THE DELAGOA BAY REVIEW

01/11/2018

BALTAZAR REBELO DE SOUSA NA MATOLA, 1969, E ILACÇÕES

Da Colecção CC. Imagem retocada e colorida por mim.

 

Imagem colhida durante uma visita protocolar do então Governador-Geral de Moçambique, Baltazar Rebelo de Sousa à  Matola (penso), com a mulher e uma comitiva de madames, 1969. Ver e ser visto por uma audiência maioritariamente negra e rural/suburbana num ambiente aculturado e informal foi uma inovação quase insólita do tradicional estilo “régio”colonial, peculiar a este Governador, cujo mandato, por breve, e por constraste com os antecessores e sucedâneos, que eram digamos que significativamente mais manga-de-alpaca, ficou caracterizado quase somente por isso . Ajudou coincidir com uma certa expectativa optimista de que a sucessão de Caetano a Salazar viria a alterar o regime e ainda que a economia moçambicana crescia a um ritmo quase incrível, incluindo o anúncio da edificação de Cabora-Bassa, sustentando o delírio colonial do “estamos para ficar”. Sendo que na altura não se podia falar da guerra nem de questões relacionadas senão ia-se dentro. No cômputo geral, no entanto, esse ano e meio, mesmo tendo em conta o assassinato do Dr. Mondlane, que foi breve (e erradamente) visto como um recuo para a guerrilha da Frelimo, foi quase completamente irrelevante para o regime e para o futuro de Moçambique. Pelo contrário, foi uma ilusão e uma distracção. Mas tem a particularidade de ser memorável por isso, e também por esse estilo ter sido unicamente absorvido, décadas mais tarde, por um seu filho, que veio a ser eleito presidente da república portuguesa e o tem aplicado consistentemente, ao ponto de se confundir o estilo do cargo com a substância. Para quem conheceu e viveu aquele breve período na capital de Moçambique, Marcelo não tem sido presidente de Portugal. Tem sido o Governador-Geral de Portugal. Que já declarou que, quando um dia morrer, quer ser sepultado na antiga colónia que o Pai um dia, brevemente, governou.

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