THE DELAGOA BAY REVIEW

24/10/2010

O LANÇAMENTO DE O ANJO BRANCO, DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS

A entrada da Sociedade de Geografia de Lisboa, 23 de Outubro de 2010, 17 horas.

por ABM (23 de Outubro de 2010)

Os lançamentos de livros são eventos chatos para convidar os amigos e estragar-lhes o fim de semana. Quem o disse foi o autor e jornalista José Rodrigues dos Santos – exceptuando no seu caso, presume-se, e no do lançamento da sua mais recente obra, intitulada O Anjo Branco.

No seu caso, explicou à sua audiência de cerca de 500 pessoas mais um Maschambeiro (500 pessoas para mim, para ele é 500 x 24.50 euros por livro = 12.250 euros), há uns dias fizera qualquer coisa com o seu livro numa livrariazeca qualquer em Lisboa onde não havia lugar nenhum e apareceram 200 pessoas – uma hecatombe. Decidiu logo que havia que fazer uma coisa mais condigna para o lançamento nacional da sua obra (“lançamento nacional” significa que vai haver lançamento internacional) e depois de vasculhar as possibilidades (o Estádio Nacional dava, Zé) lá optou pela decrépita e desnudada Sala de Leitura da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Com pontualidade britânica, às 17 horas de Lisboa de hoje iniciaram-se as festividades, com um desesperadamente longo discurso “introdutório” pelo ex-colaborador da RTP e agora freelancer da televisão, Joaquim Furtado (a excelente série documental sobre a guerra colonial portuguesa de 1961-1974, que não a fez quando era empregado da RTP, mas fê-la depois e vendeu-a por um balúrdio ao antigo patrão, é de sua responsabilidade).

Mas a sua alocução foi interessante (ouvi e tenho a gravação integral). Infelizmente, o Joaquim Furtado (pai da Catarina com o mesmo apelido) quando fala em pessoa não tem aquela voz psico-dramática que se ouve na televisão nos episódios de “A Guerra”. E o sistema de som da Sociedade de Geografia competia com duas lésbicas que por azar ficaram sentadas mesmo ao pé de mim, a discutirem durante meia hora quem é que se tinha esquecido de dar de comer aos gatos.

Tudo isto é um deveras estranho enquadramento para um romance, mesmo, apesar de um romance histórico.

Ali estava toda uma tropa, sentada no que foi físicamente o coração do grupo que há cento e tal anos atrás arquitectou todo o projecto colonial africano (quem conhece a Sociedade de Geografia, sabe que hoje é pouco mais que uma tertúlia de velhos literados e sem dinheiro, fechados sobre si e convencidos de que são importantes) a discutir um romance que incluía, supostamente como pano de fundo, uma tragédia que foi de longe a maior vitória de relações públicas na história da Frelimo e durante toda a guerra colonial em três frentes, e que criou consideráveis dificuldades ao então governo português, tendo certamente ajudado a encerrar a hostilidades em alguma ignomínia.

José Rodrigues dos Santos observa enquanto Joaquim Furtado debita o seu discurso.

Tudo isto porque Marcelo Caetano, sucedâneo de Salazar e manifestamente incapaz de fazer o que tinha que ser feito, decidira fazer uma visita de Estado ao Reino Unido na altura (1973) para celebrar com pompa 600 anos de dúbia aliança com a Grã-Bretanha e, muito oportunamente, o Times de Londres escarrapacha na sua primeira página os sangrentos detalhes do que foi uma loucura imperdoável, cometida por alguns tropas portugueses nos arredores de Tete no dia 16 de Dezembro de 1972 e relatada no detalhe (mas em segunda mão) pelo inquestionável (e ainda por cima britânico) activista padre católico Adrian Hastings. A confusão em Londres não teve fim. Caetano não parecia saber o que se passava e até um jovem Mário Soares apareceu por lá para dar a sua facadinha política.

Em Moçambique, Kaúlza de Arriaga pagaria pelo desvario das suas forças e Jaime Neves, antes de se tornar um Libertador da Pátria, seria incomodado pelas suas consequências. O próprio pai do autor, que era director do Hospital da cidade de Tete, onde gozava de enorme prestígio, e que fora entre os primeiros civis a visitar Wiriyamu, Chawola e Juwau, foi mandado para Lourenço Marques (na altura já sofria de uma delicadíssima situação cardíaca e um casamento em dificuldades).

Já referi antes que esta questão apresenta, de alguma forma, um sério dilema.

Contrariamente ao que se possa sugerir, quem procurar encontra praticamente tudo o que quiser saber sobre o absolutamente lamentável episódio de Wiryamu, um morticínio abjecto e não estratégico ocorrido a escassos quilómetros da cidade de Tete antes do fim do ano de 1972, ou seja, pouco mais que dois anos e meio antes de terminarem as hostilidades com a rendição incondicional portuguesa à Frente de Libertação de Moçambique em Lusaka.

Ora, a maior parte do que foi dito em termos da apresentação de O Anjo Branco (o título é um double entendre, significando ao mesmo tempo o nome do herói da fita e o nome que era dado ao pai “real” do autor, o Dr. José Paz, que durante algum tempo andava na sua avioneta, de bata branca, a socorrer os doentes e feridos da então e agora província moçambicana), feita ainda por cima por Joaquim Furtado, um conhecido documentarista histórico da guerra, suplementado com menções de participantes e testemunhas do episódio de Wiryamu – a quem Rodrigues dos Santos foi apontando o dedo entre o anonimato da audiência – foi no sentido de sublinhar, quase ad nauseum, a infalibilidade factual do contexto e dos eventos ali ocorridos. Para sublinhar essa atenção ao detalhe, Rodrigues dos Santos até se deu ao trabalho de mostrar (apagando para tal as luzes na sala) duas fotografias que infelizmente não deram para ver bem, do local do massacre na altura. E do seu pai, a preto e branco, numa curta sequência em câmara lenta.

Mas não se parou aí. Rodrigues dos Santos  salientou repetidamente o detalhe da sua pesquisa e das informações que obteve, referiu que as cruzou com outros testemunhos, mencionou as dificuldades inerentes ao trabalho que fez(o seu pai e a irmã Lúcia, que estiveram no local em primeira mão, estão mortos) e as voltas que teve que dar para chegar ao que, na sua opinião, será uma versão “definitiva” dos factos.

Esta obsessão com a realidade é quase insólita num dito romance histórico – que por ter sido posto à venda apenas ontem e com 650 páginas, não foi ainda lido e tem que esperar para ser visto – e intriga-me.

Intriga-me porque, não sendo por definição um trabalho académico, aderindo assim a regras próprias que o tornam referenciável e uma base para análise e citação, qual afinal o objectivo de tanto cuidado, relacionado com o que o próprio autor refere como um pano de fundo quase secundário para uma obra de ficção?

Já viu o exmo Leitor o que seria se alguém, ao discutir consigo Tete e Wiryamu em 1972, dissesse qualquer coisa como “ah, mas no romance histórico do Rodrigues dos Santos diz que foi assim e assado e frito e cozido”.

Não vinga. Não pode vingar. Pela própria natureza do trabalho que é.

José Rodrigues dos Santos continua a observar, enquanto Joaquim Furtado continua a debitar o seu discurso.

Por essa razão, para quem esteve sentado uma hora e tal naquela desolada Sala de Leitura da Sociedade de Geografia a ouvir o que estava a ser dito, relacionado com uma obra de ficção assente em eventos históricos, a única questão era: porquê?

Porquê esta fixação?

A resposta é em parte porque sim.

Mas também talvez por que, como já vi acontecer antes, José Rodrigues dos Santos, que conheceu relativamente mal o seu pai e que teve a (justificada) curiosidade de saber mais sobre o quem o pai era e o que o pai fizera, deu-se ao trabalho de vasculhar o passado do pai para obter esses factos.

E tendo feito esse trabalho e tendo esses factos em mão, escolheu utilizá-los como base para uma obra de ficção. Uma obra de ficção com pano de fundo histórico em que – note-se-  inclusive o perfil do herói do enredo em quase tudo confunde-se perigosamente com o do seu próprio pai (aparentemente até no alegadamente descomunal tamanho do seu pénis do– essa parte já eu li).

De certa forma lamento que JRS não tenha querido fazer apenas uma (simples) biografia do seu pai, uma pessoa que na sua vida pública e profissional foi interessante e foi exemplar, pertencendo àquela pequena minoria de brancos em Tete naquela altura de que se pode dizer sem qualquer receio da habitual rotulagem ideológico-estereotipada-sociológica-colonial-da-treta, que ele merece igual respeito por ambos os lados do conflito moçambicano. É conhecido que ele (como aliás outros), em ambiente de guerra declarada, cuidava da mesma forma tanto tropas portugueses como membros da Frelimo e a população local – para além dos “colonialistas” residentes em Tete.

Desta forma, o que parece que o leitor da sua obra vai apreender, é uma imagem de alguém que parece o pai mas que foi ficcionado por Rodrigues dos Santos. Só mesmo ele saberá o que -na sua mente- é real.

E o que é que ele inventou.

Na sua felizmente mais curta intervenção, Rodrigues dos Santos deu por terminada a sessão dizendo que “não há sessão de perguntas porque ninguém leu o livro”, pediu dez minutos para falar com jornalistas ali presentes e disse que depois dava uns autógrafos. Como a bicha que imediatamente se formou me pareceu uma daquelas bichas do pão em Maputo aquando os distúrbios de 1-2 de Setembro (eu ia pedir uma assinatura dedicada ao nosso Senador, ausente por razões de logística) ou seja todos em cima uns dos outros, decidi que era boa altura de arrumar as botas e voltar a casa.

Assim, o nosso Senador vai ter que viver com uma muito mais desprestigiante dedicatória minha, estampada na minha cópia de O Anjo Branco.

Depois de ler o livro, poderei dizer algo mais.

9 comentários »

  1. 1. Antes de tudo o mais importante: sem qualquer desprimor pelo escritor em causa muito mais apreciarei ter um livro com dedicatória do prestigiado PCA do blog ma-schamba. A qual, desde já, e desvanecido, muito agradeço.

    2. Depois, quanto às coisas intelectuais a que te dedicas com afinco: acho que entras como faca em manteiga (fora da geleira) quando referes essa demanda de legitimação romanesca no fundamentação factual. Não tem cabimento, acho eu. Mas talvez se justifique, são ambos jornalistas (o apresentador e o ficcionista), terão um particular entendimento (e muito frágil, neste caso) do que é romance, ficção, etc. Mas os especialistas dessas coisas que se dediquem a escalpelizá-las.

    3. Finalmente, e aquilo que me parece mais importante. Pensei em fazer uma entrada (“post”) sobre o assunto, até ilustrada, mas considero mais acertado colocar esta constatação/reflexão aqui, pois nasce da tua incidência sobre o assunto. José Rodrigues dos Santos acaba de resolver um assunto de extrema importância, e isso tem que ser notado, referido e até celebrizado.

    Como é sabido a questão do sexo dos anjos é de uma enorme importância teológica e foi alvo de múltiplas opiniões. Constantinopla, o fim da Antiguidade, caiu às otomanas mãos enquanto se discutia essa questão. A teoria que veio a ser dominante julgo ser a da assexualidade dos anjos (ainda que haja, mesmo que apenas linguisticamente, uma certa masculinidade implícita)
    Mas JRS ao apresentar este seu Anjo Branco (seu pai e seu património genético, sic) dotado de um mangalho gigantesco vem contradizer essa teologia. Temos então que os Anjos são supra-dotados falicamente falando. Aguardo, curioso, a reacção da Santa Madre Igreja. Ainda para mais no ano em que o Papa foi a Portugal, no ano em que se lamenta a ascensão dos mata-frades ao poder, vem este locutor diariamente na casa das pessoas dizer que os anjos são membrudos? Vamos ter confusão

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    Comentar por jpt — 24/10/2010 @ 12:04 pm

  2. Une chose me perturbe…

    http://networkedblogs.com/9zYwE

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    Comentar por Berthe Roman — 29/10/2010 @ 2:41 pm

  3. E uma informaçao a proposito da sua conta dos livros vendidos: (“para ele é 500 x 24.50 euros por livro = 12.250 euros”)
    Nao acho que o autor de um livro receba a totalidade do dinheiro das vendas, muito longe dai. Ele deve ter no maximo vinte por cento, repito, no maximo. O editor é que ganha mais…

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    Comentar por Berthe Roman — 29/10/2010 @ 5:32 pm

  4. Mr. Roman

    Tem razão e claro que o autor pode fazer a conta na base da sua percentagem, que a esta hora espero que seja mais que vinte por cento.

    Obrigado por me iluminar com a lucidez reflectida no seu contributo.

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    Comentar por ABM — 29/10/2010 @ 6:02 pm

  5. De nada ! 🙂

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    Comentar por Berthe Roman — 30/10/2010 @ 4:57 pm

  6. Estou escrevendo sem que tenha lido o “ANJO BRANCO”. Aliás não tenciono lê-lo. Meu tempo é demasiado precioso para que eu possa despendê-lo na sua leitura. Mas como conheço o facto que JRS decidiu escolher como assunto central da sua obra, posso, julgo eu, pronunciar-me sobre ele.
    De guerra eu percebo alguma coisa. Tive formação académica militar e lutei em Moçambique na guerra do Ultramar. Conheço, pois, o suficiente para emitir opinião.
    Não há quem não lamente o caso Wiriyamu. Contudo, quem viveu situações de combate, entende que o sistema nervoso do militar pode escapar ao seu controle, levando-o a praticar acções das quais posteriormente virá a arrepender-se. Se esse desequilíbrio atinge o comandante de uma força, então tudo se complica ainda mais porque todos os seus elementos correm o risco de serem também envolvidos, agravando inevitavelmente as consequências.
    Em treze anos de guerra em África, quando se quer denegrir a acção dos militares portugueses, sejam eles metropolitanos ou do recrutamento local africano, fala-se e escreve-se sobre Wiriyamu. Parece haver grande dificuldade em citar outros acontecimentos que ilustrem a imagem profundamente negativa que se pretende fazer passar. Será que isso acontece porque não abundam casos análogos ?
    Se assim é,aí está o tipo de problema com o qual JRS não teria de preocupar-se caso decidisse escrever obras relatando os massacres perpetrados pelos judeus na Palestina, as crueldades cometidas pelos norte-americanos no Vietnam, no Iraque e, mais recentemente, no Afeganistão. A única dificuldade estaria na selecção dos mais interessantes (?), daqueles que fosse previsível causarem mais impacto em potenciais leitores, arrastando consigo um sempre apetecível êxito comercial.
    O “ANJO BRANCO” permitirá, penso eu, porque, como acima escrevi, não li o livro, que seja conhecida a actividade muito meritória do pai do escritor. Teve esse senhor o privilégio de ter tido um filho que entendeu dever colocar a sua veia literária ao serviço da divulgação das glórias familiares. É legítimo. Tem, contudo, o sabor de uma injustiça largamente abrangente, já que quantos “anjos brancos” eu conheci que no sertão africano se dedicaram inteiramente à profissão, como eu testemunhei nos meus dezoito anos de permanência em Moçambique, e são hoje, os que ainda vivem, inteiramente desconhecidos !
    Wiriyamu parece encerrar uma magia que atrai as gentes mais diversas decididas a alcançarem os mais diversos fins. No caso de JRS vai também servir, embora secundariamente, para consolidar a sua conta bancária. Trinta e oito anos após ter acontecido, o caso Wiriyamu continua a fascinar e será sempre lembrado enquanto puder ser útil àqueles que nele virem um trampolim que os posicione numa plataforma de destaque. O resto virá por acréscimo.

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    Comentar por Remígio Nogueira Viana — 10/11/2010 @ 3:18 am

  7. Sr Nogueira Viana

    Ainda vou a meio do livro e preferia não comentar aqui quanto ao seu conteúdo. Mas permita-me referir o seguinte: sendo credível a sua perspectiva mercantilista quanto à obra (legítimo: toda a gente quer vender mais do que menos) há uma lógica dificilmente criticável neste caso: na base deste romance estão a biografia do médico Rodrigues dos Santos (pai do autor) e os factos conduzindo até, e incluindo, Wiriyamu. Se procurar no índice deste blog o nome de JRS, poderá ler o que sobre o tópico escrevi. Se me conceder uns momentos do seu precioso tempo (e ainda por cima é de borla) poderá achar relevante. E a minha crítica, que farei brevemente nesta casa. Ademais, alguns dos seus comentários são perfeitamente válidos – como, por exemplo a relativa injustiça perante o não reconhecimento de outros “anjos brancos”. Mas creio que isso não invalide de forma alguma a merecida atenção dada a este caso do Dr. Rodrigues dos Santos, ainda que romanceado.

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    Comentar por ABM — 10/11/2010 @ 4:01 am

  8. Sr. ABM :
    Segui a sua sugestão e fui ler aquilo que escreveu neste blog sobre o assunto JRS.
    Apreciei a sua intervenção, fartamente documentada com o vídeo e a transcrição das entrevistas. É um trabalho notoriamente relevante que, muito sinceramente, não me fez lamentar o “precioso tempo” que despendi na sua leitura.
    Permita-me só mais um comentário sobre este caso. Considero que há sempre um grande risco quando se mistura realidade e ficção. Quem lê não vai saber distinguir as duas situações. E em matéria tão delicada como a que está em causa, tão marcante na nossa história militar contemporânea, prevejo que o estilo adoptado contribua para um agravamento do julgamento final dos leitores e possa até levá-los a generalizarem os procedimentos narrados, o que seria uma tremenda injustiça.

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    Comentar por Nogueira Viana — 11/11/2010 @ 6:02 pm

  9. Sr. Nogueira Viana,

    Contenta-me que se tenha dado ao trabalho de ler a nota acima e que a tenha considerado útil no seu raciocínio. Estamos de acordo quanto ao algum desconforto nesta ficcionalização baseada em factos em que muitos dos protagonistas estão vivos e de saúde e que aborda um tema que na mente de muitos – talvez da sociedade portuguesa em abstracto – ainda seja uma ferida por sarar. Eu diria que ainda por cima, seja uma ferida por sarar.

    Não é o caso comigo. No espírito que infelizmente só encontro e em que me revejo nas tocantes palavras do memorável e sempre referenciável Discurso do presidente norte-americano Abraham Lincoln no dia 19 de Novembro de 1863, proferido na ocasião da consagração do cemitério de Gettysburg, durante a guerra civil norte-americana (e no qual estão sepultados mortos de ambos os lados daquele conflito) os homens que fizeram a guerra colonial, dos dois lados, especialmente os que morreram, são merecedores do maior respeito por nós, que estamos vivos, todos eles heróis.

    Só tenho pena que (neste caso) não haja por parte dos meus amigos e concidadãos portugueses e moçambicanos, a consideração que na tradição e cultura americanas há por estas pessoas e estes mortos. Tocar-me-ia deveras poder um dia assistir a uma parada em que eu teria a oportunidade de aplaudir os veteranos dessa guerra, e poder deslocar-me a um cemitério em seguida para limpar e depor um ramo de flores nas campas dos soldados e oficiais mortos, assim simbolizando que nós não os esquecemos, que o seu sacrifício supremo não foi em vão, que a nossa nação não esquece os que por sí se sacrificaram.

    No fim, esses valores de respeito e de gratidão por esses homens devem sobrepôr-se a todas os outras considerações, incluindo a do julgamento da História, a que acima se refere, que fica a cargo dos historiadores e dos descendentes desses participantes, nós aqui incluídos.

    Perante uma tal tarefa, um romance ficcionalizado como o de JRS poderá ser vendável e até despoletador de algum interesse público na matéria, mas no fim do dia pouco mais virá a ser que uma curiosa nota de rodapé. A ficcção, mesmo a excelentemente pesquisada, não pode nem deve ser a base para uma análise da História.

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    Comentar por ABM — 11/11/2010 @ 8:11 pm


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