Entre a raivinha anticolonial e uma aparente trica com o Rui Knopfly, da mão da grande Noémia saiu este poema, que marcou uma era.
BAYETE
para Rui Knopfli
Ergueste uma capela e ensinaste-me a temer a Deus e a ti.
Vendeste-me o algodão da minha machamba
pelo dobro do preço por que mo compraste,
estabeleceste-me tuas leis
e minha linha de conduta foi por ti traçada.
Construíste calabouços
para lá me encerrares quando não te pagar os impostos,
deixaste morrer de fome meus filhos e meus irmãos,
e fizeste-me trabalhar dia após dia, nas tuas concessões.
Nunca me construíste uma escola, um hospital,
nunca me deste milho ou mandioca para os anos de fome.
E prostituíste minhas irmãs,
e as deportaste para S. Tomé…
– Depois de tudo isto,
não achas demasiado exigir-me que baixe a lança e o escudo
e, de rojo, grite à capulana vermelha e verde
que me colocaste à frente dos olhos: BAYETE?
Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares
(Catembe, 1926 – Cascais, 2003)
De facto a “raivinha” fê-la tomar a parte pelo todo – generalizou, e radicalizou, mesmo.
Mas compreendo a intenção pensada, ponderada, enfim, a mensagem que quis transmitir, passar – que deu/dá que pensar.
Legítima.
Depois, é Poeta – a grande Noémia.
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Comentar por umBhalane — 06/07/2011 @ 12:43 pm
Grande, Noémia!
IO
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Comentar por IO — 14/08/2011 @ 8:08 pm
Há uma grande força neste poema. Noémia era uma poetisa genial! Saludos desde Argélia.
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Comentar por Mohamed Walid Grine — 05/06/2022 @ 7:36 am