THE DELAGOA BAY REVIEW

29/06/2011

BAYETE, POR NOÉMIA DE SOUZA

Filed under: Literatura Moçambique, Noémia de Souza — ABM @ 5:59 am

O termo, creio que de origem zulu, é uma saudação.

Entre a raivinha anticolonial e uma aparente trica com o Rui Knopfly, da mão da grande Noémia saiu este poema, que marcou uma era.

BAYETE

para Rui Knopfli

Ergueste uma capela e ensinaste-me a temer a Deus e a ti.
Vendeste-me o algodão da minha machamba
pelo dobro do preço por que mo compraste,
estabeleceste-me tuas leis
e minha linha de conduta foi por ti traçada.
Construíste calabouços
para lá me encerrares quando não te pagar os impostos,
deixaste morrer de fome meus filhos e meus irmãos,
e fizeste-me trabalhar dia após dia, nas tuas concessões.
Nunca me construíste uma escola, um hospital,
nunca me deste milho ou mandioca para os anos de fome.
E prostituíste minhas irmãs,
e as deportaste para S. Tomé…

– Depois de tudo isto,
não achas demasiado exigir-me que baixe a lança e o escudo
e, de rojo, grite à capulana vermelha e verde
que me colocaste à frente dos olhos: BAYETE?

Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares

(Catembe, 1926 – Cascais, 2003)

3 comentários »

  1. De facto a “raivinha” fê-la tomar a parte pelo todo – generalizou, e radicalizou, mesmo.

    Mas compreendo a intenção pensada, ponderada, enfim, a mensagem que quis transmitir, passar – que deu/dá que pensar.

    Legítima.

    Depois, é Poeta – a grande Noémia.

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    Comentar por umBhalane — 06/07/2011 @ 12:43 pm

  2. Grande, Noémia!
    IO

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    Comentar por IO — 14/08/2011 @ 8:08 pm

  3. Há uma grande força neste poema. Noémia era uma poetisa genial! Saludos desde Argélia.

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    Comentar por Mohamed Walid Grine — 05/06/2022 @ 7:36 am


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