THE DELAGOA BAY REVIEW

11/02/2012

BERTINA LOPES, PINTORA E ESCULTORA MOÇAMBICANA, 1924-2012

Filed under: Arte, Bertina Lopes + — ABM @ 2:34 am

Bertina Lopes.

Faleceu ontem em Itália aos 88 anos de idade, Bertina Lopes, pintora e escultora de Moçambique.

Alguns se recordarão da sua beleza e personalidade fulgurante em Lourenço Marques, onde já pintava e dava aulas na então Escola Preparatória General Joaquim José Machado. Entre as suas alunas estão a Lourdes Gameira Borges e a Rosa Salvador.

Cerca do final dos anos 1960 radicou-se na Itália.

Cito o texto recolhido na Infopédia, ligeiramente editado:

Pintora e escultora moçambicana nascida em Lourenço Marques (actual Maputo), em Moçambique.

Filha de pai português e de mãe moçambicana, terminou os seus estudos secundários em Lisboa, onde se formou em pintura e escultura pela Academia Superior de Belas-Artes. Durante a sua estadia em Portugal, a jovem teve oportunidade de conhecer alguns pintores portugueses, como Carlos Botelho e Marcelino Vespeira. Em 1953, regressou a Maputo e lecionou desenho, durante nove anos, na escola técnica General Machado. O contacto com a poesia de Noémia de Sousa e de José Craveirinha influenciou o trabalho da artista que começou a exprimir nos seus quadros a crítica social e política.

Em 1962, ganhou uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian que lhe permitiu estudar cerâmica, em Portugal, com Querubim Lapa. No entanto, devido ao regime ditatorial da época e à política colonial administrada por António Salazar, Bertina Lopes decidiu não regressar a Moçambique e, em 1964, obteve uma outra bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian a fim de aprofundar os seus conhecimentos artísticos em Roma, onde se estabeleceu. Aí, conheceu artistas italianos, como Marino Marini e Renato Guttuso.

Realizou várias exposições em Itália, assim como noutros países, tais como Portugal, Luxemburgo, Moçambique, Angola, Cabo Verde e Espanha.

A partir de 1993, exerce as funções de conselheira cultural na Embaixada de Moçambique, em Itália. A pintora, que começara a sua carreira em 1950, tem sido alvo de numerosos estudos e análises sobre o seu trabalho artístico.

Bertina Lopes recebeu vários prémios e títulos dos quais se destacam o 1.º Prémio de Pintura Internacional do Centro Internacional para a Arte e Cultura Mediterrânea (1975), o Grande Prémio de Honra da União Europeia da Crítica de Arte (1988), o Prémio Mundial Carson da Fundação Rachel Carson, em Nova Iorque (1991), o prémio internacional de arte “La Piejade” (1992), em Roma, e o título de Comendadora de Arte entregue pelo presidente Mário Soares (1993). O seu trabalho está representado em coleções particulares e publicas sobretudo em Moçambique, Portugal, Itália e nos Estados Unidos da América.

(fim)

À família, junto-me aos demais, apresentando as condolências e prestando homenagem às memórias desta senhora, da sua vida e da sua obra.

09/01/2012

A HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA DE MOÇAMBIQUE – EM FOTOGRAFIA

Fotografia de Sérgio Santimano, gentilmente cedida.

Encontro de repasto moçambicano na portuguesa Costa da Caparica, 2011. Da esquerda: Bruno, Paula, Luis Carlos Patraquim, Joaquim Carlos Vieira, Kok Nam,Ângelo, José Luis Madeira e mulher, Alexandre Pomar e Sérgio Santimano.

07/12/2011

A ARTE DE VIRIATO BARROS DA SILVEIRA

Filed under: Arte, Viriato da Silveira — ABM @ 7:37 am

Mulher, de Viriato da Silveira.

 

Não se deixe o exmo. Leitor impressionar pelo facto de o seu pai, imigrante português, o ter baptizado, num eventual rasgo de paixão histórico-nacionalista, com o nome de um dos dois grandes guerreiros da tribo dos Lusitanos nos tempos dos romanos (o seu irmão é o…Sertório).

Ele cresceu em Moçambique e na sua arte se nota qualquer coisa…. que me chama a atenção.

Aqui, o seu recentemente constituído blogue artístico.

17/08/2010

ARTE MOÇAMBICANA EM OURIQUE, PORTUGAL

Filed under: Exposicoes — ABM @ 9:43 pm

Butcheca no Restaurante da Costa do Sol

por ABM (17 de Agosto de 2010)

Noticia o sítio da Rádio Voz da Planície, que opera lá para os lados de Beja (104.5 MHZ na banda FM mas também emitem na internet) que decorre uma exposição de pintura dos artistas moçambicanos Butcheca e Clemente e Lucas Tsamba, na Biblioteca de Ourique, no deep Alentejo, até ao dia 8 de Setembro.

Segundo os srs da RVP, “Trata-se de uma mostra que retrata também a vida e a cultura das tribos do Sul de Moçambique, através de várias pinturas a óleo. As obras expostas misturam a técnica a óleo com elementos naturais, como a terra e a palha.”

PS – estive a escutar a emissão da Rádio Voz da Planície pela internet, a música é simplesmente espectacular. Eles dizem que são “a voz do Alentejo”.

23/11/2009

A Igreja de Troufa Real

Filed under: Arte, História, Ilha de Moçambique, Religião, Sociedade portuguesa — ABM @ 12:56 pm

11046_181639004722_181630479722_2780687_5308326_n(maquete da futura Igreja católica no Alto do Restelo, em Lisboa)

por ABM (Alcoentre, 23 de Novembro de 2009)

Tenho assistido com algum indisfarçável gozo, ao aparecimento, no discurso público, das críticas à construção de uma igreja católica nova no Alto do Restelo, a coliona que se situa mais ou menos por detrás da Torre de Belém em Lisboa.

A maquete do que vai ser constrúido, e que foi oferta dum arquitecto chamado Troufa Real, está ali em cima.

O futuro edificio é suposto evocar Francisco Xavier, um Navarrense (em sua vida, viu desolado o Reino de Navarra ser absorvido por Leão e Castilha, onde ficou até hoje) que deambulou pela Europa e que com Inácio de Loyola e mais uns compadres fundou a Companhia de Jesus (uma espécie de Opus Dei que depois foi corrida a pontapé de Portugal), até que o então Papa o despachou para Lisboa e o colocou ao serviço de João II, que queria espalhar a fé pelos nativos nos vários cantos por onde os seus súbditos andavam a fazer pilhagens e negociatas.

A caminho de Goa em 1540, Xavier permaneceu durante seis meses na Ilha de Moçambique, por causa dos ventos adversos. Consta que gostou e até quis ficar em África a pregar mas o capitão do navio em que seguia disse que as instruções do rei eram para o colocar em Goa e ele lá foi.

Nos doze anos seguidos, Francisco de Xavier andou um pouco por toda a parte a tentar pregar o catolicismo até morrer em Dezembro de 1552 de um “febrão” num buraco qualquer na China onde os portugueses comerciavam. Depois de uma série de peripécias, os seus restos mortais (menos um osso, que ia para o Japão mas ficou em Macau) foram faustosamente depositados numa igreja em Goa, onde estão. Desde 1622 que é um santo da Igreja Católica e o padroeiro dos missionários.

A maior parte dos portugueses pensam que ele era português. Pois.

Bem, com esta inspiração do São Francisco Xavier, baseado aparentemente na ideia peregrina de que haverá uma relação entre a colina por detrás de onde fica a Torre de Belém e os Descobrimentos dos portugueses e os seus esforços de evangelização, o arquitecto concebeu uma igreja que é suposto ser uma nau a navegar nas ondas e quanto ao minarete acho que perdi algo na explicação. Com 100 metros de altura (altura do Prédio de 33 Andares na baixa de Maputo) promete ser um mamarracho dos antigos. Talvez bom para alugar às empresas de serviços telefones móveis pois a cobertura da zona será excelente e sempre daria uma renda à igreja. Como se não fosse suficiente, o nosso arquitecto, que parece rivalizar com Tomás Taveira na criatividade, juntou-lhe as cores garridas que se podem ver na imagem acima.

Admitamos que aquilo parece mais uma igreja revivalista-africanista-adventista em Las Vegas que uma igraja para Bétinhos do Alto do Restelo.

Mas – hey – quem sou eu para fazer mais do que escrever o que penso e subscrever (a convite do meu cúmplice em matérias de arquitectura, o Dr Nuno C Mendes) uma destas coisas muito em voga na internet estes dias – um abaixo-assinado electrónico no feicebúque?

O que considero curioso é que pelos vistos, apesar de Portugal estar pejado de igrejas e afins, não há uma decente no Alto do Restelo, um recanto chiquérrimo e abastado que baste da Cidade de Lisboa. Numa entrevista ao prestigiado Correio da Manhã de Lisboa (não o de Maputo, que é do Refinaldo Xilengue) o padre local, António Colimão, refere que aquela zona fora autonomizada da paróquia de Santa Maria de Belém (lá em baixo) e as missas andavam a ser celebradas num (que horror) barracão. Por isso falou com o Troufa Real e com a sua congregação, que deslindou uns míseros três milhões de euros, sacou um terreno grátis da Câmara Municipal de Lisboa e deitou mãos à obra. Aquilo levou uns dez a quinze anos até chegar agora à fase da construção.

Por isso, o bom padre não entende bem porque é que as pessoas agora deram para contestar a obra.

Bem, senhor padre, talvez seja porque ninguém realmente tinha olhado a sério para a sua catedral xaveriana à estilo de Macau/Las Vegas, não é?

Claro que a Igreja Católica Portuguesa vive um dilema em Portugal. Como referi, o país está repleto de edifícios religiosos, alguns com quase mil anos ou mais. Mas hoje estão todos nos sítios errados e efectivamente são mais museus e monumentos que igrejas. Não são locais conducivos à partilha da fé e do convívio que se pretende e se espera no Século XXI. A maior parte são frios, escuros, pouco funcionais. Custam um balúrdio obsceno para manter e para pouco mais servem do que oficiar missas, casamentos, baptizados e funerais. Nestes dias, mais funerais que outra coisa.

Acresce que, especialmente nos últimos quarenta anos, tem havido grandes alterações na localização da população, que se urbanizou em redor de Lisboa e do Porto. No vasto subúrbio destas duas cidades, há poucas igrejas, enquanto que nas zonas rurais é quase uma em cada esquina, e todas às moscas. Em Alcoentre City, por exemplo, há várias igrejas, frequentadas por meia dúzia de beatas e apenas um padre, que corre as capelas regularmente (até há pouyco num Audi A4, wow) a dar uma missita aqui e outra ali. Aliás, nunca lhe pus a vista em cima uma vez em 20 anos, o que diz muito dos tempos que correm, pois antigamente o padre da paróquia era um membro visível da comunidade (as minhas fontes revelaram-me confidencialmente que Alcoentre agora tem um novo padre, igualmente invisível).

Portanto que o Sr. Padre do Alto do Restelo queira ter a sua igreja é perfeitamente normal. Agora, não se surpreenda que as pessoas achem que o que vai ser construído pareça um casino chinês de Macau em dia de festa de fim de ano.

Dizem-me que Deus perdoa tudo, mas não sei se vai deixar esta passar.

17/11/2009

Sobre o Preço das Coisas

Filed under: Arte — ABM @ 3:50 am

Andy Warhol-200-One-Dollar-

por ABM (Cascais, 17 de Novembro de 2009)

Aos exmos leitores que não estudaram economia, e num first do Maschamba – e inteiramente grátis e absolutamente sem quaisquer truques – vou em seguida passar uma das mais importantes lições de economia que consegui aprender na vida, que incluiu quatro anos de licenciatura e dois de mestrado em Finanças em boas escolas norte-americanas (tipo das que nunca fecharam em 200 anos), seguido de 25 anos de trabalho em empresas privadas a fazer contas, algumas de cabeça (não destoando da Escola Primária Rebelo da Silva onde aprendi a ler, a escrever e a contar e na Rua dos Aviadores, onde muito do que aprendi não pode aparecer nestas páginas para não incriminar ninguém).

Cuidado que a lição é muito rápida e acho que é por isso que tanta gente pensa que entende mas depois não entende, especialmente em certas partes de Portugal.

Prontos?

Então aqui vai:

O preço de uma coisa é o valor que alguém estiver disposto a pagar por ela.

Todo o capitalismo ocidental, os Descobrimentos, a descoberta da penicilina e acredito que partes da Bíblia e elementos das mais ferozes teorias marxistas, para não falar nas negociações de jogadores de futebol para o Sporting e outros clubes menos importantes que o Sporting (ou seja, nos termos do nosso Estatuto, todos os outros) podem buscar a grande matriz dos seus postulados na frase que acima referi. É o busílis, o ponto de partida e o de chegada para tudo o que tem que ver com a economia onde todos nós, por mais esforçados, beatos ou vigaristas que sejamos, nos inserimos.

E esta semana surgiu um bom exemplo disso.

No mercado de arte contemporânea mundial há dois eventos que marcam o ano e tomam ao pulso em termos de como vai o mundo e quem anda a fazer o quê em termos de compras e vendas. Especialmente em ano de recessão como tem sido 2009.

Um é o leilão do Christie’s e o outro é o leilão do Sotheby’s, ambos na cidade de Nova Iorque.

Que se realizaram a semana passada nos respectivos cantos daquele burgo, ambos atraíndo a habitual panóplia de ricaços, riquérrimos, podres de ricos e outros afins, que inescapavelmente nos recordam quão pobres somos e ainda que a arte é também um produto como a carne do talho, que se vende, neste caso a quem der mais.

Um dos quadros postos à venda, acima reproduzido, data de 1962 , é da autoria de Andy Warhol e chama-se, para quem não adivinhou ainda, “200 notas de um dólar”. É uma pintura feita à mão sobre tela acrílica, de…duzentas notas de um dólar. Verdade, contei-as todas. É grandita, aí do tamanho de um espelho de saloon.

Agora, eu não tenho nem de perto nem de longe o faro artístico do JPT e da nossa Baronesa e de muitos (a maior parte?) dos exmos da comunidade Maschambiana. Para mim um quadro bonito comprado numa quinta feira à noite por 300 Meticais a um miúdo à porta do Piri-Piri em Maputo ainda é um quadro bonito. Aliás tenho um assim. Pode não ser representativo de uma qualquer cosmicidade espiritual ou da fase 4.2 da carreira do pintor que o pintou ou ainda do momento plástico-artístico da pintura mundial na altura em que foi feito. Acho bonito e para mim o argumento mais ou menos esgota-se aí.

Nessa óptica, confesso que aquele quadro de 200 notas de 1 dólar do Senhor Warhol passou-me completamente de lado. Para mim em princípio não valeria um prato de caracóis numa qualquer tasca da Trafaria cheia de moscas.

Por isso fiquei surpreendido de saber que o dito cujo havia sido comprado em 1986 por um casal de coleccionadores que vivia em Londres pela obscena quantia de …. 385 mil dólares.

Isto no tempo em que o dólar ainda valia alguma coisa.

Mas o casal, de apelido Karpidas, pelos vistos estava a ficar velho ou talvez curto na carteira e decidiu leiloar o seu Warhol no leilão da Sotheby’s da semana passada.

O que refiro a seguir está mais ou menos descrito numa curta peça do Economist desta semana, sobre como decorreu o leilão deste quadro.

Mas antes: o exmo. Leitor que tome um segundo e olhe lá para cima e pense quanto pagaria por aquilo, mesmo se lhe saísse o jackpot do Euromilhões.

Ok.

Cito: “o leilão foi aberto por Tobias Meyer, leiloador-mor do Sotheby’s, com um valor de base de 6 milhões de dólares. Imediatamente, Alex Rotter, um especialista do Sotheby’s que representava um cliente ao telefone, logo ofereceu 12 milhões de dólares. O preço escalou em incrementos de um milhão de dólar tão depressa que era difícil seguir de onde vinham as licitações”.

No fim, um cliente anónimo, representado por um tal Senhor Vinciguerra, e que se presume não ser o Senhor Joe Berardo, ganhou a corrida pagando…. 39 milhões de dólares que, mais a comissão da Sotheby’s e impostos, perfez um total de 43.7 milhões de dólares.

Li que em 1986 a compra daquele quadro por 385 mil dólares já fora basicamente um escândalo. O que não pensaram e disseram do casal Karpidas. Pelo menos fora o preço mais alto pago por um Warhol enquanto o artista ainda estava vivo.

“O preço de algo é o preço que alguém está disposto a pagar”.

O que é que esta gente viu no quadro, muito honestamente, muito sinceramente, por mais que eu olhe lá para cima…não sei. Aquilo parece-me ser uma mera, reles, banal pintura de duzentas notas de um dólar.

E a si?

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