitor se poder inteirar do sabor dos textos de que falo e do ambiente deste Ninho de Cucos da Matola:

Breve excerto do texto 2: “Os brancos iam às pretas. As pretas eram todas iguais e eles não distinguiam a Madalena Xinguile da Emília Cachamba (…) As pretas tinham a cona larga, diziam as mulheres dos brancos (…) A das brancas não, era estreita, porque as brancas não eram umas cadelas fáceis, porque a cona sagrada das brancas só lá tinha chegado o do marido (…) As pretas não eram sérias, as pretas tinham a cona larga, as pretas gemiam alto, porque as cadelas gostavam daquilo. Não valiam nada”.

Início do Texto 3, supostamente sobre a sexualidade do pai dela e a dela, tema favorito para quem ainda não percebeu: “Foder. O meu pai gostava de foder. Eu nunca vi mas via-se. “. E mais adiante, “Quando o meu pai me levantava no ar como se fosse uma coisa, ou me transportava às cavalitas, sentia-me fraca perante a força total, dominada, possuída por ele”. Mais tarde, no texto 24: “Sem me ensinar, o meu pai iniciava-me no prazer que já havia despontado com o estranho fogo do meu padrinho”. No Texto 28, para equilibrar, anuncia que “a Domingas foi quem me masturbou pela primeira vez”.

Hum.

No texto 4, esta pérola, que para variar repete duas vezes, referindo-se à cidade de Lourenço Marques “…era um enorme campo de concentração de negros sem identidade, sem a propriedade do seu corpo, sem existência”.

Tópico do Texto 5: The first fuck (a da autora com o tal de Luisinho – branco – sete anos de idade, mal explicado, pai descobre e dá-lhe um enxerto de pancada) e que começa assim, para variar: “Foder. Essa descoberta tornou-se algo que me envergonhava e desejava”.

No texto 10: Mais sexo. “Quase” engravida do “filho do vizinho preto”. Aos dez anos de idade.

No texto 11: “… o olhar dos negros, nunca fica, para os colonos, isento de culpa: olhar um branco, de frente, era provocação directa; baixar os olhos, admissão de culpa. Se um negro corria, tinha acabado de roubar; se caminhava devagar, procurava o que roubar.”

No texto 14: Sobre a Marília, a quem a autora dá uma bofetaba mas que, como ela era branca e a Marília mulata, a Marília engoliu e calou-se. Isto na Escola Especial em Lourenço Marques.

No texto 17, sobre a guerra no Norte e as tropas portuguesas: “Também havia soldados pretos. Faziam-nos comandos, para irem à frente e morrerem primeiro; assim se poupava um branco. Que os pretos morressem na guerra era mal menor. Era lá entre eles”.

Há 16 páginas às voltas com a saída de Moçambique em 1975 (textos  de 29 a 33). Medíocre.

No texto 34 há um parágrafo inteiro, que constitui o segundo parágrafo inteiro, do texto de Fernanda Câncio no DN. Alguém se esqueceu de pôr lá as aspazinhas e fiquei a pensar que era da autoria de Câncio. Afinal era da autora. E aqui vai: “Todos os lados possuem uma verdade indesmentível. Nada a fazer. Presos na sua certeza absoluta, nenhum admitirá a mentira que edificou para caminhar sem culpa ou caminhar, apenas. Para conseguir dormir, acordar, comer, trabalhar. Para continuar. Há inocentes-inocentes e inocentes-culpados. Há tantas vítimas entre os inocentes-inocentes como entre os inocentes-culpados. Há vítimas-vítimas e vítimas-culpados. Entre as vítimas há carrascos. “

Texto 40: quatro páginas sobre o corpo do pai. As pernas, a barriga, etc. Fico sem palavras.

Texto 41: agora é a vez de alguém que vem por via da mãe, uma mulher, que terá dito, já “retornada”, cito “ Os negros, os cabrões, os filhos da puta. Vim de lá há um ano. Nunca deixei que me faltassem ao respeito. Chamavam-me mamã, chamavam-me tia, e eu dizia-lhes não sou tua mãe, que eu não sou puta. Nem tia, ó meu cabrão. E não me assaltas que eu não sou branca e estrangeira e ponho a polícia atrás de ti, meu escarumba de merda.”

Perto do final, um texto indicado como post chamado Fígado de Porco refere-se ao primeiro aborto que a autora fez, não se sabe quando. Parece que o que saiu pareceu-lhe fígado de porco. Mas este já é tema extra-colonial, é uma espécie de bónus. Não indica quem a pôs assim.

E no meio do texto 41, o que para mim é o grand finale, o que a autora, na sua análise, destila disto tudo: “Um branco que viveu o colonialismo será um branco que viveu o colonialismo até ao dia da morte. E toda a minha verdade é para eles uma traição. Estas palavras, uma traição. Uma afronta à memória do meu pai. Mas com a memória do meu pai podemos bem os dois.”

Tirem-me deste filme doentio.

E como exorcismo merecido, leia-se Noémia de Sousa, José Craveirinha, Mia Couto, Luis Bernardo Honwana, Luis Carlos Patraquim, Calane da Silva, Albino Magaia, Nelson Saúte, Ungulani Baka Kosa, António Pinto de Abreu, Leite de Vasconcelos, Paulina Chiziane, José Eduardo Agualusa. E, last but not least, Carlos Serra. E o meu irmão Amâncio Miguel.

São gente que demonstra que, por mais que todos os electricistas da Matola houvessem atentado contra a dignidade de um povo, por mais humilhações por que tenha passado, ele superou e ressurgiu forte e sorridente.

Quanto aos “retornados”, deixe-os em paz. Eles têm as suas histórias, que não são estas.

São outras.

102 comentários »

  1. subscrevo inteiramente a sua leitura e os seus comentários. Pqp
    Isto deve ter sido um caso de incesto ela é que não contou tudo. Virá daí o aborto? e o segundo terá sido o livro?

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    Comentar por JL — 19/01/2010 @ 10:22 pm

  2. Sr. ABM,
    Que análise límpida, introdução contextualizada, emoção objectivada.
    Gostei do tom, gostei do arranjo, gostei da articulação, do argumento, do contra-argumento.
    Gostei principalmente quando desmonta o discurso contraditório da autora, “vivia fechada em casa com a mãe” ou “andava com o pai para todo o lado?”.
    Não li i livro, não faço intenção de o ler – não se enquadra nas minhas prioridades de momento – por isso mais nada posso acrescentar.
    Mas dou-lhe os parabéns pelo lençol que li ávidamente de tão bem escrito que está.
    É precisamente o que me faz voltar sempre a este espaço: o tom e a qualidade da escrita, independentemente dos argumentos utilizados.
    Esteve muito bem, ABM.

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    Comentar por VA — 20/01/2010 @ 12:27 am

  3. Obrigado pela objectividade. Não fica nada de essencial por dizer.

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    Comentar por Rui M. P. — 20/01/2010 @ 12:54 am

  4. Eu, por acaso, gostei do livro de Isabela Figueiredo. Não posso dizer que o que é descrito corresponde à verdade histórica — não estive lá, nada vi, tão-pouco era nascido. Mas parece-me que ela nunca enganou ninguém: são as suas memórias, a visão de uma rapariga de 12 anos — pessoais, portanto. Mas, por acaso, já ouvi testemunhos de pessoas que lá estiveram que corroboram o que Isabela Figueiredo descreve no livro, assim como ouvi pessoas que garantem que nada corresponde à verdade.
    Contudo, parece-me que há um limite que não deveria, nunca, ser ultrapassado: o do respeito. O seu texto é, por mais de uma vez, insultuoso para a autora. Criticar o livro é normal; insultar a autora é lamentável. E já nem falo do primeiro comentário ao seu ‘post’, que classifico de execrável. Pelos vistos, o ódio não é um exclusivo de Isabela.

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    Comentar por Carlos Azevedo — 20/01/2010 @ 1:31 am

  5. A Isabela, se é sincera e não espalhafato para vender, tem que evitar de generalizar se tornar a falar de retornados.

    1º há vários tipos de retornados.

    Aqueles que como ela, nasceram lá e alguns já com mais de uma geração. Esses, brancos ou mestiços, ou se relacionavam bem com os indigenas, ou então tinham muitos problemas sociais e pessoais. O que era raro acontecer.

    Havia Aqueles que foram para lá de novos, e que viviam exclusivamente na cidade e que alem do criado, praticamente nem se relacionavam com indigenas, portanto nem os tratariam nem bem nem mal.

    E havia os comerciantes e os que como o pai dele lidavam em pleno com os indígenas, e das duas uma, ou tratavam decentemente esse pessoal e tinham sucesso, ou caso contrário seriam um fracasso.

    Claro que como em qualque circunstância só arranjamos atritos com quem lidamos.

    Mas esse problema fica com quem o pratica e ninguem tem que assumir as dores desse alguem.

    Já bastou ouvir as baboseiras mais incríveis de quem nunca saiu daqui e atribuia tantos crimes aos retornados que se chegou a misturar relatos da escravatura para as américas, durante comícios da “abrilada”, que o povo ignorante chegava a ficar na dúvida se eram os retornados a fazer aquilo.

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    Comentar por Retornado de Angola — 20/01/2010 @ 2:04 am

  6. Análise a reter. Sugiro que graciosamente a envie à Sra. Dª Fernanda Câncio.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 20/01/2010 @ 2:34 am

  7. Faço minhas as palavras de RMP.

    CA tenho aqui defendido o direito ao insulto (e até já o pratiquei). Evoluí o meu pensamento sobre a questão: há mesmo o dever do insulto. Refiro-o no sentido de que não concordo consigo na negação da possibilidade e legitimidade de exercermos o insulto. Agora isso é uma coisa outra é encontrar insultos à autora neste texto do ABM. Se o meu caro se der ao trabalho poderia identificá-los? Pois em meu entender é uma profunda injustiça o que está a afirmar. Cumprimentos

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    Comentar por jpt — 20/01/2010 @ 6:31 am

  8. Essa coisa de dizer que ainda não era nascido, bla,bla,bla,… não colhe.

    Todos nós não éramos nascidos ao tempo de Afonso Henriques, João II, Carlos I, … e muitos mesmo, já, ao tempo de Salazar, e para ser inclusivo (onde é que já ouvi isto), Cunhal.

    E os “bons pensantes” enchem a boca de fascismos, e outros ismos…

    Não colhe essa. Porque me fazem lembrar os comunas e afins, perante as trágicas evidências escancaradas que o mundo comprovou aquando do desmoronamento do império comuno-fascista totalitário da URSS (com imensas colónias e Povos subjugados, oprimidos, torturados, concentrados, nomeadamente na Sibéria, fresquinha!).

    Esses “intelectuais”, únicos detentores da “verdade” e da “cultura”, tiveram o desplante de vir dizer que “desconheciam” o que lá se passava – na URSS, e seu império colonial.

    Somos livres, e devemos ter opinião, qualquer que ela seja – mas com higiene mental. Só.

    Quanto ao termo “retornado” tenho uma reclamação a apresentar – sendo inteiramente, totalmente, para o mal e para o bem, identificável com os “retornados”, venho solicitar a V. Exas. o uso do neo-identificativo, ENTORNADO.

    ENTORNADO – para os que “lá” nasceram.

    Espera deferimento.

    A bem da Nação

    umBhalane

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    Comentar por umBhalane — 20/01/2010 @ 10:38 am

  9. Grande post caro ABM! Que folego!

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    Comentar por Lowlander — 20/01/2010 @ 11:27 am

  10. Post excelente. Parabéns.

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    Comentar por Pitucha — 20/01/2010 @ 1:10 pm

  11. Antes de mais, uma correcção ao texto de ABM: atribui à mãe de Isabela uma frase que foi proferida, penso, por uma tia (quando refere o texto 41 do CMC).

    Ao JPT:
    Na minha opinião, escrever:
    ««Este livro é principalmente, quase unicamente, sobre ódio puro e destilado entre duas figuras trágicas. Entre dois monstros horríveis»
    e
    «Que dos seus insanes, vulgares, pirotécnicos regorgitares sobre a sua aparentemente doentia e psicótica, sexualmente perturbada versão luso-tropical de Voando Sobre um Ninho de Cucos em cenário colonial, está a fazer literatura»
    não é crítica, mas sim achincalhamento pessoal (ou, como referi antes, insultar).
    Quanto ao primeiro comentário ao texto de ABM, ecrito por JL, dispenso-me de explicar por que razão o considero insultuoso.

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    Comentar por Carlos Azevedo — 20/01/2010 @ 1:41 pm

  12. CA grato pela resposta: 1) não me referi ao comentário de JL, os comentários não são responsabilidade nossa. Nao os apagamos – mesmo quando somos nós os insultados. Aí é óbvio o insulto. Confesso o meu incómodo: não com o insulto, repito que o acho um direito. Mas desagrada-me o insulto em casa alheia, em particular quando anónimo (assim não responsabilizável); 2. Sobre as citações que refere, aí estou em desacordo sobre o sentido de “insulto”. A propósito de um texto literário [e repare que estou a utlizar o conceito não distraidamente] referir que as personagens em causa (reais, pois autobiográficas) sáo “figuras trágicas/monstros horríveis” nao padece de insulto (ainda para mais sobre um texto que, ao que parece, apresenta uma delas literalmente como um monstro horrível); sobre a segunda citação idem. Discordo – uma afirmação de radical incompetencia pode ser contestada (radicalmente) mas não é um insulto. A sensibilidade alheia (em particular a da própria) poderia/á entender isso, mas nao há mais do que uma conclusao sobre as forças motrizes da escrita.

    cumprimentos

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    Comentar por jpt — 20/01/2010 @ 2:01 pm

  13. Sr CA

    Agradeço a chamada de atenção e já corrigi o texto: a frase é atribuída a alguém, uma mulher, que vem por via da mãe. Mas nada no texto indica que é uma tia.

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    Comentar por ABM — 20/01/2010 @ 2:37 pm

  14. Claro que insultei a senhora dona Isabela (escritora). O direito à indignação e ao insulto assiste-me na mesma medida que ela se permite insultar todos os retornados e outros que assim são catalogados mesmo não o sendo. E se ela me insulta, me generaliza, me inclui porque não posso fazer o mesmo? só porque acham que ela é uma emergente escritora?
    Não corroboro, acho o livro e a narrativa medíocres mais me parece uma soap da TVI. Mas isso até faz vender. QUe venda muitos então.
    Não tenho nada a ver com os litígios, com os recalcamentos da senhora por isso não me posso deixar de de sentir-me insultado.
    E não sou anónimo, chamo-me Jorge Leite e sou moçambicano na diáspora.
    E não tenho pachorra para pseudo intelectuais defensores da moral pública e de senhoras indefesas.

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    Comentar por JL — 20/01/2010 @ 3:46 pm

  15. Bem vistas as coisas, o Jorge Leite diz aquilo que verdadeiramente sempre esteve em causa. O facto da Sra. Dª IF ter uma estranha relação com o pai – nem sequer valerá a pena remoer as sugestões que se encontram nas entrelinhas -, não implica que extrapole o seu desastroso ambiente “familiar” a toda uma comunidade que jamais conheceu. Aliás, as contradições amontoam-se ao longo de todo o relato.
    Fogo de vista da geringonça oficial. Um favorzinho prestado a gente bem conhecida.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 20/01/2010 @ 3:56 pm

  16. JL desculpe-me, eu devia tê-lo reconhecido, “velho” companheiro aqui. Quanto ao pqp, como bem sabe, não é coisa que eu aqui renegue (às vezes, concedo, até exageradamente, para mal dos meus pecados)

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    Comentar por jpt — 20/01/2010 @ 4:05 pm

  17. > No texto 11: “… o olhar dos negros, nunca fica, para os colonos, isento de culpa: olhar um branco, de frente, era provocação directa; baixar os olhos, admissão de culpa. Se um negro corria, tinha acabado de roubar; se caminhava devagar, procurava o que roubar.”

    Na tradição africana baixar os olhos é sinal de respeito, não necessariamente “admissão de culpa”.

    João Cabrita
    Mbabane, Suazilândia

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    Comentar por João Cabrita — 20/01/2010 @ 4:51 pm

  18. Para quem está “de fora” como eu (nunca aqui havia vivido, não tive família “retornada”) a leitura destas memórias é muito menos (ou quasi-nada) emotiva. Mas o que me irrita é o “confusionismo” provocado pela retórica. Do que aqui percebo é que a construção destas memórias é radicalmente um a posteriori (as memórias são-no sempre, mas em o sendo tèm alguns limites. Aliás, mesmo as do Braz Cubas teriam esses limites), um a posteriori construído não só sobre uma profunda ignorància veiculadora de determinado tipo de lugares comuns provenientes de um determinado tipo de politicamente correcto, uma ignorancia que quer ser ignorante, que faz finca-pé encapotada na vontade de ser diversa, “rebelde” (agressora de lugares comuns). Contrariamente ao que poderia ser aventado isto produz, também, um efeito de “desconhecimento”, um véu sobre a realidade.

    A mim irrita-me particularmente (irritava-me em blog) pois muito do que a autora afirma (parte do seu “manifesto”´) é-me simpático: o silêncio sobre as relações coloniais em Portugal é grande (Margarido falou do “luto colonial” portuguès que levava a esse silèncio, longo), o mito do lusotropicalismo é perene, as imagens, livros, etcs sobre a nostalgia colonial, a beleza de Africa, o tão bem que nos os tratávamos, tudo isso também me irrita, pois apagador do passado e mitificador do presente. Mas as generalizações de sinal contrário, mesmo que acompanhados do aplauso literato (em particular acompanhadas) têm o mesmo sinal silenciador, de produção de lugares comuns, de desconhecimento. E multi-irritantes, no assento da arrogancia politicamente correcta.

    Veio-me este arrazoado às teclas a propósito deste comentário do João Cabrita. Claro que o entrecruzar de olhares tem múltiplos sentidos. Claro que as relações sociais entre brancos e negros (inter-raciais, para utilizar a categoria) eram díspares (disparatadas) e racistas. Mas um mero olhar? Eu passei algum tempo a ensinar a minha filha criança a olhar nos olhos as pessoas, em particular quando se lhes dirige (“obrigada”, “por favor”, “bom dia”, etc.), regra normal de boa-educação para o meu meio. E muito particular quando fala com empregados (casa, hotel, restaurante, escola, onde ela contacta). Até que, de súbito, percebi que a estava a educar para ser mal-educada. Ou, melhor, a tratar de igual para igual pessoas basto mais velhas.

    Pequenas nuances, nao particularmente preocupantes (ninguém se ofende porque uma miuda de 4 ou 5 anos lhe diz “obrigada” olhando-o/a de frente), mas que servem para explicitar, julgo, que “escrever muito bem”, como diz o fjv, pode servir apenas para escrever mal. E, repito, acima de tudo para escrever construções ideologicamente aposteristicas apresentadas como rescaldos vivenciais.

    E tudo isto a propósito de uma “troca de olhares”

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    Comentar por jpt — 20/01/2010 @ 5:29 pm

  19. Recado ao Joao Cabrita: Joao perdi o seu contacto e fico muito contente de o ver por aqui. Mande-me por favor um email para o meu endereco que vem indicado sob a opcao Ujaama Editorial no menu no topo da pagina.
    Os outros leitores desculpem-me, mas nao posso deixar passar esta oportunidade para reatar contacto com um velho amigo.
    Quanto ao resto, ja comentei noutros posts e nada mais tenho a acrescentar pois nao li ainda o livro. Vou le-lo em breve; continuo a gostar do blog da autora e quanto mais criticas leio mais a admiro pela coragem que teve em expor-se da maneira que o fez. Continuo, portanto, a assistir de palanque como soe dizer-se.

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    Comentar por AL — 20/01/2010 @ 5:36 pm

  20. Náo faz mal AL, “a gente” gosta de ti na mesma

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    Comentar por jpt — 20/01/2010 @ 5:58 pm

  21. Tambem era so o que faltava! Que nao gostassem! 🙂

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    Comentar por AL — 20/01/2010 @ 6:05 pm

  22. Caro ABM e JPT
    Com este post/crítica, não me fico calada e assumindo a deliciosa descrição feita acima pelo umBhalane, aqui vos escrevo como “entornada”.

    1. Pelos comentários feitos à data, vejo que se existe “insulto” vejo-o nas palavras da autora mais que não seja pela forma como se refere às “pitas das pretas” (não pretendo nem chocar nem angariar público) creio que o discurso não é apropriado.

    2. Não sou escritora, doutorada em literatura ou jornalista, mas não “sinto” pelos textos aqui lidos uma fluência literária digna a TODOS os envolvidos.

    3. Enquanto mulher que sou, sinto nas palavras da autora uma profunda dor, quiça, abuso e por essa razão, haja coragem sim de falar no corpo do pai como fala, ou do seu próprio.

    4.Mãe que sou, fiquei arrepiadamente chocada pela descrição que faz do aborto. Tento retirar aprendizado daí, mas não consigo. A sua condição fetal está profundamente distorcida. Fígado de porco?

    5.Enquanto “entornada” que sou e levarei Moçambique para o resto da minha vida, não vejo que haja uma séria abordagem ao contexto histórico per si, mas as memórias da autora são as dela. Há que no entanto ter sensibilidade para o que realmente aconteceu. E aí há do pior e há do melhor de todas as partes, Moçambicano, Português, branco, preto, mulato, indiano. Porque não se falam nos Russos?

    6.J Cabrita fala no respeito do baixar os olhos com razão, como o é dois homens darem a mão ou não se passar no meio de duas pessoas, entre tantos outros.

    Por fim, vejo nas palavras da autora um profundo exorcismo mas remetido a si mesma, ao seu pai à sua mãe. Nunca ao passado histórico que une ou desune estes dois países e estas duas identidades.

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    Comentar por marta reprezas — 20/01/2010 @ 6:27 pm

  23. Amigo ABM,
    Adorei tudo o que escreves, no entranto não concordo com o insulto.
    Mas plenamente de acordo com a mentitra da forma como viviamos “Branco e Pretos”.
    Fiquei a saber que havia outra forma de viver…..
    Claro nós estamos noutra zona de Lourenço Marques.
    Mas é de facto muito estranho, nunca fui racista.
    Terá sido pela nossa educação, meu pai respeitáva o preto como um ser humano…..
    Isso faz toda a diferença……
    ABM, mais uma vez estás de parabéns…………..

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    Comentar por jaime santos — 20/01/2010 @ 7:36 pm

  24. JPT, admito que, no limite, qualificar algo como insulto poderá ser uma questão de sensibilidade – e eu encarei as expressões que citei como tal. Nunca sugeri que apagassem comentários; limitei-me a dizer que o primeiro comentário era insultuoso para a autora. Um abraço.

    Quanto a ser um ‘pseudo-intelectual defensor da moral pública e de senhoras indefesas’ (presumo que as palavras de JL eram dirigidas à minha pessoa), apenas 2 observações: (1) não me importava de ser um pseudo-intelectual – infelizmente, nem isso sou; (2) com o feitio que Isabela aparenta ter – não a conheço – mas depressa necessitava eu da defesa dela do que o inverso.

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    Comentar por Carlos Azevedo — 20/01/2010 @ 8:04 pm

  25. antes, disse o que acho que devia dizer. ou quase. agora….

    CLAP, CLAP, CLAP!!!!

    parabéns, ABM!

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    Comentar por cg — 20/01/2010 @ 8:08 pm

  26. Grato pela sugestão. Li a recensão, não li nem tenciono ler o livro. Estou na terra de ninguém e sobre isso escrevi vários textos nos meus blogs e um poema: Raízes! Não tenho fantasmas nem preciso de fazer exorcismos.
    Abraço
    Victor Nogueira

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    Comentar por Victor Nogueira — 21/01/2010 @ 1:23 am

  27. Em tempo – Sobre Angola acabei de ler dois livros
    1) História de Angola, de Wheller Douglas e Pélissier, René, Edição Tinta da China, Lisboa, 2009
    2)A Purga de Angola – o 27 de Maio de 1977, de Mateus, Dalila Cabrita e Mateus, Álvaro, Texto Editora, Lisboa, 2009.
    Considero o primeiro um trabalho sério, que me permitiu enquadrar muitos acontecimentos recentes, já que os anteriores a 1974 eram do meu conhecimento como estudioso. Quanto ao 2º, vale o que vale, sendo pouco para quem se pretende investigadora social com galões. Trata-se duma visão a meu ver parcelar da realidade mas que explica o rumo que Angola tomou!
    E «prontus», aqui fica em retribuição o meu contributo.
    Victor Nogueira

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    Comentar por Victor Nogueira — 21/01/2010 @ 1:36 am

  28. Sr. ABM

    Parabéns pelo seu comentário que ansiosamente aguardava.Coitada da Isabela e dos seus ( do Abm) quinze euros.

    Espero um dia ler mais comentários sobre o colonialismo português, para que a história não diga que ele nunca existiu ou o considere de “brandos costumes”. Aceite o desafio e procure a verdade,como manifestamente defende. Sob ” o manto diáfano da fantasia”?

    Saudações

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    Comentar por joana padrel — 21/01/2010 @ 1:40 am

  29. Todos os dias leio, ouço, que o colonialismo Romano, a colonização Romana, com tudo o que ela comportou – massacres, escravatura, genocídio, pontes e estradas, aquedutos e banhos quentes (higiene), ah, o Direito (as leis), a administração, a língua uniformizada, …- foram o “máximo” – bons colonialistas/imperialistas.

    Depois chegaram, sem qualquer ordem cronológica, pretos, brancos, e árabes a comandar – de novo guerras, conquistas, incêndios de cidades, escravatura (os árabes são doidos por mulheres brancas – e quem não é?) e não desdenham “meninos”, as castrações, a incorporação como carne para canhão em terras distantes, ah, a álgebra, a agricultura que os bárbaros já tinham esquecido como se fazia no tempo dos outros senhores, os Romanos – e também o “máximo” foram – bons colonialistas/imperialistas.

    É sina dos Portugueses que tudo o que é estrangeiro é bom – incluindo os vários colonialismos sofridos – e não os relatei todos.

    De facto estou em crer, sou induzido, quase que obrigado a assimilar, que os Portugueses só servem para criados em “Parises” – subalternos apenas, nem iguais!

    Claro que fomos conquistadores, expansionistas, colonialistas incompetentes, burros até dizer chega, do pior que no mundo há/houve – somos os piores, carago!

    Mas, por onde passamos ficaram muitos pretos, falando só de África, e muitas etnias/nações pretas devem a sua existência física e cultural aos Portugueses que impediram o seu “correcto” extermínio.

    E atrevo-me a perguntar aos “entendidos”, “sapientes”, o que foi feito dos pretos do norte de África – da tal conhecida África Branca (dos Árabes)?

    E o que está a ser feito no Sudão/Darfur?

    E na Austrália com os Aborígenes?

    E nos USA com os Índios?

    E com os outros Índios do Castelhano Império?

    E na RASD, Sahara?

    E…?

    Na contribuição alimentar dos Portugueses para África, como muito bem reconhece Ki-Zerbo, e que muito contribuiu para a explosão demográfica da população africana, debelando fomes permanentes!

    E da construção de Estados/Pátrias, e suas infra-estruturas (uniformização linguística, usos, costumes, técnicas várias de desenvolvimento, campanhas de vacinação, estudos profundas de botânica, pecuária, zoologia – a dita civilização -“ninguém” fala, escreve?!

    Podíamos ter feito mais e melhor?
    Sim, certamente que sim.
    Mas esse é um velho problema de Portugal, de sempre, de hoje, bem actual.

    As velhas canções, as de sempre também, de escárnio “e só” maldizer.
    “Velhos do Restelo” que bebericavam aguardentes, enquanto escarravam para o chão nas tascas ribeirinhas, vendo as caravelas de homens empreendedores, com iniciativa, com missão, à mistura com assassinos e degredados, comerciantes e aventureiros ávidos de lucros, prelados sem muita convicção, ou com muito pouca, pensando também na algibeira como convém, arruinados da sorte, “meninas” e órfãs do reino, etc, etc. – mas seguramente muito melhores que os bolorentos, imobilizados, pantanosos, putrefactos “velhos do restelo” que deixaram abundante geração de “serventes”, como se constata nos dias de hoje.

    E o caricato é que, como se comprova e muito bem, se vem constantemente penalizar as gerações, precisamente as últimas das últimas, as que mais contribuíram para o desenvolvimentos dos territórios que administramos – sim, porque se algo foi feito nesses territórios, esse esforço muito tardio, esse desenvolvimento alforriado (e por quem?) foi efectuado por estas 2, 3 últimas gerações, às quais tenho a sublime honra de pertencer.

    E foi construído por aqueles que lá estiveram. Só.

    E Salazar, Caetano, Tenreiro, e outros, não foram retornados, entornados,…

    Mas não os renego, assim como não renego Cunhal, até mesmo, e pasme-se, Soares e Santos, Crespo, Rosa Coutinho, Saraiva(s), Gonçalves,…, Andeiros, Vasconcelos, …, em suma, não rego a minha história colectiva.

    Compreendo os órfãos soviéticos, derrotados da história, não de batalhas que também as perdi, mas derrotados da guerra, da súmula de todas as batalhas.

    Compreendo o seu desespero, o ruir dos seus sonhos, a falência e implosão dos seus modelos estruturais, …

    Mas não aceito a sua constante duplicidade, mimetismo, prostituição mental, o tirar o rabo da seringa!

    Houve imperialismo, expansionismo, conquistas, colonialismo, colonização,… Portuguesa.
    Sim, e ainda bem que a houve.

    E se tudo isso, essa gesta, se resume a colonialismo, então, com firme orgulho e convicção, sou

    COLONIALISTA.

    Antes isso que “soviético”, livra!

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    Comentar por umBhalane — 21/01/2010 @ 12:14 pm

  30. «E como exorcismo merecido, leia-se Noémia de Sousa, José Craveirinha, Mia Couto, Luis Bernardo Honwana, Luis Carlos Patraquim, Calane da Silva, Albino Magaia, Nelson Saúte, Ungulani Baka Kosa, António Pinto de Abreu, Leite de Vasconcelos, Paulina Chiziane, José Eduardo Agualusa (…)».

    ABM, fiquei com curiosidade de ler o teu «irmão».
    Abraço,
    IO

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    Comentar por IO — 21/01/2010 @ 1:11 pm

  31. Caro umBhalane

    Não o conheço, mas pelas suas palavras aqui deixadas, “entornadas” neste post acima já o respeito sem condição, pelo saber que nos empresta. Gratuitamente 🙂

    Ontem ouvi a entrevista feita a esta autora e fiquei ainda mais convicta do que “senti” nas palavras que li e nas que ouvi. Total e extremada contradição.

    Falei também com meu pai, ele próprio uma fazedor de história à sua maneira em África enviado pelos Portugueses e depois regressado pelos seus próprios pés e ele diz com razão “todos têm direito a dizer ou a escrever o que quiserem”, haja a liberdade. “Mas dad, as pessoas que vão ler este livro vão “achar”, “pensar” que foi assim (quando se calhar há na certeza testemunhos mais crueis entre raças)” responde “filha, daqui a um mês ninguém se lembra ou fala na Isabela”. E temo, concordar com ele neste ponto.

    Mas fica aqui pelo menos o feito conseguido visceralmente pela Dª. Isabela, o reunir, o debater, o concordar ou discordar de uma história, comum a tantos nós, uns mais dorida que outros.

    Certo é que não há como fugir às decisões das potências do fim da 2ª grande guerra mundial e delas pariram as independências das suas colónias com neutralidade ou não, com maior ou menor visão comercial (porque era essa a importância das colónias certo?) e Portugal em si não esteve fora desse contexto ou alienado das movimentações naturais da história.

    Vejo mais silêncio na ferida hitleraniana pelos franceses (para não falar nos judeus óbvio!) do que nesta “ferida” que portugal e áfrica partilham. Penso que isto só possa advir dos laços culturais criados e isso é merecedor também de menção, pela positiva.

    Desde ontem adquiri um estatuto novíssimo e que me fartei de rir abraçando-o com carinho

    Esta sua
    Entornada 🙂
    (nascida em Angola, na guerra mas foi em Moçambique que passei mais de metade da minha vida e lá plantei uma árvore na Av. da Cultura!)

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    Comentar por marta reprezas — 21/01/2010 @ 1:22 pm

  32. Infelizmente ainda nao li o livro, mas pergunto-me se, nao fosse o livro da Isabel festejado como o fim do silêncio sobre o passado colonial e anunciado como a verdade finalmente revelada (e nisto das verdades acho que conhecemos todos os seus limites; naturais, especialmente se sao memórias e ainda por cima da infância; artificiais, se se passa das memórias a um livro), teria escrito uma crítica tao avassaladora.

    A autora faz a parte dela no “falar finalmente disto” como se fosse o fim de um silêncio geral, mas acho que nunca promete uma verdade absoluta e nunca deixa de contar que esta é a história dela e do pai.

    Na minha experiência literária, assumidamente reduzida, uma pessoa pode ser muito perturbada, muito desiquilibrada e ter claras obsessoes, medos, fobias e traumas, e escrever livros excelentes. Aliás, essa é uma parte da experiência humana que sempre foi retratada na literatura e tenho grandes dúvidas de que possa ser retratada com fidelidade por alguém que nao a tenha pelo menos sentido. Um livro sobre “ódio puro e destilado entre duas figuras trágicas” pode à partida ser excelente.

    De resto, tendo a concordar com o Carlos Azevedo, o seu texto é vagamente insultuoso (mesmo se eu concordo com alguns reparos sobre a escrita, que conheço do blogue). Claro que é difícil criticar uma personagem que também é uma autora e claro que deve poder-se fazê-lo. Mas no seu texto passa a vida a tentar apanhá-la numa mentira. Uma menina acredita, num contecto de educaçao sexual nula, que pode ficar grávida por brincar com um menino. Como ela só tem dez anos, é mentira. Uma menina explica que sai de casa na companhia do pai e no restante tempo está fechada em casa com a mae. Vê logo uma contradiçao. E isto sem entrar pelo incesto…

    O que me parece é que há aqui um ressentimento por alguém contar uma história da vida das colónias que nao é a sua, e por essa perspectiva ter alguma atençao mediática. Mas contra isso tem bom remédio.

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    Comentar por rita maria — 22/01/2010 @ 12:03 pm

  33. Num dos programas sobre a Guerra do Joaquim Furtado falava-se do caracter (pretensamente) unico da colonizacao portuguesa, de como os portugueses nao seriam racistas, de como tratavam bem os pretos,… enfim uma discussao infindavel que ate’ podera’ inspirar investigacoes e futuros trabalhos academicos.

    Porem, tudo foi sumarizado por um mocambicano, de cujo nome nao me lembro, mas com uma capacidade de sintese notavel, e cito de memoria a sua “punch line”. Disse ele: Ha’ donos que tratam muito bem dos seus cavalos, ha’ outros que os tratam com violencia e desprezo. Isto ninguem contesta, e’ bem sabido. Mas, no fim de contas, seja qual for o caso, e’ sempre o dono quem monta o cavalo. E todos sabiam muito bem quem era quem.

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    Comentar por Miguel — 22/01/2010 @ 12:20 pm

  34. Ainda não li o livro, mas fiquei cheio de vontade de o ler!

    Mas julgo que ainda fica por contar a história dos filhos dos retornados, os mestiços: mulatos, branco, cabritos e negros, que das antigas colónias foram para um país que os pais diziam ser seu, mas que de facto só conheciam o que vinha nos livros da Escola.

    As histórias de racismo sofridas pelos retornados e filhos de retornados ainda está por contar. Para que nunca se esqueça da célebre frase dos anos setenta e oitenta: “Ó preto volta prá a tua terra!”. De uma sociedade que, embora tendo saído de anos de opressão, se aprontou a fazer o mesmo a outros… Na escola, no trabalho, na rua… “Ó preto volta prá tua terra!” Tantas e tantas vezes eu e os meus pais a ouvimos, que ainda hoje a custa proferir em voz alta!

    Faz falta alguém contar as dificuldades porque passaram alguns dos retornados (e filhos de), do qual sem o Apoio Cristão e de outras instituições teriam passado fome e roupa não teriam para se vestir.

    Que se conte o racismo de lá, mas que não se esqueça do racismo que cá os esperava… curiosa inversão de papéis, não?!

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    Comentar por rui silva — 22/01/2010 @ 12:30 pm

  35. vamos lá animar a discussão: para quem tem interesse vejam este estudo feito por Fernando Pimenta no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciêncis Sociais – Coimbra (/Fac. de Economia) Set 04 – “Ideologia Nacional dos Brancos Angolanos 1900-1975”.

    Click to access FernandoPimenta.pdf

    Eu fui tratada com racismo em Portugal por ser de África e fui tratada com racismo em África por ser branca. Para os atentos uma ligeira diferença.

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    Comentar por marta reprezas — 22/01/2010 @ 12:58 pm

  36. E para questões pós-independência(s) o
    “A History of Postcolonial Lusophone Africa” de Patrick Chabal . Eu sei que diz pós JPT mas é um livro generalista que pode aliciar um vasto público. 🙂

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    Comentar por VA — 22/01/2010 @ 1:48 pm

  37. Após ler todos os comentários… nem sei o que dizer!
    Cresci no Bairro do Fomento – Matola, só vi tratar mal “os pretos” a minha prof. da 3ª classe, mas felizmente ficou lá pouco tempo, e eu fui uma das que fez “birra” para ela ir embora. Fui para Portugal com 12 anos em Março de 76. Fiquei a conhecer o racismo nessa altura!
    Casei com um nascido na Guiné – mulato! Os meus filhos nasceram em Portugal, Agora vivo em Cabo Verde, e já sei o que é o racismo, assim como sei o que é não ser de lado nenhum!
    Tentei educar os meus filhos pelos valores que herdei dos meus pais, acrescidos dos que aprendi com a “mamana” da minha terra, que era empregada lá em casa, mas que a minha mãe tratava com respeito ao ponto de eu a considerar a minha 2ª mãe.
    Respeito a coragem de quem diz o que doi. Não podemos esquecer que é a visão de uma criança – desmistificada pelo adulto em que se transformou.
    Não li o livro, e não sei se irei lê-lo.
    Agora não me chamem de retornada porque não sou! Não retornei a lado nenhum, nasci em Moçambique, os meus pais sim, retornaram à terra que os viu nascer… e levaram-me junto! Só isso!

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    Comentar por Nita — 22/01/2010 @ 3:37 pm

  38. O texto era muitíssimo interessante, obrigada!

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    Comentar por rita maria — 22/01/2010 @ 4:01 pm

  39. E a propósito de cavalos, esse nobre animal da criação.

    Bom, vamos lá animar a malta!

    UHF – Cavalos de Corrida

    “Agora é que a corrida estoirou, e os animais se lançam num esforço
    Agora é que todos eles aplaudem, a violência em jogo
    Agora é que eles picam os cavalos, violando todas as leis
    Agora é que eles passam ao assalto e fazem-no por qualquer preço

    Agora, agora, agora, agora, tu és um cavalo de corrida
    Agora, agora, agora, agora, tu és um cavalo de corrida

    Agora é que a vida passa num flash e o paraíso é além
    Agora é que o filme deste massacre é a rotina Zé Ninguém
    Agora é que perdeste o juízo, a jogar esta cartada
    Agora é que galopas já ferido, procurando abrir passagem

    Agora, agora, agora, agora tu és um cavalo de corrida
    Agora, agora, agora, agora tu és um cavalo de corrida, eh”

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    Comentar por umBhalane — 22/01/2010 @ 5:21 pm

  40. Para a Nita:

    Disse aquilo que eu também vi. Não nos compete avaliar experiências que nos são estranhas, mas daí a permitir que alguém passe à completa generalização, isso não posso conceber. A menina IF teve uma infância anormal. Pelos vistos, nem reparou com quem andava com ela na escola.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 22/01/2010 @ 5:30 pm

  41. nao me atiro para o chao com esse livro do chabal mas boa

    a música dos UHF costumo cantar à minha filha, com particular ênfase no HU, UH. Ela ri-se e gosta. Mostrei-lhe um video no youtube (uh, uh) e adorou. Mas prefere a Rua Do Carmo (uh) mulheres bonitas /uh)

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    Comentar por jpt — 22/01/2010 @ 6:15 pm

  42. […] do texto “Do Outro Lado do Tempo” [reproduzido no Arrastão], que se refere ao ma-schamba, enquanto local de “cegos ou preconceituosos” (ADENDA: em comentário Rui Bebiano esclarece que no seu texto apenas ligou explitamente ao […]

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    Pingback por O erro é o outro | ma-schamba — 23/01/2010 @ 2:22 am

  43. Análise 5 estrelas ABM! Ilustra td o q senti ao tomar conhecimento do livro de IF e de todas as posteriores críticas e loas q lhe foram levantadas. Sou ‘retornada’ de Angola(1951-1975) e doi-me ver transformarem uns meros 12 anos q a autora viveu em Moçambique no retrato dos milhares de portugueses q viveram em África. Acho abusivo, gratuíto e aberrante! Eu tenho outras memórias, transmitidas por vivências e uma realidade, de facto, mais idílica de África, mas foi essa q eu vivi e q tento, desde 2004, “vender” a uma editora, sem sucesso (podem até dizer q estou com ‘dor de corno’ q é verdade!!!) Mas, talvez as minhas memórias sejam demasiado ‘politicamente correctas’, não contenham linguagem pornográfica, nem cenas picantes… são apenas o retrato de milhares e milhares de crianças, jovens e adultos q viveram em terras africanas e q a elas ficaram presas para sempre.
    Aconselho, vivamente, todos os pseudo-críticos do “colonialismo” português a seguirem a sugestão da Marta Reprezas e a lerem COM ATENÇÃO o estudo de Fernando Pimenta, para não falarem decor sb assuntos q não dominam – “o pior cego é aquele q não quer ver”.

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    Comentar por Isabel — 23/01/2010 @ 3:34 pm

  44. Isabel, o problema é precisamente o oposto. A Isabel não é “politicamente correcta”. Só terá alguma hipótese, se a a sua obra for achincalhante da a presença portuguesa. Já viu bem quem está no poder? E não falo apenas na política, mas também nas academias, institutos culturais, fundações, etc. Exactamente quem lhe atirou pedras quando cá chegou.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 23/01/2010 @ 11:24 pm

  45. Estiveste muito bem, ABM. Não encontro palavras para descrever o que sinto ao saber que uma menina de 12 anos, anos mais tarde, tentou escrever 400 anos de história num simples livro, com 2 personagens: ela e o pai! Acho que não devemos dar muita importância ao livro. Gostei do que Umbhalane escreveu! Nasci em Moçambique, estudei na Africa do Sul, voltei para Maputo e “entornei” em Cascais em 1983. Sim, tambem NÂO sou retornado mas sim … “entornado”, já agora, segunda geração! Não me faz mais moçambicano que os outros mas … racismo? Só em Moçambique e até 24 de Abril? Então e na Africa do Sul? E no pós 25 de Abril em Moçambique …. e que tal em Portugal? Não, só os que viviam na Polana!
    Já disse que o meu pai era enfermeiro e está sepultado em Maputo (onde nasceu). Que tal eu escrever um livro onde possa mostrar o meu verdadeiro amor de filho e assim sugerir que todos os colonialistas eram bons e tratavam da saúde (no bom sentido), de pretos, brancos, indianos, chineses, mulatos? Olhem que viviamos na Polana! Que crime! Mas tambem joguei futebol no Xipamanine… só com pretos. Baralha? Só para alguns!
    Eu estou muito bem com a minha consciência, penso que a maior parte dos retornados e entornados tambêm estejam e se não estiverem … escrevam um livro.

    Different strokes for different folks!

    Um abraço ABM,

    JR

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    Comentar por Jorge Ribeiro — 24/01/2010 @ 1:17 am

  46. Muitos insultam quando nao estao de acordo com alguem, a nao ser que esse alguem tenha uma PIDE ou uma AK-47 ao ombro.

    E estranho alguem achar-se no direito de insultar.

    Em Mocambique vi de tudo. Vi brancos a maltratar pretos, vi pretos a maltratar brancos e vi muitos a “cagarem-se” pelas pernas abaixo quando o feitico se virou contra o feiticeiro.

    E vejo mitos desses agora a cantarem de alto, outra vez.

    Estranho…

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    Comentar por Marko Zambeze — 24/01/2010 @ 5:52 pm

  47. O colonialismo não foi o pior crime da presença portuguesa em África. Aliás, nem sequer constituiu um crime – à semelhança de muitas outras potências colonizadoras que vieram depois, Portugal seria o primeiro país a seguir a sua vocação milenar: descobrir, desbravar, colonizar, cristianizar e civilizar. Nem sempre utilizando os melhores métodos, é certo, mas deixando atrás de si obra feita.

    O pior mal da presença portuguesa em África, muito mais grave e criminoso, foi o ter dado início ao nefando tráfico da escravatura, onde seria também seguido por outras potências europeias. No entanto, é necessário encarar o fenómeno da escravatura e das suas consequências à luz das mentalidades da época. Em África, os portugueses e outros europeus só se limitaram a continuar uma prática comum entre as populações autóctones, já sujeitas à escravidão pelos seus próprios semelhantes. E a ânsia pelo lucro que o comércio da escravatura podia proporcionar às esgotadas reservas das metrópoles sobrepôs-se aos ideais prosélicos e civilazicionais.

    Portugal não foi diferente das restantes potências colonizadoras. Não foi pior, nem melhor. Só não soube retirar-se na altura certa, prolongando indefinidamente uma situação que ia contra todas as regras do bom colonialismo – entregar a obra feita nas mãos dos colonizados, precavendo os direitos de todos africanos, brancos e negros, retirando-se de cena com elegância e em apoteose. No Brasil, os portugueses-brasileiros foram capazes de lançar “o grito do Ipiranga”. Em África isso não foi possível, porque as riquezas eram infinitas e os interesses inconfessáveis da política internacional, que actuava na sombra, não podiam permitir que as «colónias portuguesas em África» pudessem ir parar às mãos apenas dos naturais, filhos dessas colónias, independentemente da sua raça ou credo.

    Obrigada Nuno pelo seu conselho, mas eu não posso achincalhar a presença portuguesa em África, ao contrário de outros “detentores da verdade”. Eu sou Historiadora, estudo e investigo a História e tenho a obrigação de a contar com isenção e verdade. Para além de ter vivido em África e ter tido as experiências que conto, na primeira pessoa. Não quero “branquear” nada, nem ninguém. Quero, apenas, que a História e as estórias das pessoas que viveram em África não sejam deturpadas por mentes doentes e oportunistas.

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    Comentar por Isabel — 26/01/2010 @ 3:18 pm

  48. Em nome de Maria S. C. Carreira deixo aki a sua contribuição:

    “Coitadinha, a menina teve o azar de andar ao colinho de tal pai. O meu era totalmente diferente, emprestava, dava, defendia, foi perseguido pela pide e talvez (disso não há provas a não ser as palavras do médico, que já morreu, mas a polícia política nunca nos deu o relatório da autópsia nem comunicou para o registo da naturalidade a morte de meu pai, pelo que só descobri 26 anos depois que o registo não fora feito e minha mãe nunca recebeu pensão de viuvez…) tenha sido morto, como vários outros portugueses, pelos soldados portugueses, a mando da pide, pela simpatia demonstrada pea independência do país. Todas as pessoas aqui citadas, as que defendem tal livro (que não vou ler para não me incomodar), SÃO E FORAM PAGAS para o fazer e, com excepção do Eduardo Pitta — que nunca saiu da capital senão para vir para Portugal — são ignorantes das realidades daqueles anos, não podem fazer idéia do bem nem do mal. O Viegas tem boa vontade…é, além de autor, editor, pelo que só poderemos acreditar em quem não ganhar dinheiro e não for politicamente correcto. Atenção: este sr. que assina o blogue tb não estava em Maputo entre Setembro e Outubro de 74, se estivesse teria de confessar que o massacres não foram só como ele diz e tudo começou porque portugueses que se tinham refugiado na África do Sul terem invadido os subúrbios mascarados de negro e começado a matar…NINGUÉM com menos de 60 anos assistiu conscientemente ao que se passou, nem poode ser testemunha credível.
    Podes reecaminhar, Marta. Abraços, msc”

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    Comentar por marta reprezas — 26/01/2010 @ 3:24 pm

  49. Nao consigo deixar de perguntar: quando dizem coisas como “vocação milenar: descobrir, desbravar, colonizar, cristianizar e civilizar” estao a falar a sério? Os países têm vocaçoes? E cristianizar é um desígnio nacional milenar? E colonizar está ao mesmo nível de descobrir? E era também um imperativo nacional?

    Ou um “Não há nesta história heróis nem criminosos. Quando muito, apostou-se num projecto e num ideal que acabaram mal”? Isto é mesmo a sério?

    E nao ser melhor do que as outras potências colonizadoras agora é desculpa? Ou o facto de os outros nao estarem ao mesmo tempo a falar dos soviéticos é argumento?

    Aprendi imenso com esta discussao, mas nao deixam de existir comentários absolutammente extraordinários.

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    Comentar por rita maria — 26/01/2010 @ 3:31 pm

  50. Extraordinário, para mim, é “julgar”, Henrique, o Navegador, e o que ele simboliza, em 2010!!!

    À luz da mentalidade/evolução, da incorporação de novas formas de pensar, existentes hoje.

    Que tal se fizéssemos um”esforço” e imaginássemos como era à época o mundo, e escrevêssemos como se fossemos contemporâneos desses humanos TODOS – do mundo em geral..
    Creio que se chama história comparada.

    Seria giro, e também extraordinário.
    E talvez mais justos, mais equitativos, também para TODOS.

    Cara Isabel, e com o devido respeito:

    “O pior mal da presença portuguesa em África, muito mais grave e criminoso, foi o ter dado início ao nefando tráfico da escravatura, onde seria também seguido por outras potências europeias.”

    …foi o ter dado início ao nefando tráfico da escravatura!!!???

    Só pode ser lapso.
    É que nem o tráfico Atlântico foi iniciado pelos Portugueses.
    E há muita gente, demasiada gente, e pasme-se, muitos Portugueses, maioria por erros induzidos, outros por pura ignorância, e os estrategas da má-fé (porque sempre entre nós, traidores houve).
    E isto não é patriotismo bacoco, cego, …é conhecimento de relatos históricos, factos.

    Já os Mouros/Sarracenos de Marrocos, Mauritânia, … faziam esse tráfico Atlântico quando os Portugueses o iniciaram na África Negra.
    E Elaine Sanceau relata que um dos primeiros carregamentos de escravos negros, à volta de 160 a 180, foram objecto de um assalto/abordagem a um barco mouro que navegava para norte, Marrocos?, na costa Atlântica.
    Operação de corso bem sucedida.

    Isto para não falar na escravatura através do Índico, Mar Vermelho, …
    E nas rotas terrestres de África desde o interior profundo, com destino aos países Árabes e/ou Arabizados.

    Portugal deu um grande impulso ao tráfico Atlântico, mas depressa foi suplantado por outras potências, nomeadamente pela Inglaterra/Reino Unido…

    Não sendo historiador, nem querendo medir meças consigo, quero apenas esclarecer, lembro a revolta dos escravos negros (Zanj) no sul do Iraque em 869-886 DC, ainda Portugal não tinha “nascido”.
    O que pressupõe a existência da escravatura negra pelos Árabes muito anteriormente àquelas datas – sim, porque uma revolta não se prepara em cima do joelho, nem dura tanto tempo sem os ingredientes certos.

    E porque também não sou linguista, quando Vasco da Gama chegou à Ilha de Moçambique, esta estava subordinada a Zanzibar – e Zanzibar, creio ser derivada de zanj + bahr, que em Árabe quererá dizer a costa dos escravos, ou a costa dos negros, no pressuposto de que, para os Árabes, os negros eram apenas/ou só serviam para escravos, ainda que arabizados.

    Terminando, e nada tendo a justificar, torno AQUI a lembrar que os Ibéricos e outros Europeus também foram colonizados e escravizados pelos Africanos – Berberes, Negros, Árabes, Mouros/Sarracenos, …arrastados por África adentro, pelas rotas marítimos do Mediterrâneo, e terrestres do Sahara.
    E não foram tão poucos como isso, quer em números absolutos, e pior ainda, quer em percentagem populacional.

    E tudo numa boa.

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    Comentar por umBhalane — 26/01/2010 @ 6:21 pm

  51. UmBhalane
    Falando por mim, não estou assim “tão na boa” com o estado da literatura com que a IF nos presenteia. Daí andar ainda hoje aqui e a ler.

    Será um problema de responsabilização?

    É que já vi branco a tratar mal o preto, já vi o preto a tratar mal (dispensarei adjectivações mais brutais, sempre no entanto com o respeito a quem sofreu de facto independentemente do lado), o branco, já vi o branco a tratar mal o branco e o preto a tratal mal o preto. E posso continuar por aí com as inúmeras raças do mundo (infelizmente ainda hoje bem presente e talvez me preocupe muito mais neste momento com a pedofilia que graçam as várias etnias e religiosidades, mas a mais recente os 450 casamentos feitos pelos Hamas com meninas de 10 e até aos 4 anos – denúncia feita pelo blog http://thelastcrusade.org/ – assustador) e o que não entendo do que aqui ando a ler, é o problema de fundo.

    Sendo que a crítica de ABM é ao discurso racista de IF, vai daí que já estamos na escravatura?

    Mas ainda bem já aqui vamos. Com jeitinho acabamos aqui purgados de um passado que nunca será esquecido por milhares (eu incluída que toda esta convulsão ditou profundamente o meu caminho) e feridas a caminho de serem saradas.

    O que a mim não retira na verdade é a filha da putisse (desculpa asneira) de alguns, brancos e pretos e indianos e mulatos, abusando por esta ou aquele razão (que nem me atrevo a discutir) da situação sentando-se em cima da ignorância generalizada e achando que é tudo parvo.

    Mas agradeço a tua valiosa contribuição para esta discussão! 🙂

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    Comentar por marta reprezas — 26/01/2010 @ 6:53 pm

  52. vou acompanhando o debate, caladinho mas vou acompanhando. olheiro interessado, e certamente não serei o único 😉

    noutras e-mesas esta discussão foi recorrente, teve barbas e trancinhas e nunca houve barbeiros que fizessem-lhe aparo a agrado de todos

    mas – tal como aqui – foi-se aprendendo. a História por quem a viveu. daí que me atreva a sugerir três acertos ao dito na mensagem da srª Maria S. C. Carreira:

    Atenção: este sr. que assina o blogue tb não estava em Maputo entre Setembro e Outubro de 74, se estivesse teria de confessar que o massacres não foram só como ele diz e tudo começou porque portugueses que se tinham refugiado na África do Sul terem invadido os subúrbios mascarados de negro e começado a matar…NINGUÉM com menos de 60 anos assistiu conscientemente ao que se passou, nem poode ser testemunha credível.

    – o “7 de Setembro” (74) tem como pretextos imediatos, conforme as posições ideológicas assumidas:

    a) o celebérrimo episódio da bandeira portuguesa arrastada no chão, na av. da República, na esquina do Scala e o Continental
    b) os auto-intitulados “dragões da morte” (o núcleo oriundo da Matola. Freud explicaria isto também?) que (mal) disfarçados de negros fazem raids no ‘caniço’ disparando indiscriminadamente, conforme progrediam

    a célula da Frelimo na Mafalala é a primeira a reagir (barreiras nas estradas para revistas a carros, actos assim) mas rapidamente tudo fica fora de qualquer controle, e por toda a zona exterior ao ‘cimento’, acontecendo as infelizes barbaridades que se sabem

    o interesse político por qualquer das duas acções provocatórias – a e b – (para não complicar assumo que ambas aconteceram assim e com intervenientes de facções opostas) é óbvio e parece-me pacífico assumir as reais intenções por detrás de qualquer destes factos.

    a partir daí é história conhecida: a ocupação do Rádio Clube, etc, etc, e mais os etcs memoriais que cada quiser acrescentar: há documentação com fartura a partir desse acto de rebeldia com smell neo-colonial (e a comunidade internacional, ambos os lados da Guerra-Fria, não aceitariam a implantação duma segunda Rodésia…)

    mesmo trinta anos depois os personagens não assumem totalmente, que quem “fez merda” não o confessa facilmente. mas lá se vão descaindo aqui e ali, e alguns descaíram-se mesmo (refiro-me a discussões nos ex-Grupos MSN). até que se uns os olham como vilões para outros são considerados heróis.

    não indico publicamente os nomes de que me apercebi nas tais ‘discussões’, que cada deve falar por si e não é caso de se falar de ninguém na sua ausência. em privado poderei fazê-lo, se me explicado o interesse – desde já duvido: esta “conversa” é igual a 1000 anteriores, e o resultado não escapará ao habitual: desist~encia das partes por cansaço, e tudo como dantes e o quartel-general é em Abrantes: ninguém mudará profundamente de opinião, mas todos saímos enriquecidos em conhecimento. e respeito
    uma busca com as palavras certas no Santo Google é capaz de dar mais resultados que se imagina, e é pena os Grupos MSN terem sido apagados e mandados para o espaço. de forma não organizada, caótica, mas muita documentação, depoimentos, se encontravam por lá

    – o 21 de Outubro (também 74, claro) começa pela acção de militares ‘comandos’ portugueses, duma companhia que daí a dias (no seguinte? à volta dum prazo curtíssimo assim) retornaria à Metrópole para ser desmobilizada. atacaram a guarnição de guerrilheiros da Frelimo que fazia guarda ao jornal Notícias, igualmente na Baixa.

    novamente o ovo ou a galinha, mas aqui as opiniões claramente maioritárias coincidem na versão de a quem atribuir os primeiros actos de violência. se houve provocação verbal anterior, desaguisados entre os dois grupos militares, aí – qual a surpresa? – há opiniões diversas. mas “o primeiro sangue” foram os Comandos que o fizeram, é unânime. ou quase

    a partir do fim do tiroteio na arcádia do prédio Nauticus, eu assisti pessoalmente

    a 21 de Novembro (?) ainda houve tiroteiro, na zona da Baixa e jardim Tundurú (ex-Vasco da Gama), assim como na cadeia central da Machava. mas, felizmente, pouco durou e poucas vítimas fez, e julgo que até nenhum civil. tratou-se duma revolta de soldados da Frelimo, já não sei – se é que alguma vez o soube!… – acerca de quê ou porquê

    – “só” tenho 54 anos e dalguma coisa lembro-me. preferia que não mas a porra é que me lembro, não sendo daquelas que o tempo faz esquecer miraculosamente, abençoadamente

    Carlos Gil

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    Comentar por cg — 26/01/2010 @ 7:07 pm

  53. desculpem: a 21 de Novembro (?) mas do ano seguinte, 1975, portanto já após a Independência

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    Comentar por cg — 26/01/2010 @ 7:13 pm

  54. Marta Reprezas

    “Será um problema de responsabilização?”

    Tire “isso” da cabeça.
    Os brancos de 2ª classe, os “entornados”, não mandavam NADA.

    Lembra-se? ou já se esqueceu?

    Quando muito, alguns, éramos ajudantes, “achicundas” .

    Quem mandava eram os brancos legítimos, os de 1ª classe, e que normalmente cumpriam comissões de serviço muito curtas, breves…

    Por isso deite para trás das costas, e durma bem.

    “Eles” é que mandavam.

    “Afinale”, também sei jogar ping-pong!

    Será já uma Chinesice?

    LOL.

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    Comentar por umBhalane — 26/01/2010 @ 8:21 pm

  55. umBhalane

    o problema é que os ditos de 2ª e 3ª, sejam de que cor eram também as fizeram (e fazem). Falei na responsabilização porque vejo o pessoal a “chutar” para todos os lados.

    Não me lembro não, sou um bocado mais nova do que possa parecer (eventualmente) e o que eu sofri foram já os “restos” de toda esta malhação, ou as suas consequências. Sou esse produto. sou o pós 🙂

    Que jogas ping-pong já eu percebi 😉

    “afinale….” LOL

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    Comentar por marta reprezas — 26/01/2010 @ 10:07 pm

  56. cg (52): sobre a revolta de Novembro de 1975 o borges coelho tem um belissimo conto num dos livros de contos (meridião, sententrião, não sei qual).

    MR (48): não posso discordar mais do comentário que aqui colocaste em nome alheio. Posso-me atirar ao ar com as opiniões alheias, posso até encontrar contextos comuns entre opinadores, editores e escritora (de interesses, biográficos, de percursos literários, de profissão). Posso e encontro (diga-se que está quase tudo nos blogs). Mas isso é absolutamente legítimo, e natural. Vir dizer que, reduzir essas normais conjugações de vida, são devidas a que “receberam dinheiro” no sentido de desonestidade é simplesmente execrável. Os comentários ficam para quem os escreve é certo, não recaem sobre quem bloga, mas caramba … Já agora Eduardo Pitta, não vem a propósito mas é sempre bom falar de bons livros, escreveu um livro “Persona”, que decorre no final do período colonial em Moçambique. E que é, em minha modesta opinião, simplesmente deslumbrante, a melhor peça literária sobre África (ou melhor, em África) escrita por um português nos últimos largos anos (estas tiradas maximalistas valem o que valem). E, já agora, saíu de Lourenço Marques, pobre invectiva essa. Que baixaria – já bem basta os esquerdalhos homofóbicos e racistas que andam noutros posts a comentarem sobre os meus putativos apetites sodomitas para que os veteranos daqui entrem no mesmo tipo de insulto, ainda que com palavras mais finas.

    RM (49) – concordo consigo, há comentários absolutamente extraordinários. Não concordo nisso da aprendizagem. Chegar aqui e ver que “Portugal tem uma vocação milenar para …” faz-me ganas de ir a correr fazer um post a dizer bem do raio do livro da Isabel Figueiredo. Esta questão, vejo, é uma caixa de Pandora. A ver se as pragas se espalham depressa e a gente fica com a tardia e sonolenta esperança: como dizia nos velhos tempos o senhor meu pai, com a esperança que a gente leia. E se deixem de pancadas no peito, num “aqui d’el-rei” ou num antagonista “ó da guarda”.

    Como quase sempre CG vou concordar: vão comentar até à exaustão. E ninguém se mexe um milimetro que seja do que já pensava.

    Bem, já saiu o fel todo.

    Há hoje um pacote ideal (ideológico), melhor dizendo, um ambiente ideologico relativamente dominante na imprensa portuguesa. Muito marginalmente esta questão inserir-se-á nele. É, será (porventura muito pouco tempo como diz o Pai da MR), altura de mal aspergir o demo colono. Nas últimas duas décadas houve o pacote um pouco à direita deste, inverso, de santificar o Santo Lusófono. Quem quer andar em procissões molha-se à chuva. Ou cansa-se ao Sol. Não é nada mais do que isto.

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    Comentar por jpt — 26/01/2010 @ 11:24 pm

  57. Suponho que seja evidente que não foi com as frases que mais me chocam que aprendi alguma coisa (ou aprendi, mas não foi pelo seu conteúdo)

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    Comentar por rita maria — 27/01/2010 @ 12:24 am

  58. É

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    Comentar por jpt — 27/01/2010 @ 12:55 am

  59. Ok, ok, ok!!!! já percebi q ninguém está interessado em lições de História (eu só me limitei a recitar aquilo q vem em todos os livros de História de Portugal, sobre a “vocação milenar”-não era para ofender ninguém…) E o tema da escravatura só surgiu pq o post começa exactamente com uma gravura a ela alusiva. Adiante! O q interessa mesmo é o livro da IF e as deturpadas realidades por ela transmitida sobre os portugueses em Moçambique e, já agora em Angola, q é o caso q eu conheço bem – vivi lá mais de 30 anos. Não sou portuguesa de 2ª, mas quase, pq fui para Angola com 6 anos, passei uma infância MARAVILHOSA no mato, com pretos, brancos e mulatos. Aos 12 anos fui para Luanda, e foi uma paixão para a vida! Tive amigos do coração, mais uma vez, pretos, brancos e mulatos, uma adolescência como poucas, só possível em terras africanas (vim à Metrópole em 61, quando dos massacres no Norte de Angola pela UPA, e odiei! O clima, as pessoas, a ‘mordaça’ política, a mesquinhez e tacanhice, a inveja crónica e doentia. Não descansei enquanto não voltei para Luanda.) Acabei por casar com um português de 2ª e tive 2 filhas, também de 2ª. Em Angola nunca me faltou trabalho, ao contrário daqui em Portugal onde, aos 65 anos e com uma licenciatura em História (feita já com 50 anos para tentar sacudir da pele o rótulo de “retornada” e me integrar na vida do país), faço parte das estatísticas dos ‘desempregados’. Ah! Esqueci-me de mencionar q o meu Pai também era de origem humilde, era serralheiro-mecânico, nunca o vi maltratar nem insultar um preto nas fazendas por onde passámos e até acabou por trazer de Angola mais 2 filhos, mulatos, meus meio-irmãos. E não creio q gostasse de “ir às pretas de c… larga”, pq tudo fez com discrição. E eu adorava-o! E o meu Pai não era o ‘colonialismo’!!!

    Tenho as minhas memórias escritas, porque me deu prazer ‘olhar para trás’ e reviver episódios inesquecíveis. Diz quem já as leu q estão muito interessantes e dão uma ideia real de uma época e da vida em África, comum a muitos portugueses. Mas sou uma ilustre desconhecida e, por isso, continuo à espera q uma editora queira publicá-las. Ou por outra, editoras até já arranjei, mas teria de pôr do meu bolso uma parte substancial do valor para a edição. Ora como eu estou desempregada… Entretanto, a IF com toda a polémica levantada por estes blogues, e graças a nós q os alimentamos, vai vendendo o seu peixinho e a editora esfregando as mãos. Já lhes perguntei se não estariam interessados em publicar o outro lado da questão, uma realidade mais idónea e consensual sobre o q foi a vida dos portugueses em África, mas nem me respondem… Eles lá sabem! Entretanto as mentiras sobre «pactos de silêncio» entre retornados e outras afirmações falsas e gratuítas, sem uma ponta de legitimidade, vão colhendo frutos entre os q nunca lá viveram e pensam q aquele é o verdadeiro retrato do q se passou nas “colónias”!!!!!!!

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    Comentar por Isabel — 27/01/2010 @ 4:04 pm

  60. JPT – podes discordar de seja o que for. Coloquei a contribuição por falta de meios internaúticos da pessoa.

    No entanto e sem grandes ilações, certo é que da esquerda, da direita, de cá e de lá cometeram-se verdadeiras barbaridades, querendo as partes assumir ou não. irrelevante para este post es especial.

    Mantenho a minha, a peça escrita por IF não me parece ser de boa literatura e merecer, cito: “quero que seja uma obra literária (entrevista da TSF com a própria)”, o lugar que lhe foi atribuido nos media.

    C.Gil, concordo com o desgaste que se irá decerto abater e pelas razões que apresentas.

    Não nego que existem aqui boas contribuições e é para isso que aqui andamos. E más.

    No resto. Vou ler o livro que recomendas 😉

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    Comentar por marta reprezas — 27/01/2010 @ 4:05 pm

  61. Isabel, vou dirigir-me a si mas o lamento é geral, e bem mais geral que circusncrito a esta ma-schamba redonda onde cavaqueamos:

    fico com comichão quando leio, ouço, expressões tipo “até tive amigos pretos”, etc etc. temos ou não temos amigos. incluir a epiderme neste conceito é… “complicado”

    acaso será possível viver no extrmo oriente e não conviver com pessoas de raça asiática? no norte da Europa e viver isolado de quem seja loiro e de pele clarinha? como raio é possível ter-se vivido em África e não ter convivido, também, com pessoas de cor negra, ou mulatos?

    apontá-lo como excepcionalidade, apntamento que merece referência e ainda mais pública, é…. “complicado”

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    Comentar por cg — 27/01/2010 @ 5:35 pm

  62. Cg (61) é muito possível viver num sítio qualquer e não conviver com uma cor qualquer que por lá predomine. Ou com outra cor qualquer -é coisa que não falta …, de todas as cores e feitios. Não fique com esta minha adenda nenhuma ideia de que não partilho dessa tua comichão…

    MR (60) sobre o livro (ou o seu parcial conteúdo) e sua recepção já botei o suficiente. Não me repetirei. Sobre o comentarismo invectivador também. Acho que lá em cima (o texto) o ABM bateu forte e subscrevi. O resto parece-me manifestamente desajustado – e espero que transmitas a quem fosta teclas intermediárias a minha resposta. Espero que gostes de ler o livro. E sobre as “partes” em contenda sobre as barbaridades: é esse mesmo o problema. Confesso o meu incómodo – que não é só neste post – ver acampada uma falange de combate (diga-se que a outra mandou uma ou outra frechada guerrilheira e partiu) nesta machamba. Pisam-me(nos) os caules, partem-nos as sebes, arrancam-nos as sementes, bebem-nos a ãgua, espantam-nos a criação, comem-nos os farnéis, quebram-nos os arbustos. E nada fazem crescer. Apenas, vá lá, nos espantam a passarada pilhadora com seus gritos “nós temos razão, nós temos razão”.

    Isabel (59) desejo-lhe as maiores felicidades para a edição das suas memórias. Aconselho-a, se me permite, a tentar várias editoras – hoje em dia com a proliferação de blogs de editoras e literários é fácil alcançar uma longa lista de endereços electrónicos, o que lhe acelerará esses contactos. Caso venha a editar o livro (coisa que aqui tem vindo a ser considerado interessante) informe, sff, este blog para que não só divulguemos como procuremos um (ou mais exemplares). Quanto a lições de história estou sempre disposto – mas não com essas antropomorfizações “da vocação” ou “maldição” nacional.
    cumprimentos

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    Comentar por jpt — 27/01/2010 @ 6:00 pm

  63. Caro cg

    Conviver é uma coisa – todos nós temos de conviver com quem está à nossa volta, conhecidos, colegas, vizinhos, tenham eles a côr q tiverem, quer queiramos, quer não, (também vivi alguns anos em Macau, já agora, e não fiz um único amigo chinês, q considero uma raça muito estranha e só quem lá viveu e privou com eles é q pode avaliar, não me venham com patranhas de q somos todos iguais, pq na questão dos direitos humanos os chineses deixam muito a desejar!)
    Aquilo q eu queria dizer, e acho q talvez me tenha interpretado mal, é q tive em África, grandes amigos, daqueles do coração, leais, incondicionais, de todas as raças sim e de várias etnias. Coisa q não consegui, nem conseguirei, jamais, encontrar aqui, em Portugal. A maior parte desses amigos ficaram lá, perderam-se os contactos, pelas circunstâncias da vida, outros já desapareceram deste mundo. Não tenho de justificar, perante quem não me conhece, a maneira como me relacionei com cores de pele diferentes da minha – afinal, o q está aqui em discussão é muito mais o racismo e, nesse, o pior é o de classes e não o de cores. E também o de credos e religiões. Preconceitos, foi coisa q eu aprendi a não ter em terras africanas…

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    Comentar por Isabel — 27/01/2010 @ 6:25 pm

  64. (continuando a dar cabo da “FarmVille” machambeira 🙂 🙂 🙂 🙂 )

    jpt: é, há gajos assim. dizem que os ingleses no All-garve até em mercearias só usam produtos produtos deles. e os pós-hippies alemães do nordeste alentejano, só comem salsichas xxl, abrindo excepções ao hiper-nacionalismo exclusivamente para esfumaçar exotismos ;-). quando o ANC formou governo, RSA, houve uns afrikanders retintos que, lembro-me, igualmente criaram umas paliçadas coloridas numa aldeiazita qualquer. depois o Senhor Nelson Mandela quis ver in loco como aquilo era e foi lá. já lhes passou a “tesão do mijo”, acredito.
    esfumaçam-se a si mesmos

    Isabel: estou há 34 anos em Portugal, e neles só daqui saí dez dias para ir ler jornais espanhóis. mal seria de mim se não pudesse afirmar que os meus maiores amigos são o néctar das pessoas com quem convivo.
    a sua origem, amigos-amigos? alguns são de Santarém. outros de Lisboa. e meia dúzia é de Moçambique. isso é-me indiferente
    não o é excluir-me voluntariamente de relações de amizade. impossível: gosto demais de mim para sujeitar-me a tanta privação. e adianto-lhe que sou um solitário militante

    lembro-me de algures nos arquivos do Ma-schamba haver uma plantação/post (do jpt) acerca das relações com o Outro, as diferenças e aceitação mútua, etc etc.
    deixo o alvitre de ressuscitamento da dita ou, quem sabe se a dica o levará a plantar mais umas sementes!…, um novo post, actualizado e direccionado aos “ismos” aqui em conversa alargada_nunca em exigências de justificações

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    Comentar por cg — 27/01/2010 @ 7:01 pm

  65. enquanto isto desenrola (o meu pc é alentejano) os comentários antigos vão ressurgindo, e assim a memória recupera nacos que foram deixados cair.

    este é inglório que assim tenha acontecido: o ’33’, do Miguel. a espremer-se isto tudo, eu elegia-o

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    Comentar por cg — 27/01/2010 @ 7:14 pm

  66. Isabel,
    As editoras só publicam algo respeitante aos “retornados” se for para fazer o servicinho à gente do regime que anda (?) há tantos anos com má consciência. Já agora, deixo uma sugestão. O dr. Paulo Teixeira Pinto esteve muito tempo em Angola, possui editoras e não tem complexos de “esquerda”. Talvez…

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 27/01/2010 @ 10:09 pm

  67. Isabel, D.

    Já agora outra dica – Se o Sr. Dr. PTPinto não for receptivo, pode ser que o Sr. Engº Jardim Gonçalves solucione – mas não se esqueça de dizer que o Paulo recusou.

    Resulta.

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    Comentar por umBhalane — 27/01/2010 @ 11:52 pm

  68. 1B:

    AHAHAHHAHAHHAHAHAHAH

    EXCELENTE ehehehehhehehehe

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    Comentar por cg — 27/01/2010 @ 11:59 pm

  69. Cg (65) Isto não é uma farmville. Bem antes dessa maluquice já andavam estas machambas no peroranço. E sim, o 33 resume bem as coisas. Para quem as queira ver. Para quem as queira ter não resumirá, mas como bem disseste acima é matéria de décadas e que será resolvida quando todos morrerem. Até lá ninguém mudará de opinião. Eu, repito, só me incomoda tudo isto na cave.

    NCB (66) não é verdade, nao é verdade, não é verdade. Mas que raio, este tipo de argumentação tipo desesperada só rebenta os fundamentos de outras coisas que se queiram dizer. Para què, para què, para què? No domínio da edição de gente conhecida lembro o que encontrei agora em Lisboa (sem ter comprado) “Amor em TEmpos de Guerra” de Júlio Magalhaes, e um que me ofereceram há para aí um ano e que ainda não li “Deixei o meu coração em África” de MAnuel Arouca (que, se nao estou em erro, também escreveu o Joia de Africa, que deu uma série-novela da RTP há alguns anos). Passo por Lisboa e vejo nos escaparates vários livros sobre Africa que não me parecem nada daquilo a que V. chama “o regime” (eu, se calhar, chamar-lhe-ia, mas dando ao termo outro conteúdo). E há outros circuitos menos afamados de edições – ainda ontem no cafe em Maputo me passaram para a mão um exemplar de uma recentissima edição das memórias de alguém que aqui viveu durante décadas. Exemplar único ali a ser lido, infelizmnete náo retive o nome.

    Francamente, este tipo de teorias de conspiração desgosta-me imenso. E, honestamente, faz-me olhar para esta(s) caixa(s) de comentários como se estivesse no Blasfémias ou no Arrastao ou coisa similar. É um susto ir lá, caminha para o susto vir aqui.

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    Comentar por jpt — 28/01/2010 @ 12:21 am

  70. porra, jpt, não exageres (mas a casa é tua, e o sentimento expressado idem…)

    isto parecer um chat, mas um chat não de banalidades, nota, é mau? haverá quem, lendo o post e reparando na anormal quantidade de comentários_que só o querido e inesquecível “O Meu Pipi” ultrapassaria 🙂 _não terá curiosidade de entrar e ler?

    sem desmerecer do post (lá atrás meti 3 claps para o ABM), esta colecção de mensagens ultrapassa o adjectivo de profícuo! eu aprendi e não foi pouco, embora a Isabel ache que passamos pelas refªs históricas como cão por vinha vindimada

    esta cave da (ex-)farmille maputense 🙂 é um must, e olha que em minha opinião é um óptimo complemento ao post pela discussão que gerou, aqui e ali aligeirada (mea culpa, não gosto de coisas permanentemente complicadas, dá-me confusão, um blogue não é o salão de palestras da Gulbenkian) mas com “assunto”, como diz uma amiga quando se quer referir a coisas com sumo…

    … e raspo-me, antes de levar com uma enxadada eheheh

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    Comentar por cg — 28/01/2010 @ 12:57 am

  71. Sem querer ser “historiador” nem fazer a apoligia do colonialismo, Nem sequer ter a pretensão de dizer que à semelhança dos portugueses que por lá viviam que podiam ser de 1.ª de 2.ª e de 3.ª, tb eu tinha muita peninha dos pretinhos, coitados, que tinha amigos das cores do arco-íris (nada de confusões acerca de piadas com gays) há uma coisa que importa referir também: Os tugas eram maus, colonos, traficantes de escravos and so on. Mas os tugas que lá viviam se bem entendo. Os que mais tarde vieram a ser retornados, transtornados ou simplesmente entornados. Se calhar até assim era. Talvez para sustentar o sonho salazarento do orgulhosamente sós, que sustentava a metropole e os que cá viviam na ilusão que eramos um pais do Minho a Timor e bastavamo-nos. Os colonos seriam somente os capatazes dos que da metropole beneficiavam sem la pôr os pés da riqueza por lá produzida, roubada e enviada que alimentava o ouro das notas, os texteis do Vale do Ave, a melogamania de Sines enfim.
    Os colonos, agentes da colonização, eram os maus da fita, os que produziam o pão dos que por cá iam vivendo e se não estivessem bem que fossem a salto para as Franças da Europa.
    Pena que muitos escribas que por aqui passam não tenham conhecido a realidade anterior ao 25/4 e a realidade actual dos ditos palops. Eu ao menos conheço as duas. E sei bem, o que sinto e ouço qd chego a casa (Moçambique), não a das elites, dos ligados ao partidão mas daqueles que da independencia tudo esperaram e até agora nada tiveram. Esses, para mal de muitos ouvidos, para mal de muitas consciências, ainda suspiram com saudades dos tempos coloniais. Não da politica certamente, mas das pessoas que por lá estavam. Salvo as devidas excepções evidentemente na qual certamente se incluem muitos “electricistas”

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    Comentar por JL — 28/01/2010 @ 1:30 am

  72. Oh pá! Mas será q todos vocês, maschambeiros, são assim, rápidos no gatilho, os reis da retórica?! Ainda mal uma pessoa acabou de pôr um comentário, já estão a cascar nela porque isto, e porque aquilo! Aka! Assim não dá! Desisto! Afinal eu só queria dar o meu contributo para cascar na IF e no livro dela, q não li, nem vou ler pq, assim desempregada, não tenho 15 guitos para dar. Quanto às sugestões acerca das editoras, acreditem q já mandei para tudo quanto aparece nos endereços electrónicos e, a maior parte nem se digna a responder-me de volta. Não sou figura pública, do jet-set ou da TV… e aquilo q tenho para contar não interessa e, pelos vistos, não vende. Aliás, já vou no 3º manuscrito para a gaveta! Parada é q eu não posso ficar. Tenho uma meta-ficção histórica, passada em Luanda, no século XVII (Loanda-Escravas, Donas e Senhoras) e um livro sobre gatos, a minha grande paixão, (Os Gatos da Minha Vida), escrito com muito amor e para sensibilizar as pessoas para o abandono e adopção de animais. Se alguém souber de uma editora interessada, por favor, avise-me.
    Entretanto, despeço-me com um grande abraço para todos os maschambeirosxxxxxxxxx.

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    Comentar por Isabel — 28/01/2010 @ 1:44 am

  73. CG (70), como veterano aqui decerto que te lembrarás de duas coisas que sempre disse sobre comentários: não apagar os comentários [apenas me repugnam os comentários insultando ausentes – e já me distanciei aqui de dois nesse sentido; defendo o direito ao insulto mas em casa(o) própria(o)]; que os comentários de um blog ecoam, ainda que indirectamente, o tom do blog. E neste último caso não será necessário repetir que as visitas às caixas de comentários de alguns dos super-blogs políticos é uma experiência recorrentemente infernal exactamente devido ao tom dos bloguistas envolvidos, ainda que não seja deles directamente responsabilidade. Digamos que eles (bloguistas) germinam no adubo orgânico que ali se habita.

    Nao estou a dizer o mesmo aqui. Mas confesso que nos últimos tempos as (aquecidas) caixas de comentários do ma-schamba me surpreendem. De repente há uma “colonização”, inesperada. E tem características que despontam: o negacionismo (pungente, quantas vezes, e já aqui referi uma dos seus efeitos retóricos, completamente Estado Novo, o do fantástico “vocação milenar”) e o “conspirativismo”, que acabo de referir sobre o último comentário do NCB. E vou ser mais “exagerado”, como tu dizes, nisto da internet opinativa a “mãe de todos os defeitos” é mesmo o conspirativismo, as teorias da conspiração, esse “eles” (sobre o qual o MEC escreveu para aí há uns 15 ou 20 anos uma fabulosa crónica), esse “eles” dominam ou fazem – neste caso controlam o mercado editorial para combater os retornados. A partir daí é um desvairo, fale-se do que se fale (cavalos de corrida, futebol, agricultura, estatuária hindu, mercearias … colonialismo portuguÊs). Cada um que vem diz mais uma, mais uma desconfiança, mais um “eu sei bem”, “o meu primo está envolvido”, “no café do bairro disseram-me” até ao “eu e a minha ex-namorada vimos OVNIs na Costa da Caparica” (para a conclusão lógica de que ninguém lhe liga porque são os tripulantes dos ditos OVNIs que controlam São Bento e Belém, para além, claro, da Casa Branca, Bruxelas e outros locais interessantes)

    A net, Gil, está cheia desta maluquice. Não está inscrita no comentário do NCB – mas “é um ver se te avias” até isto estar desse modo. Náo é transformar isto, blog, numa sala de conferências. Mas é, com toda a certeza, expressar o meu incómodo. Repito, os comentários derivam do tom dos bloguistas. Não me parece que seja este o tom do blog. (ainda que por vezes eu me espalhe, em particular quando se abordam mais boreais e socraticas querelas)

    [editei o comentário, cortando-lhe uma parte final, excessivamente dura para com o eixo “nós éramos muito bonzinhos”. Não vale a pena ir por aí]

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    Comentar por jpt — 28/01/2010 @ 7:43 am

  74. Lembrei-me do nome do livro que referi no comentário acima:

    de Eduardo Naia Marques, “O que África me ensinou” – visível em http://www.edanaia.com/

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    Comentar por jpt — 28/01/2010 @ 10:36 am

  75. Curioso, quando falei numa certa má vontade quanto a algumas publicações, sabia o que dizia. Conheço alguns casos de excelente prosa – um dos quais com magníficos testemunhos pictóricos, únicos pelo aturado estudo e qualidade estética – que têm enfrentado as maiores dificuldades para a sua divulgação no dito mercado. Assim como é patética a teoria da “conspiração do silêncio dos retornados” que a sra. IF apontou no seu livro, julgo também que seria impossível existir um paralelo organizado no sentido de os amordaçar de vez. Até porque o nosso secular laxismo não permite esse tipo de veleidades piramidais.
    Mas não sou tão parvo como pareço. Conheço relativamente bem o meio e os medos “de ofensa” ainda estão vivos. É fácil publicar algo que faça apelo ao situacionismo ideológico (?) e se for pontilhado com umas ordinarices bem truculentas e assuntos de baixo ventre, melhor.

    Quanto ao que li mais acima e se referia à profusão de obras “laudatórias do colonislismo”, tal vem apenas confirmar a regra, porque as ditas obras não passam de albuns de fotos ex-privadas, postais de correios, etc. Os textos são genericamente anódinos e assim, passam.
    Mas cada um acredite no que quiser. É-me indiferente.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 28/01/2010 @ 11:59 am

  76. Bom, eu estava na expectativa que se chegassem aos 100 comentários, até por causa da “despesa” do Sr. ABM – 15 €, mas…

    Aceito, compreendo, o incómodo do JPT – realmente, este não é o tom do Blog, e os “outros”

    Dispararam, e rasparam-se, devendo estar no “comité” a rirem, a gozarem os efeitos das bombas colocadas…afinal, o que sempre fizeram melhor.

    Dito isto, e para dar por terminada a m/intervenção sobre este tema, faço apenas um apelo final.

    Quando, quem quer que seja vos venha escrever, ou falar, de colonialismo, assim só, não o aceitem, e corrijam/complementem de imediato

    – Colonialismo PORTUGUÊS

    Mas façam-no sempre, com atitude, firmeza, perseverança:

    – Colonialismo PORTUGUÊS

    E caso o “outro” seja burro, ou malabarista (a maioria), mostrem-lhes onde fica Sagres!!!

    E tudo numa boa.

    Acabei de acabar,

    mesmo.

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    Comentar por umBhalane — 28/01/2010 @ 5:00 pm

  77. Só mais uma dica a propósito de “amigos” e “convivência”:

    http://www.animaisemportugal.blogspot.com

    Imagens chocantes sobre a China e os chineses.
    Desaconselhável a estômagos sensíveis! E andamos nós a discutir livrinhos… e o sexo dos anjos. E daqui me vou. Saudações a todos os maschambeiros.

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    Comentar por Isabel — 29/01/2010 @ 2:30 am

  78. NCB concordo de antemão que haja (e que V. os conheça) textos memorialistas (ou documentais, ou ficcionais) de interesse que não tenham tido até agora recepção por parte das editoras [desde a recusa até à delonga, passando por essa imoral prática recorrente das editoras que publicam desde que os autores paguem a edição}. Mas não foi isso que V. disse e não foi disso que eu discordei, e veementemente. O que V. referiu é a existência de um sistema que impede essa publicação. Não vou abordar a pertinÊncia desse “sistema” e inquirir como controlará ele todo o plural mundo editorial.

    O que eu digo é outra coisa – há várias publicações em Portugal sobre o mundo colonial que não se inscrevem no “denuncionismo” anti-colonial (eu não disse que são “laudatórias”). Mais, e ao contrário do que V. diz sobre o caracter iconográfico dessas obras, tipo livro-objecto, referi quatro exemplos de textos ficcionais e memorialista – e referi-os, permito-me lembrar, ao correr das teclas, sem consultas bibliográficas e sendo eu um emigrante que tem pouco contacto com as livrarias portuguesas e, como tal, à grande produção editorial que aí vai. É nesse sentido que me parece que o seu argumento é descabido.

    Há alguma publicação mais “denuncionista”, seja ficcional, seja documental, seja ensaística. Mas – e como escrevi em texto recente no ma-schamba – também não há muito. Em particular sob o ponto de vista memorialista – e é também por isso que a publicação deste livro provocou esta celeuma. Portanto também por aí me parece que a existència de um “sistema” produtor e reprodutor de uma visão negativa do colonialismo (e castrador de um discurso oposto) também é manifestamente exagerada.

    Cumprimentos

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    Comentar por jpt — 29/01/2010 @ 10:25 am

  79. Ainda que em contradição com o que disse acima regresso aos comentários deste texto sem ser em diálogo directo com outros comentadores. Mas só ontem ouvi toda a espantosa entrevista radiofónica de Isabela Figueiredo (realizada, presumo, por Pedro Rolo Duarte [ERRATA: avisam-me do erro, o entrevistador é Carlos Vaz Marques]. E como não escreverei nenhum texto (post) sobre o assunto [outros machambeiros resmungariam, estou certo, devido a cansaço] quero, pelo menos aqui, deixar alguns pontos: um, que já tinha referido, mas que nunca é demais lembrar, é o do seu absolutismo intelectualmente incontrolado: “todos os homens eram como o meu pai [aka, horríveis], alguns até piores”, algo surpreendente – e não é uma expressão literária, é uma opinião, portanto não tem requebros retóricos ou formais que a defenda. [as “citações” são aproximações ao discurso oral, mas procuram ser o mais fieis que me é possível].

    Depois há a sua recorrente, e “lamentosa”, afirmação “eu estava lá, eu era colonialista, eu fui colonialista, eu assumo”. Para uma pessoa que viveu em Moçambique até aos doze anos (por mais que tivesse dado uma estalada numa outra) isto é surreal. Ou seja, denota uma teatralização do seu estatuto, uma sobrevalorização pessoal que apenas – só pode – quer funcionar como instrumento de legitimação empírica do discurso. Pobre afirmação e legitimação. E, entenda-se, a reclamação de “colonialista” para uma menina de 12 anos, ainda para mais reclamada 35 anos depois, é de uma indìgència intelectual, de uma ignorância pungente sobre tudo o que é reflexão sobre aquele sistema histórico, e não apenas semântica – algo pouco aceitável para quem afirma ter passado as últimas décadas envolta nesta sua característica biográfica (alguém me poderá vir dizer que IF quer ser a Gunther Grass portuguesa, mas nem sorriso isso provocará).

    Finalmente, a cereja em cima do bolo. IF diz que reconhece logo, e ainda hoje, os moçambicanos no meio de outros africanos (negros). Pois eles são lindos, têm uma cor fantástica, especial, têm características emocionais e estéticas únicas, tudo isso por ela (só por ela?) imediata, visceral, espontaneamente reconhecível – sei que os meus amigos moçambicanos (negros e não só) que aqui tenham chegado (ou que a tenham ouvido) já se estão a rir (e, com toda a certeza, a afiarem a língua para os óbvios impropérios de retórica machista que este tipo de discurso provoca). Mas vamos ficar no registo sério: ouvir este discurso é ouvir o típico discurso racialista, a da homogeneização alheia, a da des-individualização alheia (bonitos?, todos? a mesma cor da pele? todos? simpáticos? todos? agradáveis? todos? etc? todos?). É este discurso generalizador que IF utiliza para os colonos (portugueses, brancos, horríveis, infectos) e para os ex-colonizados (moçambicanos, negros, lindos, bem-cheirosos). É este discurso racialista, húmus de todo o racismo, que usa para o contexto moçambicano. Paternalista, desconhecedor. Acima de tudo racista na sua negação da multiplicidade estética, emocional, comportamental, afinal individual.

    IF é apenas mais uma das pessoas que pensa assim, mal e pauperrimamente, sobre os outros, neste caso sobre os moçambicanos – já encontrei inúmeras pessoas com este tipo de discurso, o desvalorizador do alheio (neste caso do negro), da sua irredutível diversidade humana – mesmo que, e é uma das versões, disfarçado (até inconscientemente) pelo elogio colectivo, por um olhar “simpático” sobre o magma alheio. O que me surpreende não é que IF assim pense, assim escreva, assim fale. Há tantos e tantas assim.

    O que me surpreende (pouco) e entristece (também já pouco) é que no meu país um meio literário, cultural, até jornalístico, que se reclama de um eixo intelectual e político moderno (ou pósmoderno), democrata [alguns até libertários], unanimemente anti-colonial e crítico do conteúdo colonial português, que esse meio acolha acriticamente estes dislates, um discurso neles assente. Elogiam-no, defendem-no e (como em recente artigo no suplemento cultural do jornal Público, de Vanessa Rato) é-lhe até aventado o estatuto de iniciador de um discurso pós-colonial em Portugal. Esta adesão será conjuntural por um lado – um pouco de “estação”, um pouco por efeitos de grupos (blogo)mediáticos – mas é por outro lado indiciadora de um contexto intelectual dominante: está no Público, está nos jornais, está na rádio (o desvelo de Carlos Vaz Marques é óbvio), está nos blogs – até o Respirar o Mesmo Ar do meu amigo, e co-bloguista do Olivesaria, jpn surge a reclamar a excelência disto.

    Dislates da autora. Pouco importante. Mas que gigantesco manto de ignorância no meu Portugal todo este pequeno fenómeno vem desvendar. E isso sim é lamentável. Doloroso. Porque estrutural.

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    Comentar por jpt — 29/01/2010 @ 10:54 am

  80. […] nos últimos largos dias. Mas nas catacumbas dos comentários a discussão continua. Acabo de lá deixar – por alturas do 80º comentário – o que noutro contexto seria um […]

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    Pingback por O perigo da monomania, | ma-schamba — 29/01/2010 @ 1:24 pm

  81. A MR avisou (no espaço ma-schamba no FB) que o processo de chegada a este meu último comentário é muito moroso. Como não quero transformar isto num “post” por razões que já indiquei (um cansaço endógeno com este assunto) irei copiar o comentário 79 para os comentários do post aqui ligado no comentário 80, que apenas anuncia este meu último comentário, e onde será o primeiro portanto de mais fácil acesso. Não quero com isto encerrar esta caixa de comentários, apenas facilitar a leitura deste explicíto texto.

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    Comentar por jpt — 29/01/2010 @ 2:56 pm

  82. UmBahlane:
    Claro que já havia escravos, muitos séculos antes de Portugal existir. Mas…
    Em 1444, aportou a Lagos, vindo da Gãmbia, uma caravela do navegador, com 235 escravos no porão. Depois inaugurou-se em Lagos o primeiro mercado de escravos negros que a Europa connheceu.
    Portugal foi o campeão do tráfico negreiro transatlântico da idade moderna, ultrapassando todos os outros países juntos. Só no séc.XVIII é que o tráfico transatlântico inglês ultrapassou o português.

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    Comentar por Ovni — 29/01/2010 @ 9:26 pm

  83. OVNI – sempre acreditei que Vs andavam aí. Obrigado pela aparição.

    Entretanto, por razões de arrumação do ma-schamba decidi arrumar o comentário 79 como adenda ao texto http://ma-schamba.com/portugal-africa/o-erro-e-o-outro/

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    Comentar por jpt — 30/01/2010 @ 7:56 pm

  84. Li com interesse os comentarios neste blog ao livro de IF.

    Em primeiro lugar acho que sera importante reconhecer que existem verdades sobre o colonialismo e nao somente uma verdade. Muitos tiveram vidas maravilhosas em Africa e nunca maltrataram ninguem, e nunca viram ninguem a maltratar ninguem. Outros maltrataram e ainda outros foram maltratados.

    Acho interessante aqueles que pensam que Portugal fez obra em Africa. Que Portugal foi esse que sempre se fez maior do que realmente era e se “esqueceu” de fazer obra em Portugal, e que viveu decadas sobre a ditadura de Salazar e nem sequer foi capaz de fazer uma revolucao e uma descolonizacao a maneira?

    Que Portugal e esse que ainda tem medo de olhar para Africa e aceitar as verdades da sua veia colonialista?

    Como diz Jose Gil, Portugal e os Portugueses ainda nao fizeram o luto do seu passado de ditadura e como tal o sangue salazarista ainda lhe corre nas veias.

    “O que aconteceu foi uma espécie de continuidade estranha, não houve ritual de passagem, e o ritual é por definição aquilo que provoca uma mudança. O ritual de um acontecimento tragico faz com que o Homem possa mudar. Fazer o luto é não ser mais apanhado pelo morto. O luto é o que nos separa do mundo dos mortos para podermos continuar a viver. Ora, nós não fizemos isso, e não o tendo feito, continuámos a ser apanhados pelo mundo dos mortos quer dizer, o mundo salazarista. Não houve o retorno, um virar do avesso, a criação de um, como se diz sempre, «novo homem». ”
    – Jose Gil

    Portugal continua a ser um “velho homem”. Quem o quiser comprovar que leia recensao ao livro de IF neste blog e a maior parte dos comentarios que se seguem, principalmente aqueles que critical o livro sem sequer o terem lido (???).

    Sera por isso mesmo que depois de ter “construido” um grande imperio continua, como sempre, na periferia.

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    Comentar por Marko Zambeze — 31/01/2010 @ 5:57 pm

  85. Prezada Isabel
    Tambem sou investigadora, e li e reli o livro da IF. Sou de uma geracao que nao pode cantar e louvar “a obra feita” que os portugueses deixaram em Africa. Mas, a verdade e que muitos da minha familia que ficaram em Mocambique depois da independencia, dizem-me que em Mocambique a iliteracia, a pobreza cultural, e a degradacao economica eram gritantes. Pergunto-me que obra tao aurea foi essa que se evaporou de um dia para o outro? Gostaria de lhe chamar a atencao para duas versoes de uma mesma realidade: a realidade dos que espoliaram, mas achando que levavam com eles a tal gloria civilizadora, e a realidade dos espoliados, aqueles que a senhora continua a chamar de colonizados, mas que, na verdade foram roubados, explorados e manipulados. Por favor, deixemos de atirar areia para os olhos, a Historia oficial ja foi ultrapassada com as vivencias e experiencias reais dos chamados ‘colonizados’, que vieram demonstrar a perversidade e falacia da obra feita portuguesa. Leia Craveirinha, Noemia de Sousa, venho para mais perto do tempo, leia Joao Paulo Borges Coelho, e depois falamos dessa obra feita de Portugal.

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    Comentar por Princesa_z — 31/01/2010 @ 6:37 pm

  86. Prezada Isabel
    Certamente sabera melhor do que eu: qual era a taxa de analfabetismo em Mocambique, em 1975? E qual era a taxa de analfabetismo em Portugal, em 1975?
    Mais uma duvida, se fomos assim tao bons e maravilhosos, por que e que continuamos com medo de mexer no passado e a tentar justifica-lo?
    Nao acha que andamos a sublimar as falhas da nacao, com estes verbosinhos falaciosos de civilizar, cristianizar, etc, etc?

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    Comentar por Princesa_z — 31/01/2010 @ 6:50 pm

  87. Cara Princesa_z,

    É muito difícil reunir um consenso sobre o q foi o colonialismo português em África – há muitas verdades, meias-verdades e muitas mentiras, muitas versões e muita gente envolvida num processo q deixou feridas abertas. Aquilo q eu quis dizer com a “obra feita” (mal ou bem), deixada pelos portugueses nas ex-colónias, é q eles se esforçaram para a fazer, apesar das limitações impostas pelo regime do Estado Novo (todas as riquezas extraídas do solo africano eram para equilibrar e enriquecer os cofres da Metrópole…) e q de pouco adiantavam as tentativas (abortadas) para mudar o estado das coisas nos territórios ultramarinos – e não foram poucas as tentativas (em Angola, eu estava lá, eu vi, eu ouvi, eu presenciei).
    Após as independências desses territórios não me consta q os novos senhores (os ex-colonizados) tenham feito melhor para dar ao seu povo o q era suposto ter sido expoliado pelos portugueses e o nível de vida da maioria das populações está, como todos sabem, no limiar da pobreza mais abjecta. E já lá vão alguns anos! Entretanto, os oportunistas vão engordando as contas em offshores – o novo ‘colonialismo’ floresce, desta vez dos africanos sobre os africanos e ninguém parece escandalizar-se.
    A propósito deste último tema, deixo aqui um excerto de um admirável livro (este sim), publicado já lá vão 10 anos, sobre o amor devotado a África e, mais particularmente, a Moçambique, por um dos seus filhos adoptivos, Adelino Serras Pires – “The Winds of Havoc, A Memoir of Adventure and Destruction in Deepest Africa” (2001), pp 253-254:

    (…)Epílogo

    “O Vento de Mudança soprou e desapareceu e, no final do século não há um único país africano sujeito a qualquer potência exterior. Todavia, há centenas de milhões de africanos sujeitos à servidão desde o primeiro dia da uhuru…” JohnQwelane(proeminente jornalista negro da África doSul).

    (…)Nos primeiros meses do novo milénio a agitação prossegue em muitas partes de África. No continente há mais de 20 países num estado de guerra declarada ou numa situação de extrema tensão. O Sudão pode servir de exemplo, uma vez que é aí que se desenrola a guerra civil mais prolongada de África. Esta continua a sofrer com os tiranos, as crianças soldados, os genocídios de cariz tribal, as limpezas étnicas e a deslocação de populações. O espectro da severa falta de alimentos, que pode redundar numa fome em grande escala, paira sobre grandes áreas do continente e ameaça directamente o que resta da vida selvagem. A África subsariana é cada vez mais marginalizada na economia global em virtude dos riscos envolvidos, e é agora vítima de uma nova servidão, a pós-independência.
    O jugo da tirania política, da corrupção, da fome, da iliteracia, da pobreza e das enfermidades galopantes é cada vez mais pesado. A África subsariana é o epicentro da pandemia de SIDA, que só irá ser sentida com toda a força, assim o afirmam os especialistas, durante a próxima meia dúzia de anos. Mais de 70 por cento das vítimas da SIDA vivem na África subsariana. A África do Sul, de longe o país mais avançado do continente sob todos os aspectos, já está envolvida no pesadelo cada vez maior dos órfãos da SIDA e nos bebés portadores do HIV que são abandonados. As consequências socioeconómicas e sociopolíticas deste facto são evidentes.
    Desde os anos 1960 e do princípio do processo de descolonização, a África sofreu mais golpes e mais revoluções violentas do que qualquer outra parte do mundo.
    Muitos países africanos trocaram uma forma de domínio e exploração por um mal muito maior, o domínio e exploração por parte do seu próprio povo. Mobutu, no Zaire, foi o exemplo clássico do molde do “presidente vitalício”. Milhões de africanos sob governantes despóticos vivem em casulos de medo para onde os oportunistas estrangeiros, tal como chacais a quem já cheira a sangue, se mudaram rapidamente a fim de explorarem, agarrarem e fugirem, deixando o povo a enfrentar uma nova ruína. Vem-me à mente Angola e a sua florescente indústria do petróleo. As riquezas minerais de África condenaram-na a este destino e a vida selvagem é um bem sacrificável. A caça furtiva tornou-se num negócio nas mãos dos sindicatos internacionais do crime, ajudados por uma vasta corrupção. Os soldados e as AK-47 não são uma mistura feliz para o povo africano… nem para a vida selvagem do continente. Não é possível falar de conservação aos esfomeados, desalojados, doentes e desesperados(…)

    The Winds of Havoc – A Memoir of Adventure and Destruction in Deepest Africa, Adelino Serras Pires, 2001, pp 253-254
    http://www.macua.org/livros/serraspires.html

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    Comentar por Isabel — 01/02/2010 @ 3:26 am

  88. e eu a fazer um post referindo o Serras Pires. Como é visível dá para tudo …

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    Comentar por jpt — 01/02/2010 @ 3:41 am

  89. jtp:

    Explique-me, q eu sou muito burra: desta vez estou em sintonia ou estou a levar nas orelhas… uma vez mais?!

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    Comentar por Isabel — 01/02/2010 @ 3:53 am

  90. Isabel se eu lhe estivesse a “dar nas orelhas” por ter evocado o Serras Pires ao mesmo tempo que eu fazia um post referindo-o estaria também a “dar-me nas orelhas”, coisa que por vezes faço mas, infelizmente, não tantas como aquelas que deveria. Vale tudo no sentido em que num salto se passa aqui do Prof. José Gil, que atempadamente nos explicou o que são os Portugueses e como pensam e impensam, não sem deixar de utilizar essa sempre prestigiada antropomorfização da sociedade (aqui também lembrada pelo Grande Rio) – coitada da Isabela Figueiredo tanta gente aqui a criticar-lhe as generalizações e tínhamos ali à mão a conversa de café do José Gil, tão vendida e louvada foi. Mas dizia eu, passa-se do José Gil a chamar-nos homem velho e chegamos ao Serras Pires, e com ele a todos que nos vêm dizer que África está mal. Está? Pois. E como tal também acho que os islandeses, agora falidos com todo o garbo quase escandinavo, devem ir estabelecer-se e mandar na Grécia, país e povo (como se chamará o Gil grego?) manifestamente incapaz de tomar conta das contas públicas. Ou então, deixamos os pobres islandeses lá nos gelos, em paz, e tornamos a Grécia um protectorado do John Bull.

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    Comentar por jpt — 01/02/2010 @ 10:10 am

  91. Ovni

    Também sempre acreditei que Vocês por aí andavam. Obrigado por ter aparecido.

    “É que nem o tráfico Atlântico foi iniciado pelos Portugueses.”
    “Portugal foi o campeão do tráfico negreiro transatlântico da idade moderna,…”

    2 coisas bem diferentes, e não incompatíveis.

    Não discuto a medalha atribuída a Portugal como campeão da idade moderna.

    Com base em documentos, manifestos dos navios Portugueses, mercados de escravos, documentos de transacções, etc… será? E da Europa, à época, o Atlântico era “coutada” Portuguesa, Papa dixit.

    O grande “mal” da Europa – os documentos escritos!

    Já consultou, ou teve igualmente acesso a obras baseadas em documentos Árabes, nomeadamente manifestos dos seus navios atlânticos/Índicos, ou das caravanas terrestres? Não?

    Ou de potentados Negros, igualmente traficantes de envergadura?

    Hum!

    Não pretendo desculpabilizar, branquear NADA.
    Apenas contextualizar.
    E a escravatura, à época, não tinha a carga “moral” que hoje tem.
    E ela continua, em África, nas Arábias, e um pouco por todo o lado.

    E esta preocupa-me, muito mais.

    Em Portugal, também.

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    Comentar por umBhalane — 01/02/2010 @ 2:00 pm

  92. UmBhalane:
    Pelo vistos não tinha há até pouco tempo. A Monarquia foi derrubada no Brasil, por precisamente ter promulgado a Lei Áurea. Os escravocratas vingaram-se e derrubaram Pedro II, iniciando um longo século de quarteladas e do resto que se vê. E não me parece que os negros vivam muito bem para aquelas bandas.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 01/02/2010 @ 2:33 pm

  93. delirante, adorei ler tudo isto
    de qualquer maneira trata-se de um livro de memorias e como tal totalmente livre, podia-se até integrar numa qualquer corrente de post-surrealismo ou escrita automática … 🙂
    isso não tem nada a ver com Historia de Portugal , tem a ver com a história da Isabela Figueiredo

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    Comentar por vera — 03/02/2010 @ 5:24 pm

  94. Também vim de L.M. em 74 e com 12 anos. Essa Isabela não viveu de certeza na mesma cidade que eu!
    Sempre tive amigos brancos e pretos e de outras cores, que era o que lá não faltava. Andei num colégio de freiras bem conhecido e de renome em L.M. e havia estudantes de todas as raças. Não conheci esse Moçambique racista que ela pinta. O ódio que ela tem pelo pai e que ainda não conseguiu ultrapassar, devia tratá-lo num consultório não num livro.

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    Comentar por Anabela — 24/02/2010 @ 9:17 pm

  95. E não são os livros consultórios com páginas? Para quem escreve e para quem lê. O que é que acha a cara Anabela do conceituado colégio aonde havia estudantes de todas as raças? No meu liceu, do tempo colonial, não havia muitas raças.Na minha turma havia uma única africana-negra que não era propriamente muito acarinhada pelos profs. A isabela é o menos, mas o resto, já se esqueceram? Acho que não se devem alimentar ódios inúteis,mas ser objectivo e não ter a memória curta nunca fez mal a ninguém.

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    Comentar por joana padrel — 24/02/2010 @ 10:10 pm

  96. Cara Joana
    Não conheci esse Moçambique tão racista, de certeza.
    Também andei no Liceu António Enes e a minha turma não era composta só de brancos. Sempre brinquei com os outros miúdos na rua sem qq entrave pela cor da sua pele. O que sempre aprendi, tanto em casa como no colégio em que andei, foi que devia respeitar os outros como seres humanos, fossem brancos, amarelos, indianos, pretos etc. Sempre vi isso na minha família e nas pessoas com quem convivi. Não acredito que fossem únicas…
    kdo cheguei a Portugal continental aí sim, vi racismo e discriminação. Sofri na pele o ser r(entornada) ke na altura preferia dizer refugiada. Mesmo sendo loura de pele branca e olhos claros…imagine o ke sofreu a unica miúda negra da minha turma cá…
    É claro ke, como em todo lado e em todas as raças ou religiões há pessoas respeitadoras dos valores humanos e outras que não têm esses valores,. Vêmos isso a toda a hora, não podemos é generalizar e dizer que todos os brancos eram uns sacanas.

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    Comentar por Anabela — 24/02/2010 @ 10:43 pm

  97. Não perca o seu “landim”, Anabela. Há gente que prefere rastejar e curar-se às custas de outrem. Não se rale. Não sei em que “liceu” a Joana estudou, mas devia ser muito selecto e até vedado a muitos brancos. Talvez fosse privado, do estilo do Externato Fernando Pessoa, por exemplo…
    Na Escola industrial (na 24 de Julho), a conversa era outra e bem diferente. Bem sei do que falo.

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    Comentar por Nuno Castelo-Branco — 25/02/2010 @ 1:07 am

  98. Sim,felizmente há pessoas respeitadoras dos valores humanos.
    Terá interpretado bem o meu comentário? Não creio ter “generalizado”,nem muito menos ter chamado “sacana”a quem quer que fosse. Entre os valores a transmitir aos nossos filhos ,o mais importante será o do respeito por todo o ser humano, como , estou segura , tentaram fazer consigo . O que não conseguiram transmitir-lhe foi que o ser ou não ser “sacana” nada tem a ver com a côr da pele. E que até “as louras de pele branca e olhos claros” têm direito a não ser discriminadas . Infelizmente, teve de o aprender à sua custa . Não se esqueça que Moçambique “foi”, o Portugal da ditadura e do fascismo. Foi isso que eu vi, tanto lá como cá.

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    Comentar por joana padrel — 25/02/2010 @ 2:13 am

  99. Já chega!
    Viremos a página, temos tantas coisas interessantes para ler, aprender e conversar….
    Jokinhas

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    Comentar por Nita — 25/02/2010 @ 2:56 pm

  100. É a primeira vez que entro neste site. Era à procura de textos sobre a Isabela Figueiredo. Tenho que confessar que fiquei chocado com a veemência das críticas, por vezes insultuosas, que aqui professam tanto autores como comentaristas a um livro que (não sei se realmente o leram ou se simplesmente passaram páginas à procura de perlas que se podiam machacar para efeitos sensacionalistas) só comete um pecado: resulta incómodo para as perspectivas (sistémicas e antisistémicas) nos que a imensa maioria daqueles que aqui opinaram se habituaram a instalar. É interessante notar, contudo, como a crítica negativa que aqui se verteu (partindo, primeiro, de pseudo-recensões, partindo de informação de 2.ª e 3.ª mão) não foi capaz de originar nenhum debate sério sobre o colonialismo português, os retornados, o racismo, o sexismo, etc. Faz-se confusão entre autobiografia literária e documento historiográfico, entre discurso despretencioso e claro e simplificação ou generalização, etc. Lambem-se as feridas da memória (que sempre é individualmente construida) e morde-se a quem fuja da regra.

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    Comentar por Paratradutor — 30/04/2010 @ 4:41 pm

    • ó tardio comentador com intuitos professorais – em relação às veementes críticas que os autores aqui deixaram elas partem de um gigantesca superioridade intelectual, que não é de grau, é de espécie. “A gente” sabe o nosso nome e assina-o. Já os vermezitos anónimos, analfabetos ou com prosápias a sôtor, a “veemente crítica” é nada. Não prestam.

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      Comentar por jpt — 02/05/2010 @ 7:36 am

  101. Obrigado pela lucidez aguda dos seus ensaios e analises. Sou mocambicano, ha quase 40 anos nos EU. Ler as suas paginas veio despertar a consciencia das minhas raizes luso-africanas. Aproveito para indagar se alguem sabe como e onde poderei ler os poemas originais publicados nos Cadernos de poesia CALIBAN 1, 2 e 3, em Lourenco Marques circa 1971? Kanimambo ☺

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    Comentar por Artur S Santos — 23/04/2018 @ 4:52 am


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