THE DELAGOA BAY REVIEW

20/05/2010

O LÍDER RAZOÁVEL

Filed under: Pedro Passos Coelho, Politica Portuguesa — ABM @ 2:34 pm

por ABM (20 de Maio de 2010)

Em qualquer país, a constituição e articulação de uma oposição efectiva tem que passar pelo seu posicionamento enquanto alternativa a) credível e b) eficaz, à governação do dia.

Pois sem estes dois atributos não há, realmente, oposição.

Surpreendeu, portanto, que a eleição de Pedro Passos Coelho para a liderança do Partido Social Democrata nestes tempos difíceis, tenha para já falhado nestes dois critérios básicos, ao ponto de já ter recebido de nada menos que Mário Soares, o rótulo envenenado de ser “um líder razoável”.

Ou seja, que não procura o poder e que opta por, em nome da “crise” e do “interesse nacional”, colaborar com o governo de José Sócrates, nem que para tal tenha que, como o mais dúbio salvo de abertura da sua actuação opositora, vir formalmente pedir desculpa ao eleitorado português por ter achado que tinha que assinar por debaixo em relação a uma série de medidas legislativas para aumentar os impostos, em troca de uma (vaguíssima) promessa de redução dos custos no sector público. Um Sócrates algo marialvista logo aproveitou para contrapor numa entrevista na RTP que, por sua parte, não tem que pedir desculpa por coisa nenhuma e que fará o que tiver que fazer para o Bem da Nação.

E para José Sócrates parece que o Bem da Nação para já implica aumentar desmesuradamente os impostos. Numa infeliz analogia, referiu, por exemplo, que aumentara em nada menos que 20 por cento o imposto de valor acrescentado sobre os bens essenciais (coisas como pão e leite, que passaram de 5 para 6 por cento) pois nessa classe estavam incluídas a Coca-Cola e a Fanta, que eram consumidas por esses malandros, os ricos.

Ah, pois.

Quanto à redução da despesa pública, o assunto é um mistério. Mas a experiência recente indica que é mais fácil Nossa Senhora de Fátima aparecer na Praça do Comércio num domingo que um governo da República Socialista cortar as suas despesas.

A verdade é que, como nos tempos de D. João V e D. José I, o negócio, mesmo, em Portugal, ainda é e continua a ser o Estado. E não é só uma falha de liderança. Está no DNA de imensos portugueses. Pois ao menos esse pode sempre cobrar, quase impunemente e sem receio de lhes serem assacadas responsabilidades enquanto que as pessoas vivem na ilusão da mama do Estado.

E não parece até agora ter sido o advento da institucionalização de alguma medida de democracia que alterou essa realidade.

Pelo contrário.

Sem acordo quanto aos princípios básicos de como deve funcionar a sociedade, corre-se agora o risco dessa certa medida de democratização resvalar para uma tirania populista do gastar o que se tem e não tem em nome do bem estar do povo, reunindo uma porca aliança de funcionários públicos, sindicatos, reformados, subsidiodependentes, comunistas e bloquistas esquerdistas e, por enquanto, o exército de 600 mil desempregados a viver de algo generosos subsídios. Tudo com dinheiro que já não há há muito tempo. Uma caricatura ibérica do chavismo venezuelano. Que, neste caso sem dinheiro e sem petróleo, sem imaginação nem remessas dos portugueses emigrados, poderá rapidamente resvalar para um pântano, uma versão mais elegante mas igualmente nojenta do Portugal do fim da monarquia ou do fim da I república.

Na actual configuração política, a única alternativa credível ao PS de José Sócrates é o PSD de Pedro Passos Coelho.

E o que temos tido até agora? Uma versão alaranjada do Português Suave. O “líder razoável”, já acida, e se calhar correctamente, rotulado pelo Dr. Mário Soares.

Os próximos três anos vão ser, para pôr as coisas de uma forma simpática, tempos de uma mudança radical de paradigma para os residentes de Portugal. Isso já se sabia quando Portugal integrou a CEE e depois a zona Euro.

E sem uma liderança forte e focada, assim não se vai lá.

12 comentários »

  1. Discordo, a “a única alternativa credível ao PS de José Sócrates é o PSD de Pedro Passos Coelho.” é-o porquê? Se não o é porque temos de o dizer como tal? Não há outra? Então não há mesmo. Agora andar a vender gato por lebre porque o que está no tacho também é gato é que não me parece legítimo. Concedo que este novo gato não merece ser desvalorizado face ao actual – que fede na sua nojenta aldrabice cleptocrática [ouço gente dizer que “Passos Coelho é pior do que Socrates” o que é mero preconceito, pois o homem nada fez e este está cheio de projectos feitos que não poderia ter feito (e tem deputados ladrões que são aplaudidos, já agora, pois segue as pisadas do grande líder). Mas ainda assim nada promete. À direita está o gajo dos submarinos (e muita outra estranha coisa), à esquerda é melhor nem dizer. Que fazer?, pergunta o mongol Lenine?

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    Comentar por jpt — 20/05/2010 @ 4:54 pm

  2. Jpt

    A alegada preferência pela liderança actual do PSD não é minha. É meramente sistémica e decorre da aritmética eleitoral vigente. Não estou a ver governos de iniciativa presidencial nem golpes de estado ou mexidas constitucionais.

    Ainda.

    Meramente analiso a táctica. E tacticamente, acho que o principal partido da oposição portuguesa já está a meter os pés nas mãos (ou lá como se diz).

    A solução é só uma e sempre a mesma: emigrar. Como deverás já ter constatado, ser-se português fora de fronteiras tem todas as vantagens e nenhum dos inconvenientes, para além de nos saírem filhos ligeiramente hifenizados de alguma coisa. É um pouco como beber uma boa garrafa de vinho sem ter que pagar por ela nem levar com as borras no fundo.

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    Comentar por ABM — 20/05/2010 @ 5:08 pm

  3. Discordo. E perfeitamente possivel e ate desejavel que as oposicoes, ocasionalmente trabalhem em sintonia com o governo em alguns assuntos em que concordem.
    Nunca concordar e que nao e normal numa sociedade que se quer moderada e de consenso. E tambem sintoma de falta de maturidade, a diversos niveis.

    Discordo ainda de uma analise que aparenta aceitar sem analise critica a ideologia economica emanada da UE (leia-se Alemanha) que dita estas receitas de austeridade permanente (e desigual acrescente-se) que mais nao farao do que afundar a Europa inteira no proximo semestre numa recessao que, ironicamente, so piorara os problemas orcamentais que alegadamente querem combater.
    Isto enquanto continuam a ceitar sem pestanejar, as cauas destes deficites:
    – desregulacao do sistema financeiro que resulta em ausencia total de controlo nos fluxos de capitais
    – incoordenacao fiscal a nivel europeu que apenas leva a uma “corrida para baixo”, ou seja, numa Europa que se afirma unida, cada um tenta competir com um sistema fiscal qualquer que roube mercado ao vizinho do lado… bonito…
    – competicao com paises que nao tem as mesmas normas ambientais e sociais que Europa tem.

    Avizinham-se tempos ainda mais negros e cada vez tenho menos esperanca que a saida desta crise a nivel europeu se faca “por cima”. Creio mesmo que (fora a ocorrencia de um milagre que mude a linha de pensamento dos lideres europeus) o Euro se desintegrara no proximo ano.

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    Comentar por Lowlander — 20/05/2010 @ 5:53 pm

  4. Exmo Sr Lowlander

    Li e respeito a sua aferição da situação e discórdia, mas deixe-me defender um pouco mais o que referi acima, pois me parece que a sua discórdia pode não ser tão assim (mas se for, azar):

    1. Pelo que tenho lido e visto ao longo dos últimos 18 meses, período em que me dediquei mais às coisas portuguesas, o Partido Social Democrata tem sido consistente, quase demagogicamente, contrário a tudo o que o Partido Socialista tem defendido e feito. Evitar atritos agora porque a situação é mais difícil e que haja interesses superiores em causa, é negar o facto de que a situação já era difícil antes ou que o interesse superior nacional já não estivesse em causa a partir de, digamos, 2004. Bastava ler as estatísticas para se entender o que se estava a passar.

    2. Assim, quer por razões estratégicas ou de filosofia política, quer razões tácticas – como aliás já se viu numa escassa semana – o PSD, estando fora do governo, alinhar em meias medidas que a curto e médio prazo só beneficiarão quem, na sua óptica, é grandemente responsável pela devassa das contas públicas e enormes exposições da república (socialista) não é só uma má jogada: é brincar com o fogo. Quer um exemplo? eu dou. Eu acho que o PS é intrinsecamente incapaz de a) reduzir significativamente a despesa pública, b) reduzir os impostos, c) criar formas de dinamizar o sector privado, o único que pode eventualmente gerar riqueza e empregos, d) alterar o paradigma da sociedade portuguesa que, da última vez que ouvi, a tornou supérflua, ineficiente e não competitiva.

    Se me perguntar se eu acho que é o PSD e o Dr. Passos de Coelho que vão fazer isto? provavelmente se calhar não, mas eles dizem que sim, e o problema, mas também a oportunidade do sistema eleitoral democrático, é que se aparecer a oportunidade de decidir, e uma maioria votar, as coisas acontecem.

    Eu apenas sinto que neste momento está-se a sugerir, ou a pedir, que a raposa continue a guardar as galinhas na capoeira.

    2. O Sr. vai-me desculpar mas eu concordo plenamente com a posição da Alemanha. Feliz ou infelizmente, apesar da aparente rigidez do SME, a adesão ao sistema foi voluntária (ninguém apontou a pistola à cabeça dos portugueses para entrarem, e todos comeram um bom fartote enquanto puderam) mas também – infelizmente, foram mais compromissos de honra do que obrigações a adesão aos limites de endividamento global e da percentagem dos tectos máximos para os défices públicos permitidos anualmente a cada país membro.

    Ora, numa – em qualquer – recessão económica, esperam-se comportamentos diversos, desde uma postura consistentemente conservadora, desde 1945, no caso da Alemanha, até ao laxismo fiscal e incúria orçamental de alguns países da orla latina cujo nome omitirei.

    Países que, no advento desta recente recessão, causada basicamente pelos americanos, a partir de Janeiro de 2009, optaram por gastar o que (não) tinham em termos das suas contas públicas.

    Ora, no agregado, o efeito seria exactamente o que se está a passar agora: a descridibilização do SME, a ausência de um mecanismo correctivo formal (a solução do BCE é uma espécie de tapar o buraco, na falta de melhor) e eventualmente a desvalorização do euro, que já se verifica, a que se vai seguir um recrudescimento da inflação enquanto que em depressão económica – aquilo que em economia se chama stagflation. Ora os alemães, que já lidaram uma vez com a total desvalorização da sua moeda (nos tempos da república de Weimar, nos anos 20) e que gerem uma economia competitiva e relativamente eficiente em termos mundiais, desde o início tentaram equilibrar entre manter algum controlo dos mecanismos da moeda europeia e do seu valor, com os outros grandes objectivos do projecto da União Europeia: a criação de um mercado único e o abraçar de um projecto político que trouxesse maior segurança e chances de paz à Europa.

    Mas isso não quer dizer que eles, que já pagaram, nos anos 90 e para lém, um custo verdadeiramente astronómico para incorporar aquela carcaça que era a antiga RDA (mas que, enfim, era parte integrante da Alemanha) agora tenham que vir suportar – de que forma não sei – os devaneios da Grécia, Espanha, Portugal, etc. As coisas não funcionam assim.

    Por várias razões não é muito comparável, mas dá para perceber que, quando há uma recessão nos EUA, e um estado sofre mais os efeitos dos encerramentos de empresas, desemprego e défices, o que se faz é muito simples: as empresas encerram, as pessoas vão procurar fazer algo diferente ali ou noutro sítio qualquer, e aperta-se o cinto.

    Aqui quer-se os benefícios de um SME mas não se pretende aderir às correspondentes obrigações.

    Então, acabe-se com a UE e salve-se quem puder?

    3. Concluo referindo que acho que o Sr. LL acertou o tiro em cheio na referência crítica que fez às causas da actual recessão. Eu ia mais longe: a actual União Europeia é uma espécie de mulher meio grávida. Não somos nem carne nem peixe. Numas coisas somos países soberanos, noutras não. Das duas uma: ou se aprofunda a natureza da União (timidamente, já foi dado um passo ao se exigir que todos os países submitam as suas propostas de orçamentos para “consideração” da Comissão Europeia, anualmente) e este espaço fica mais semelhante aos EUA (o que nem de perto nem de longe nos vai livrar de recessões como a que se abate sobre partes da Europa neste momento) ou volta-se àquela época dançante em que o governo desvaloriza a moeda a seu bel-prazer, alimenta gigantescos défices, com que vai enganado a prole durante uns anos, e assume assim, pela porta do cavalo, a redistribuição do valor acrescentado remanescente na economia.

    E mais uma vez os portugueses ficariam alegres e pobres. Pobres e alegres.

    Pessoalmente, neste momento, tanto se me faz.

    Quanto ao desaparecimento do euro, creio que rumores quanto a esse cenário são prematuros. No mínimo, os custos logísticos e políticos desse cenário ainda são inaceitáveis.

    Entretanto, se ainda não o fez, e para que possa dormir melhor à noite, siga a minha recomendação:

    compre alguns dólares 🙂

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    Comentar por ABM — 20/05/2010 @ 7:23 pm

  5. 1. ABM, sim, não digo que és tu o opinador, mas contesto a opinião geral, pois não me parece que este PSD vá a algum lado enquanto real alternativa ao lamentável estado a que chegou Portugal. E concordo em absoluto com o ponto 2 (o 1º ponto 2) do teu comentário, estão a espalhar-se ao comprido. Mas sim, gostaria de estar enganado nesta minha des-esperança (repara, tu falas na República Socialista. Já noutro comentarismo trocámos ideias sobre isto: acho que a sociedade portuguesa trocou o proteccionismo do salazarismo (imperial) pelo proteccionismo interno, o Estado como substituto das pautas – isto não é exactamente socialismo, é bem pior, mais estrutural; Quanto ao PSD eu confesso que não tenho qualquer esperança numa alteração de rumo comandada pelo partido do senhor Fernando Ruas (veterano chefe da Associação dos Municípios – sangradores dos recursos públicos) e onde Luis Filipe Menezes (presidente da camara de Gaia, a grande endividada) chegou a presidente. Ou seja, também o PSD é partidário e agente feroz daquilo a que tu chamas “república do estado” e que eu começo a chamar “Estado protectivo”. Nada bom me parece poder sair daqui….

    2. ABM / LL sobre as soluções económicas e financeiras nada digo, total leigo. Sento-me a ler-vos. Mas talvez me atreva a dizer duas coisas: a) eu ainda tenho os dolares que não vendemos no 11.9, a ver se recuperamos agora; b) se calhar esta caixa de comentários é um bom trampolim para um post teu sobre a matéria, daqueles em que explicarias aos indigentes (como eu) do que se trata

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    Comentar por jpt — 20/05/2010 @ 11:12 pm

  6. Jpt

    Infelizmente concordo contigo quanto ao que me refiro quando refiro com algum veneno bem disposto a essa da República Socialista. No fundo o PSD já resvalou e rapidamente poderá recair no mesmo paradigma, que em tempos (quem se lembra) se chamava “o Estado laranja”.

    Desculpa-me (e desculpem-me o 1º e 2º ponto 2. Quando escrevo vejo cinco linhas para cima e discorri sem ver que havia já um ponto 2….

    Quanto ao dólar, o principal já está dito acima: o valor das moedas hoje reflecte a percepção que as pessoas e os mercados que estudam os números veiculam como o seu entendimento presente e futuro. É, assim, fruto de um acto de fé. Durante algum (muito) tempo, havia a impressão que a Europa era uma super-fortaleza e que o euro era a sua moeda super-forte, enquanto que os EUA eram o gigante doente com pés de barro. Logo, euro para cima, dólar para baixo. Nós últimos dois meses, constatou-se duas coisas. A primeira, é que “afenal” a Europa também tem pés de barro. A segunda, é que, a prazo, os EUA, que continuam a ser o motor da economia mundial e o titular e gestor da moeda de denominação da (de longe) maior quantia mundial de reservas internacionais, vão recuperar primeiro que os outros. Face a isto, dólar para cima, euro para baixo.

    Nada demais. Os mercados andam muito nervosos. Parece que ninguém se lembra quando há nove anos um euro valia 0.9 dólares. Nessa altura ninguém chiava. Anos mais tarde, o euro chegou a valor 1.6 dólares, o que é, retrospectivamente, surreal. Mas aconteceu.

    Para quem puder, é meter uma parte da eventual poupança em euros e o resto em dólares e assim, em média, fica na mesma.

    É a técnica de nunca colocar os ovos no mesmo cesto, uma valiosa lição do “entornadorismo”.

    Tem a vantagem adicional de ser “tax free”. O Eng. Sócrates não tem maneira como tributar. Coitado.

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    Comentar por ABM — 21/05/2010 @ 12:34 am

  7. Caro ABM,

    Quanto ao ponto 1: esta bem, compreendo melhor o seu post, esta a criticar o sentido tactico desta oposicao em particular e provavelmente tera razao no plano estritamente tactico. Eu apenas acrescento que a nivel estrategico digamos assim, as oposicoes sao suposto ser alternativas crediveis de governo, assim sendo, no caso de uma oposicao credivel, o facto de as vezes concordarem ou ajudarem o governo apenas acrescenta forca nas ocasioes em que indicam discordancia com o governo. Aquilo que se ve em Portugal sistematicamente e retira total credibilidade a essa gente e a demagogia maniqueista de so admitirem opcoes politicas a preto e branco, nos/eles, pro/contra. O mundo nao e assim, e eu gostaria que esta ultima tomada de posicao do PSD fosse o prenuncio de uma certa maturidade na nossa democracia.

    Quanto ao ponto 3: estamos de acordo e por aqui ficamos.

    Quanto aos seu ponto 2 (do 2): creio que teremos de concordar na nossa discordancia.

    Eu nao concordo de forma alguma com a atitude da Alemanha no Euro desde ha muito tempo. O Euro foi criado com vista apenas a abrir mercados para eles dentro da Europa e a abertura das barreiras comerciais com os paises fora da Uniao porque a eles nao os afectava (ou assim eles pensavam).

    Quando a crise financeira se estendeu ao sector automovel, logo vieram os guardioes da rectidao fiscal e da politica do Estado minimo fora da economia alemaes oferecer ajudas a sua industria automovel com clausulas que exigiam que qualquer restruturacao so fechasse fabricas FORA da Alemanha – resultado – desemprego e respectivo deficite por perca de producao e respectivos subsidios de desemprego que tem de ser totalmente suportados pela periferia
    Isto e pura ideologia miopica e egoista.

    Agora que veem que afinal nao eram tao espertos quanto pensavam e que afinal a crise – que eles ajudaram a construir e fomentaram activamente – talbem os pode afectar pela porta das traseiras, queixam-se da falta de rectidao dos outros e querem impor austeridade que eles proprios, quando estiveram 5 anos seguidos sem cumprir as regras do PEC nao estavam dispostos a aceitar.

    Eu pessoalmente sou da opiniao que os paises da periferia deveriam unir-se em bloco e por em cima da mesa das negociacoes em Bruxelas uma opcao “nuclear” de destruicao mutua assegurada: ou refundamos a Uniao com uma arquitectura institucional mais racional ou saimos todos do Euro com re-estruturacoes das nossas dividas. Veriamos entao se a retorica da rectidao moral/fiscal se mantinha…

    E certo que seria negativo para as economias da periferia uma saida do Euro, mas isto e algo, que de qualquer das formas sucedera eventualmente com as actuais instituicoes so que a preco ainda maior porque so depois de um arrastado e doloroso processo de austeriadade desigual e conflito social dai resultante e depois uma saida abrupta e nao planeada. Acima de tudo, a opcao “nuclear” ao menos impunha a ameaca real aos paises do Norte da Europa, supostamente bastioes de rectidao moral/fiscal que detem os titulos de divida do Sul. Se essa divida fosse re-estruturada, eles nao se ficariam a rir. Quem sabe, se calhar ate ficavam com deficites e ratings financeiros duvidosos…

    Pode ser que tal ameaca forcasse uma mudanca. Na pior das hipoteses evitava o arrastar doloroso desta crise ate ao seu corolario logico.

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    Comentar por Lowlander — 21/05/2010 @ 12:09 pm

  8. Bom dia Sr Lowlander

    Apreciei o equilíbrio e lógica da sua análise e entendo a sua argumentação quanto ao cenário da “opção nuclear”.

    No que concerne a “questão alemã, gostava de aprofundar ligeiramente (tentando não desesperar a comunidade maschambiana, para quem isto pode parecer à primeira vista uma injecção de seca, se bem que este seja um assunto absolutamente central nas nossas vidas de momento:

    Infelizmente, na vida das pessoas, das empresas e dos estados, no fim do dia os donos do capital são os donos do capital e fazem com o seu capital o que melhor lhes convier. É deles e já aprendi há muito tempo que, com raras excepções, neste mundo ninguém dá nada a ninguém.

    A actual crise não originou na Alemanha; originou nos Estados Unidos, numa altura bastante conturbada, em que o Sr. George W Bush e a sua equipa adoptaram políticas, ambas domésticas e internacionais, algumas calamitosas, cujos efeitos se fizeram sentir claramente a partir de 2005 mas que tiveram início meses após ele ter tomado posse no início de 2001. A Alemanha, bem como a UE, levaram com as consequências em cima e por tabela, na altura e mais uma vez a partir de 2006.

    Suscita-me a curiosidade em como o Sr LL, neste contexto, isola a Alemanha, que inclusivé espetou com uma gigantesca fábrica da VW em Palmela (que espero seja um bom investimento para todos) como culpada dos problemas de países como Portugal e não entendo bem.

    Repare: o problema fundamental de Portugal foi, e sempre foi, e só foi, que o mundo mudou radicalmente nos anos 90 e Portugal, apesar de repetidos avisos vindos de várias direcções, fez pouco para enfrentar essa realidade – a qual foi acontecendo às claras e em que os representantes eleitos do burgo luso assinaram voluntariamente e foram a reboque.

    Deixe-me recordar-lhe alguns marcos que me ocorrem:

    a) a adesão em 1986 à CEE e posterior conversão na UE
    b) a adesão ao SME nos anos 90
    c) a entrada da China na Organização Mundial do Comércio nos anos 90
    d) a decisão de o governo se passar a endividar externamente nos anos 90, e do sector privado fazer o mesmo a partir da mesma altura (reacção dos bancos: canalizar tudo para crédito à habitação e crédito ao consumo)
    e) “decisão” de desmantelar os sectores agrícola, têxtil, pescas, calçado, e pequeno comércio a partir dos anos 90. Aqui coloco aspas pois em muitos casos simplesmente não se conseguia competir com a China e outros países;
    f) decisão política de apoiar uma visão do papel do Estado muito despesista, com níveis estratosféricos de défices e de endividamento para investimentos sem retorno evidente ou simplesmente caros demais para o bolso dos contribuintes (portos, aeroportos, auto-estradas, reorganização de cidades inteiras, tudo a debitar no cartão de crédito) para além de políticas sociais tão meritórias como inexequíveis (reformas à fartazana, benefícios para os pobres que não trabalham, toda uma rede de apoio para a qual a curto prazo não havia dinheiro);
    g) enorme dificuldade dos sucessivos governos em conseguir eficiências de escala na sua prestação de serviços, donde os rácios de eficiência e de qualidade se manifestaram de inferior calibre;
    h) sucessivos corrupção mal resolvidos e indícios de compadrios no sector público, incluindo este infame episódio da ideia, que na minha mente originou na cúpula do Partido Socialista, de afectar a gestão da TVI, uma estação de televisão portuguesa, para despedir pessoas que não eram da mesma linha ideológica (e que aconteceu);
    i) uma evolução demográfica particularmente difícil, com multidões de reformados, muitos dos quais não contribuíram, sustentados por uma população activa decrescente, na base de uma “aliança inter-geracional” que na minha opinião, expressa em 1991, quando cheguei a Portugal dos EUA, nunca existiu e não tem hipóteses de sobreviver, como já se vê;
    j) fraco tecido empresarial, frequentemente inexperiente, descapitalizado, endividado até às pontas dos cabelos, com produtos e serviços obsoletos
    k) mercado de trabalho pouco flexível, com regulamentação punitiva para as empresas, inadequado ao ciclo produtivo dos dias de hoje
    l) fracos níveis de produtividade quer no sector público quer no sector privado
    m) níveis excessivos de burocracia, cada vez mais excessivamente cara, apesar dos mais valiantes esforços da administração actual. A única área onde melhoraram foi na cobrança dos impostos, e isto porque hoje há computadores.
    n) um sistema judicial que basicamente funciona no seu próprio ciclo, completamente desfasado do facto de que o tempo útil de atendimento e resolução eficaz dos processos são fundamentais para o bom e harmonioso funcionamento da sociedade a todos os níveis.
    o) prefiro nem falar do sistema nacional de saúde.

    Ora, Sr LL,

    pergunto-lhe:

    O que tem a Alemanha a ver com isto?

    Eu se fosse um alemão esforçado e bem na vida e tivesse um vizinho português na casa ao lado que fosse assim, se calhar dir-lhe-ia para ter juizinho, para organizar-se, reformar-se, deixar-se de vícios, sacrificar-se e que fosse mas é trabalhar.

    Um país não é só um território, uma bandeira e 950 anos de história de não querer ser espanhol. É feito de decisões – muitas vezes difíceis – tomadas por cada geração quanto ao seu presente e o seu futuro, trabalho, sacrifício e empenho.

    E creio que é nestes aspectos que os actuais portugueses (e, sem querer irritá-lo, não os alemães) estão um pouco em falta.

    Para já, o que vai acontecer é assistir-se a um visível empobrecimento de uma parte substancial da população. Quanto a isso já não há nada a fazer.

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    Comentar por ABM — 21/05/2010 @ 1:46 pm

  9. Caro ABM,

    Lamento a ausencia de resposta. Esteve um tempo fantastico la pelos meus lados no final da semana passada e tive de ir passear rapidamente e quase sem aviso que nao se podem desperdicar estas oportunidades que sao verdadeiramente unicas por la. Entretanto vim de ferias para ver Lisboa e nao sei se nas proximas semanas terei tempo (ou sequer muito acesso a um computador) entre familia e amigos.
    Mas creia que nao me esqueco e tenho muito que retorquir aos seus variados pontos. Inte.

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    Comentar por Lowlander — 23/05/2010 @ 7:51 pm

  10. Sr LL

    Como bom maschambeiro, tem um excelente sentido das prioridades. Divirta-se! A gente espera.

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    Comentar por ABM — 24/05/2010 @ 2:13 am

  11. Caro ABM,
    Vamos la entao a essa resposta ha muito devida.
    O ABM apresenta uma cronologia muito boa e depois pergunta o que e que a Alemanha tem a ver com ela. Eu respondo: tem muito, imenso a ver. O problema e que o ABM na sua cronologia nao foca adequadamente o quadro politico-ideologico em que algumas das decisoes sao tomadas. Esta quadro tem origem numa Uniao Europeia que a partir do final da decada de 80 esta fortemente contaminada com ideologia neoconas (permita-m o neologismo) vindas das Americas. Mas atencao, quando falamos aqui de uma UE ha que ser claro, estamos essencialmente a falar da Alemanha, Holanda e Franca verdadeiros centros de decisao na Uniao.
    O problema fundamental portanto e, ideologico, ideologias libertarias que sistematicamente veem apenas o Estado como um empecilho na melhor das hipoteses e como um meio a usar na pior das hipoteses para a criacao de riqueza so de alguns.
    Neste contexto, o tem-se vindo sistemanticamente a desmantelar o Estado e o provisionamento publico de bens e servicos vendendo-os, por tuta e meia, a alguns sectores privados. Isto sao negocios fabulosos para os privados em questao mas desastrosos para todos os outros. Temos andado a desmantelar os monopolies publicos dizendo que sao ineficientes enquanto criamos monopolios privados que “milagrosamente” sao exemplos de empreendorismo e sucesso empresarial. Poise u digo, a unica coisa pior que um monopolio publico e um monopolio privado.
    Ha bens e servicos, que pela sua natureza nao devem, nao podem, nao e eticamente aceitavel nem economicamente racional serem detidos maioritariamente nas maos de privados: agua, energia, comunicacao, transportes, seguranca, justica, saude, exploracao de recursos naturais, agricultura (ou food security seria o melhor termo) e financa.
    Isto como preambulo. Agora vejamos especificamente o SME: entramos todos no SME nos anos 90. O que e que aconteceu de seguida? A Alemanha (e Holanda), desde a adesao ao Euro tem comprimido o salario dos seus trabalhadores com aumentos sistematicamente inferiores aos aumentos de produtividade retraindo o consumo alemao e sua inflacao. A economia mais desenvolvida da Europa tem –se comportado como um Portugal, competindo e apropriando (roubando classificaria eu pessoalmente) assim competitividade aos paises da periferia europeia onde os aumentos salarais foram ao nivel da produtividade e onde o baixo nivel salarial de onde se partiu (e onde ainda estamos) nao permite esse tipo de politica. Ao mesmo tempo incentivaram a abertura das fronteiras ao comercia internacional, mas atencao, nao todo, so o comercio internacional de bens transacionaveis em que eles proprio nao compete. Na pratica, destroem a industria de mao de obra intensiva que existia na Europa periferica mas fecharam as portas a transferencia de investimento em industrias ponta para as periferias atraves de uma politica economica retracionaria de transferencia dos custos de producao no seu proprio pais para a classe trabalhadora. Pior que isso, para esconder esta perca real de poder de compra das classes medias em toda a Europa e a brutal queda nas periferias de seguida prosseguiram com a transformacao dos seus super-avits comerciais que entretanto se geraram em emprestimos para a periferia europeia por forma a financiar o consume destes paises que de outra forma teria de necessaria se retrair brutalmente, assim estes paises conseguem continuar a importar produtos alemaes.
    Isto gerou sistematicos super-avits comerciais para a Alemanha e constantes deficits na periferia. A ironia da coisa e que o crescimento economico na Alemanha tem sido anemico gracas a esta mesma politica, porque a classe media tem sido pressionada, so nao se nota porque, nesta corrida para o fundo, eles ganham, ou por outrem, sao os ultimos a perder porque usam os paises da periferia europeia como boia para se manterem a superficie.
    Quando vem dizer que o Mercado laboral portugues e rigido, desculpe-me la mas estao a enfiar um monumental barrete, se o ABM quiser enfie la a cabeca, mas ao menos saiba a natureza desse barrete. Conhece alguem que seja trabalhador por conta de outrem em Portugal numa fabrica? Eu tenho la familia. O meu irmao chama “aos putos” da minha idade a geracao “500 euros”, tudo a recibos verdes e com uma instabilidade laboral imensa sujeitos ver o contrato “nao renovado” em qualquer altura. Rigidez laboral? Deixe-me rir, ou melhor chorar, porque a razao desta “rigidez” e de andarem a comprar trabalhadores portugueses com a China, India e Brasil…
    E aqui que esta o cerne da corrente crise orcamental na periferia, quando o Krugman ha uns meses atras diz que Portugal e Espanha tem de reduzir os seus salarios relativamente a Alemanha em 30% ele esta a dizer 2 coisas essencialmente:
    1 – ele nao acredita que o SME tal como esta tem hipoteses de sobreviver (a Letonia que tem sido ate agora o pais com maior “sucesso” nas suas politicas de austeridade apenas conseguiu reduzir os seus salaries relativamente a Alemanha em 5% e la tem a pior recessao de toda a Europa) e
    2 – reconhece que a causa desta crise orcamental esta essencialmente naquilo que Alemanha tem feito nestes ultimos 10 anos.
    Com isto creio que respondo ao cerne dos pontos que avanca na sua cronologia mas resta-me ainda mais algumas notas:
    Quando o ABM avanca com exemplos varios de despesismo e/ou corrupcao estatal esquece que boa parte do despesismo estatal foi gerado pela privatizacoes de servicos e bens que nao devem estar nas maos de privados e que nas maos destes geram mais custos como um todo para a sociedade, os EUA sao um exemplo bem claro de que NAO deveriamos privatizar a saude como temos feito ate agora, o Reino Unido demonstra cabalmente o desastre que foi a privatizacao dos transportes e redes de fornecimento de agua.
    Quanto a corrupcao, esta e uma consequencia, eu diria que quase inevitavel da ausencia de um Estado estratega, de um Estado que se demite da sua presence na economia. Se o Estado sai de cena, alguem ocupao seu lugar, assim sendo mega grupos economicos sao gerados. Quando um grupo economico tem mais meios e fundos que um Estado inteiro, quando um Estado depende um parycular grupo economic para se financiar e/ou providenciar servicos e/ou bens/emprego aos seus cidadaos, como e que esse Estado em posicao negocial claramente inferior, onde os pesos e medidas de poder estao invertidos pode evitar ser corrompido por esses grupos economicos?
    Regresso ao inicio, o que e que a Alemanha tem a ver com tudo isto? TUDO! Foram eles como locomotiva economica europeia que trataram de trazer a ideologia neoconas para a Europa, tem sido a Alemanha que a tem estado a implementar de ha 10 ou 20 anos a esta parte e agora e a Alemanha quem esta a dirigir esta pulsao para o abismo das politicas de austeridade desigual. Repare: numa crise internacional que e uma tipica armadilha de liquidez, Alemanha esta orquestrar a nivel europeu austeridade fiscal, pior, eles proprios (com superavit commercial e consume domestic deprimido) vao tambem adoptar estas medidas. Isto e loucura complete ao niel do que se praticou nos anos 30 para gerar a Grande Depressao. Ainda vamos a tempo de um segunda, e se calhar acontecera isso mesmo.

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    Comentar por Lowlander — 17/06/2010 @ 1:17 pm

  12. Caro Sr Lowlander

    Li atentamente a sua nota, que agradeço e que – veja lá – tinha tanto para analisar, que me dei à maçada de a imprimir para ler com calma.

    E só posso concluir – e explicarei porquê – que grande confusão vai nessa sua cabeça.

    Primeiro que tudo, dois pontos de ordem.

    Primeiro Ponto de Ordem

    Se reparar em todo a argumentação mais ou menos discursiva destas trocas de galhardetes, o meu foco primário sempre foi Portugal, não a Alemanha. Portugal, a nação soberana com mais de 900 anos de existência continua (até o foi, em boa medida, na Dinastia dos Filipes, ao contrario do que muito boa gente pensa).

    Neste contexto, pese a sua convicção de haver e ter havido um papel “preponderante”, “determinante”, “controlador”, “central” por parte da Alemanha no forjar do que hoje é a União Europeia, das suas instituições e da sua estrutura, os alemães não vieram a Lisboa e apontaram uma pistola à cabeça dos políticos locais e o eleitorado: bem ou mal, estes podiam ter tomado as decisões que lhes ocorresse, negociado, recusado, procurado alternativas ao projecto europeu tal como se apresentou nos seus diferentes estágios. Vir agora, vinte e cinco anos depois chorar a dizer que aquilo era tudo uma injustiça é um bocado lamentável, não?

    Segundo Ponto de Ordem

    O Sr LL refere duas vezes os “neocons”. Eu acho que o Sr. Não sabe o que é que esse termo quer dizer, e nada, mas nada, tem que ver com o que o Sr diz que é. Peço que leia um excelente texto na Wikipédia em inglês e depois confirme se é disto mesmo que está a falar. A ligação é http://en.wikipedia.org/wiki/Neoconservatism .

    Voltando ao seu texto.

    À laia de preâmbulo, o Sr LL destila overdoses de veneno contra a moda, que traça aos tais “neocons” e aos anos 80 e 90, do que chama as reprivatizações e o desmantelamento do Estado. Sem fundamentar, desfaz o conceito “ideológico” que lhes é subjacente com outro, o de que a privatização de certos recursos presentemente detidos directa ou indirectamente pelo Estado, é mau. Vai mais longe: afirma (e cito) que a única coisa pior que um monopólio público é um monopólio privado.

    Que considera tais acções eticamente e economicamente questionáveis, citando, inclusive quais os sectores que, na sua opinião, podem e não podem ser públicos ou privados.

    Ai é?

    Pois deixe-me questionar essa rigidez ideológica. Creio que o fundamental num estado democrático moderno é 1) defender o interesse nacional; 2) defender o interesse público; 3) gerir bem a coisa pública, 4) pautar-se por servir e deixar às pessoas e às empresas a liberdade e a iniciativa de, dentro do contexto moral e social minimalista acordado (através da constituição e das restantes leis) fazerem o que bem entenderem.

    Nestes termos, claro que pode ter os sectores (que refere) da água, energia, comunicações, transportes, segurança, justiça, saúde, recursos naturais, agricultura e finanças em mãos privadas.

    Mas o senhor quer o quê? Comunismo? Uma nação de funcionários públicos? Isso já Portugal (e mais que metade da Europa) é.

    E, da última vez que olhei, o que vemos é uma gigantesca, demolidora, arrasadora borrada. É, em boa parte, o que nos está a mandar para o buraco, quer pelo afogamento da iniciativa privada, quer pela via do afogamento via os seu imparáveis, incontíveis custos e principalmente da sua inoperância.

    Se o governo – nós – arranjar uma pessoa ou empresa privada que preste melhor e mais barato um serviço sem que tenha que investir balúrdios e empregar gente com contratos de emprego vitalícios que nunca mais podem ser despedidos, chova ou faça sol, o que tem o senhor contra isso? Eu tenho muito mais receio de um estado omnipotente e omnipresente que uma série de contratos e a supervisão de uma série de sectores da economia, onde o governo (que nos representa) pode e deve gerir o interesse público, gerindo esses contratos e supervisionando esses sectores a cada momento, em representação dos interesses da população.

    Ou quer que os portugueses voltem aos tempos do 11 de Março de 1975? Lembra-se da borrada que foi? E da injustiça que foi e do que custou a sair do buraco?

    Adiante.

    Em seguida o Sr. LL diz que vai falar do SME mas na verdade não é do SME que fala no seu longo (loooongo) parágrafo. Do que o Sr. fala é do que aconteceu economicamente na União Europeia nos últimos vinte anos. E, mais uma vez, queixa-se de tudo: que os ricos roubam aos pobres, que os ricos do Norte roubam aos pobres do Sul (metáfora para a Alemanha e Portugal). Ó Sr LL, pelo amor de Nossa Senhora dos Anjinhos, mas onde é que o Sr. Foi buscar o que ali diz? A partir do momento em que acabou a Guerra Fria em 1990 e a seguir a China entrou na World Trade Organisation em 1995, e a Europa de Leste começou a integrar-se na economia europeia, a estrutura pública e privada do que era a Europa Ocidental tinha os dias contados. E todas essas pessoas que viveram durante décadas do Bem Bom do proteccionismo e de exigir e obter o que lhes apetecia de tudo e todos, de repente tinham que, e não sabiam como, competir. Coitadinhos deles todos. Não gostaram da mudança. Direitos adquiridos, reformazinhas apetitosas aos 60 anos, saúde à borla, mercados garantidos, procura controladinho, os preços que queriam pelos produtos e serviços que achavam que nos deviam enfiar pela goela abaixo.

    Estou cheio de pena deles todos.

    Especialmente os portugueses, que nesse entretanto, em vez de se preparaem para a guerra (a colonial por comparação foi uma brincadeira) andaram a comprar Mercedes e batedeiras Bosch aos alemães – ainda por cima com dinheiro que eles nos emprestavam! Maus, maus alemães… como se eles não tivessem os seus problemas.

    A seguir dá-me uma prelecção em que tenta provar a precariedade do mercado de trabalho português, apontando para o exército de pobres jovens dotados que sim, que têm um emprego, mas que – sacanas dos empregadores – é precário. Uma chatice, não? Mas o que o Senhor LL não diz é o que para mim é tão dolorosamente óbvio que até chateia: é que, 1) por precário que pareça, é um emprego que paga e é trabalho; 2) para cada emprego “precário”, há três ou quatro que são efectivamente vitalícios, especialmente os empregos dos funcionários públicos, uma boa parte dos quais se calhar hoje em dia são gritantemente desadequados das necessidades duma máquina estatal que se pretende moderna, e que os contribuintes suportam, ano após ano, após ano, sem fim à vista. Aí quem fica desadequado é quem tem que pagar a conta: os contribuintes.

    No fim desta sua nota volta ao SME e remata com duas conclusões do célebre economista Krugman, apontando para o fim do SME e das responsabilidades da Alemanha (pois claro). Então, mas, diga-me, o que é que Krugman diz que deve ser feito? Voltamos à Europa das fronteiras, do dinheiro macaco, do proteccionismo e das manipulações majestáticas das economias?

    E termina com umas notas sobre referencias feitas por mim. Diz que a corrupção e o despesismo resultam das privatizações e da demissão do papel centralista do Estado. Ora, Sr LL, poupe-me esta. Estas situações resultam de elegermos representantes e governantes que são ladroes, que roubam sempre, quando e onde podem, que mentem como respiram, que não têm princípios morais de serviço isento ao público e ao País. Pulhas medíocres bem falantes que fazem carreiras politicas nas costas de amizades coloridas, compadrios, dogmas de ocasião, e que quando chega a vez deles administrarem a coisa pública, não resistem a rapar do fundo da panela o seu quinhão: a reformazinha, o empregozinho para a filha e o amigo, o favorzinho nesta ou naquela empreitada, o vender a sucatazinha à empresa do antigo camarada como se fosse ouro, nós a pagar tudo. O país à venda, usurpado por esta turba sem princípios nem foco em servir o seu pais. Isto nem sequer é sobre o capitalismo ou sobre o papel do Estado.

    É sobre uma postura cleptocrata em relação ao bem público.

    Um abraço.

    Bola do seu lado….

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    Comentar por ABM — 17/06/2010 @ 5:10 pm


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