THE DELAGOA BAY REVIEW

15/12/2010

ROSTROPOVICH, BACH E STRADIVARIUS

Filed under: António Botelho de Melo, Música, Mstislav Rostropovich — ABM @ 3:00 am

por ABM (14 de Dezembro de 2010)

Nos anos 80, estava eu então em residência na pequena cidade de Providence, capital do Estado de Rhode Island, quando, tentando basciamente encantar a filha de um professor de Estudos Orientais de uma universidade local, convidei-a para ir à majestosa e então recentemente restaurada casa de ópera da cidade, que ficava na baixa da cidade.

Apreciador de música clássica e já a trabalhar, comprei se calhar os dois melhores bilhetes da casa para mim e para a menina, na primeira fila, para ouvir e ver a actuação de um clássico russo (bem, na acepção de “russo” daquela época) que tinha acabado de fugir da União Soviética por ser considerado um dissidente e aquelas coisas todas que lhes chamavam na altura.

O nome dele era Mstislav Rostropovich e tocava violoncelo.

Vem a noite do espectáculo (nos EUA vai-se a estas coisas entre as 6 e as 7 da noite, o que em Portugal decididamente não acontece) e lá aprecemos os dois todos arrepimpados, eu de fato e lacinho e a menina de vestido longo e xaile da moda. No palco, à hora marcada, entrou o que me pareceu um velhinho simpático, a carregar o violoncelo. Sentou-se mesmo, mesmo à minha frente. E, na hora e tal que se seguiu, proporcionou-me um dos grandes espectáculos da minha vida.

Não era só a beleza, a qualidade, da música que ele interpretou que me chocaram. Principalmente, foram duas coisas: a enorme energia que saía daquele homem, mas também as coisas que ele conseguia fazer com aquele instrumento. Conseguia oscilar do mais estrondoso trovão, para a mais suave melodia, ténue como uma brisa. Mas que maravilha.

Desde então ouvi-o muitas vezes a tocar, em discos, depois CD’s, e na internet. Outro dia uma amiga mandou-me a ligação em cima. Que me embalou enquanto escrevia esta nota. E me lembrava daquela noite.

Uma nota final: nos conhecimentos artilhados na internet, parece que os lusofónicos andam um pouco a reboque dos anglofónicos. Felizmente que falo ambas as línguas, senão estava lixado.

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