THE DELAGOA BAY REVIEW

30/09/2010

A RECESSÃO A CORES E EM 3D

3d

Coloque os óculos: chegou o PEC 3-D

por ABM (29 de Setembro de 2010)

Dramaticamente pré-anunciado à nação portuguesa durante o decorrer do dia de hoje, exactamente às 20 horas a face de José Sócrates surgiu ao vivo em quase todos os televisores portugueses, com uma barra por baixo a avisar (no canal em que assisti à prelecção) “primeiro ministro anuncia medidas de austeridade”.

Como entrada, José Sócrates colocou a temática de forma nada menos que apocalíptica, afirmando que o que está em causa neste momento difícil da nação era defender o “nosso” modelo de sociedade – um americano diria que era o portuguese way of life. Um socialista estes dias chama-lhe o Estado Social.

E leu a lista, de que escrevinhei as seguintes notas:

Nos custos:

1. forte redução de toda a despesa pública
a. corte de 5% nos salários públicos de forma progressiva a partir dos 1500 euros/mês
b. congelamento das ajudas de custo e despesas automóveis
c. congelamento dos programas de investimento
d. congelamento dos valores das pensões
e. etc

2. Esta dieta estatal a ser complementada com uma “melhoria da receita” (adoro estas nuances linguísticas):

a. criar um tecto nos já miserandos benefícios fiscais
b. 2% aumento do Iva para 23%
c. alterar das tabelas fiscais para sacar mais um pouquinho aqui e ali
d. aumentar os custos com tudo e mais alguma coisa que uma pessoa possa ter que exigir da máquina administrativa estatal, incluindo as taxas de justiça, o que significa que só os ricos e os pobres a ela poderão recorrer, uns porque são ricos, os outros porque paga o erário público;
e. lançar um novo imposto sobre o sector financeiro

As minhas conclusões preliminares em relação ao que foi anunciado:

1. Com estas medidas confirma-se a lei do pêndulo orçamental-fiscal português: a seguir à bebedeira dos últimos anos, vem a ressaca.
2. A partir de 2011, os portugueses passam a ganhar como Marroquinos, mas a pagar impostos como se fossem Suecos
3. Com esta medida, o PS de Sócrates puxou efectivamente o tapete por debaixo do PSD de Passos Coelhos, que se vai ver grego para inventar algum protagonismo.
4. Só que desconfio que esta história do corte na despesa seja treta. Não acredito que vá acontecer. O PS é pródigo nisso.
5. Muito possivelmente, Portugal vai entrar novamente em recessão e em estagnação. Anda nisto há quinze anos.
6. As taxas de desemprego e sub-emprego vão subir mais.
7. A economia paralela vai aumentar e a corrupção vai voltar.
8. A inflação vai subir e derreter o dinheiro das pessoas.
9. Mais grave que tudo, continua a não haver uma visão de como este país se vai desenvolver nos próximos vinte anos, o que, se se contar com os trinta e cinco anos desde a revolta, a descolonização e a imposição da democracia,, vai totalizar 50 anos de andar à deriva.
10. Quem puder, que emigre. Para muita gente, isto de Portugal pode mesmo não valer a pena. Tipo chão que deu uvas. Se tivesse menos que 55 anos, era pedido de visto para a Austrália, o Brasil ou o Canadá. África, não nos querem lá.
11. Rezemos fervorosamente que amanhã de manhã os mercados internacionais e os parceiros achem que isto chega. Pois senão é que a coisa vai ficar mesmo, mesmo, mal.
12. Tudo isto torna este num momento verdadeiramente mágico e especial para assinalar 100 anos de regime republicano em Portugal. Os poucos monárquicos que sobram devem andar a rebolar no chão a rir.

E assim está formalmente inaugurada a fase do começo da pior parte da maior queda económica portuguesa em 80 anos. É altura do exmo. Leitor colocar os seus óculos 3D e olhar para a frente.

Mais sobre este assunto amanhã.

2 comentários »

  1. Escreves sempre bem. Incisivo e sarcástico q.b., mesmo quando o tema é tão trágico.

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    Comentar por MF — 30/09/2010 @ 6:49 pm

  2. Trágico,concordo. Que tal uma performance – tudo no Rossio de óculos 3D a discutir o assunto?

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    Comentar por joana padrel — 30/09/2010 @ 7:41 pm


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