THE DELAGOA BAY REVIEW

15/08/2011

A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM LOURENÇO MARQUES, POR ALFREDO PEREIRA DE LIMA

Grato por este contributo de Cristina Pereira de Lima Macedo, retirado do livro de autoria do seu pai, Alfredo Pereira de Lima.

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a primeira de pedra e cal do então Distrito de Lourenço Marques. Em Maputo, ficava implantada exactamente onde hoje está o edifício da Rádio Moçambique. Para ver esta foto no seu esplendor, prima na imagem com o rato do seu computador.

No dia 15 de Agosto de 1889, pela primeira vez foi solenemente exposto o Santíssimo Sacramento em Lourenço Marques, na antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição…

…..”Quem nos acompanhe pode seguir pelos Boletins Oficiais da época o desenrolar das obras e das várias fases da sua construção até o cusiosissimo relatório datado de 15 de Fevereiro de 1882 do governador Chaves de Aguiar em que este afirma:

…está em construção uma igreja num estilo realmente elegantissimo,mas o pior é que, tendo-se esgotado o orçamento primitivo que era de 10.000$000 réis, na parte que foi autorizada, e estando o segundo de 8.600$000 réis já nos últimos reais, se não lhe acudirem breve com um terceiro, que para completo acabamento da parte da construção não poderá ser muito inferior áquelas duas verbas, porque as paredes estão todas em osso e não está ainda feito nem um palmo da cobertura no corpo da igreja, as próximas chuvas obrigarão depois a gastar muito mais.”

Em auxilio das obras que faltavam, veio o governo e parece que uma subscrição publica e o templo assim se concluiu a tempo, se bem que com muita modestia interior, sendo inaugurado em Julho de 1883 com os ritos prescritos.

Ao principio contentou-se – segundo nos revela Monsenhor João dos Santos, na sua preciosa monografia sobre a igreja – sem outras imagens “além de uma de Nossa Senhora da Conceição duns 0,15metros de altura, bastante mutilada, e um pequeno Santo Cristo, de marfim em cruz de prata…”.

Só em 1886 ou princípios de 1887 é que chegaram de Lisboa, remetidas pelo Ministério da Marinha e do Ultramar outras imagens de santos. Também veio pouco depois uma nova imagem de Nossa Senhora da Conceição, adquirida por subscrição publica por intermédio da firma “ Fabre & Fills” em Marselha.

Essa imagem foi solenemente exposta á veneração em 8 de Dezembro de 1888.

A pobreza da igreja não agradou muito ao bispo D. António Barroso, ao tempo Prelado de Moçambique, que, em relatório de 1894, diz que o templo… “exteriormente tem aspecto artistico, que é uma imitação do estilo gótico, com a suas agulhas elegantes” mas que “internamente é um barracão que se assemelha a uma sinagoga ou templo maçónico; está tão afastado da linha geral que preside à construção de uma igreja de culto católico que nem púlpito lhe fizeram”.

Mas, isso também se remediou. Demoliu-se a velha sacristia e construiu-se uma nova. Instalou-se em mármore de lioz os altares de Nossa Senhora e de Santo António, além do púlpito.

Fizeram-se em colunas de mármore também as molduras dos nichos. Arranjou-se uma grade de ferro que passou a separar o altar mor do corpo da igreja. Na torre colocou-se um relógio. A Fazenda contribuiu de 1888 a 1898 com diverso mobiliário, incluindo cadeiras de espaldar, as Obras Públicas com secretária e armários. O Padre Vicente – esclarece ainda Monsenhor Santos – fez adquirir pela Paróquia, em 1902, um gavetão e um lavatório em porcelana e ainda um candelabro romano da Semana Santa.

Vimos que, mesmo sem obedecer a preceitos rígidos de estilística quer gótica quer manuelina, a igrejinha ficou equilibrada na sua tranquila e elegante simplicidade, a destacar-se muito branca no alto verdejante da Maxaquene, cumprindo a sua função mística de Casa de Deus, a primeira construída com carácter permanente em Lourenço Marques e por isso como que um elemento do próprio brazão da cidade. No interior pouco iluminado da sua pequena nave, aquelas paredes ouviram preces e os anseios dos que á Virgem foram pedir pela segurança dos que se batiam nas duras campanhas de 1895. Essa igreja tão representativa de Lourenço Marques, ficou ainda caracterizada pelas solenidades que aí se realizaram em datas litúrgicas e momentos grandes da nossa história.

Ali se celebrou solene “Te Deum” em grande instrumental de Acção de Graças pela visita de Sua Alteza o Príncipe Real D. Luís Filipe de Bragança, em 29 de Julho de 1907, presidido pelo Bispo de Siene, Prelado de Moçambique.

Depois dessa hora alta de haver acolhido aquele esperançoso príncipe que viria a ser o futuro Rei de Portugal, se a morte traiçoeiramente pelas mãos dum miserável assassino o não tem ceifado no Terreiro do Paço sete meses depois, a pequena igreja foi ainda guindada à dignidade de Sé Catedral dos Prelados de Moçambique e gozou durante três anos as de Sé Arquiepiscopal.

Foi esse – no dizer de Monsenhor Santos seu cronista – o primeiro templo de que há memória neste distrito. Foi o primeiro de pedra e cal sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Lourenço Marques. Foi o primeiro em que se celebrou com toda a pompa em Dezembro de 1888 a festa da Imaculada Conceição. Foi o primeiro em que expôs o Santíssimo Sacramento nestas paragens em 15 de Agosto de 1889. Foi ainda o primeiro onde se fundou em 15 de Agosto de 1891 a Associação do Sagrado Coração de Jesus. Apegaram-se a ele muitas gerações lourenço-marquinas que ali receberam o baptismo, ali casaram, e muitos ali esperaram em câmara ardente entre círios e lágrimas, a caminho da última morada.

Contudo a 15 de Agosto de 1944, caíram sobre aquela Igreja as primeiras marteladas para sua destruição. Em pouco tempo daquelas paredes se fez pó…que o vento dispersou.

Assim acabou inutilmente demolido o edifício religioso mais consagrado da cidade no amor de muitos milhares de corações, que o viram desaparecer com muita tristeza.

Se continuasse de pé suas pedras diriam ás gerações que passam: “Aqui estiveram teus avós!… “

(in “Pedras Que Já Não Falam” por Alfredo Pereira de Lima)

5 comentários »

  1. A Catedral da Beira, Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, é muitíssimo parecida com esta Igreja.

    A Catedral da Beira foi construída uns anos depois, mas sem dúvida o seu projecto só pode ter sido uma adaptação do projecto desta Igreja de Lourenço Marques. É pena que já tenha sido demolida.

    Os Padres Franciscanos é que a construíram.

    Vejam uma fotografia da Catedral da Beira e logo verão as grandes similaridades tanto na traça como no volume, excepto pela alta torre da catedral da Beira.

    O estllo arquitectónico é um neogótico.

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    Comentar por Francisco Ivo — 16/08/2011 @ 2:57 am

    • Sim, de facto j tinha reparado nas semelhanas, mas no encontrei at agora referncias a uma eventual ligao entre os dois projectos.

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      Comentar por Antonio Botelho de Melo — 16/08/2011 @ 9:13 am

  2. No livro 1 de 1928, da Igreja da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Lourenço Marques (MAPUTO), o padre padre Sr. Antonio Alves Martins efetuou o registro de nascimento de minha mãe, e eu não consigo localizar onde estaria este livro arquivado para requerer a cópia do respectivo registro, assim sendo, pergunto: (1) após a independência de Moçambique, onde teriam sido arquivados estes livros? (2) registros de nascimentos efetuados em IGREJAS têm o mesmo valor legal de registros efetuados em conservatórias?

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    Comentar por Luiz Henrique Finkel — 01/12/2014 @ 11:26 am

    • Olá Luiz, conforme penso que já deparou, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de 1928 foi demolida em finais dos anos 40 para ali perto ser edificada a actual igreja que tem o mesmo nome. Não sendo especialista no assunto, penso que os registos da velha igreja devem ter sido transferidos para a actual Sé Catedral de Maputo. Eu começava por falar com o padre da Sé Catedral de Maputo, que até me dizem ser boa pessoa, simpático etc e tal. Quanto à questão mais formal de se os registos de igreja têm o mesmo valor que os registos civis, não percebo nada do assunto mas penso que isso depende do ano em que estamos a falar. Em 1928 penso que o registo civil já era mais ou menos obrigatório (foi uma das “conquistas” supostas do republicanismo, desde 1911). A pergunta que lhe faço é: quer uma cópia deste registo por piada, ou precisa dela para alguma coisa? sinceramente, penso que a Conservatória dos Registo Civil de Maputo deve ter o registo de nascimento de sua Mãe…. um abraço ABM

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      Comentar por ABM — 01/12/2014 @ 4:22 pm

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    Comentar por Ernesto R. Silva — 23/03/2017 @ 10:58 pm


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