Muitíssimo grato a José Orlando Areosa Pena, filho de José Carlos Areosa Pena, por ter acedido ao meu pedido de mais informação sobre o seu pai, em baixo contida.
Esta é a primeira de algumas crónicas com fotos e textos de Areosa Pena.
Areosa Pena, aqui numa pose à Ernest Hemingway. Para visionar a fotografia em tamanho máximo, prima na imagem duas vezes com o rato do seu computador. Esta e as restantes fotos restauradas por mim.
A internet tem destas coisas. Se o exmo. Leitor procurar o nome de José Carlos Areosa Pena no Google, provavelmente o que vai reparar é que o Mia Couto em 1989 ganhou em Maputo o prémio de jornalismo Areosa Pena.
Areosa Pena merece ser recordado aqui, por várias razões, entre a quais a de que um dos mais prestigiados prémios de jornalismo em Moçambique tem o seu nome.
A versão mais curta vai em baixo.
Aqui, a minha versão ultra-curta. Areosa Pena nasceu na cidade nortenha portuguesa do Porto. Em 1949, com 12 anos, foi com os pais viver para Moçambique. Começou a escrever cedo e nunca mais parou. Em meados anos 60, foi trabalhar para o Notícias, o principal jornal da então província portuguesa. Em 1970, mesmo no fim do breve delírio marcelista, fez parte da equipa que funda a revista Tempo em Lourenço Marques, de onde sai em 1973, indo trabalhar para os SMAE e operando de Lourenço Marques como correspondente do então não menos estridente Expresso, de Lisboa, e o mais maleável A Capital, também de Lisboa. Após o golpe militar em Lisboa, no final de Abril de 1974, torna-se o chefe de redacção do Notícias de Lourenço Marques, que nos seis meses que se seguem foi um dos palcos de excelência do debate e pressões em redor do tema da Independência (não quando, mas mais como). Ficou no posto durante três anos, depois saíu, desempenhando cargos diversos não relacionados com a sua vocação de excelência, voltando brevemente à profissão em 1980 a pedido do então presidente. No entanto não permaneceu por muito tempo. No final de Março de 1981, morreu de doença.
O pequeno José Carlos com a mãe no Porto, 1939. Dez anos, depois conhecia Moçambique pela primeira vez.
Obviamente, Areosa Pena distinguiu-se pelo seu gosto pela escrita e pelo trabalho que foi desenvolvendo ao longo da sua vida. Espero poder ter acesso a algumas das suas crónicas e textos, que nunca li.
Mas, principalmente, Areosa Pena é recordado hoje em Moçambique pelo facto de ter sido ele uma das referências que iniciou e formou as primeiras fornadas de jovens talentos jornalísticos moçambicanos após a Independência, que mais tarde evoluíram para serem figuras de referência da recente e actual imprensa moçambicana.
Claro que é quase caricato falar-se de “jornalismo” entre 1975 e 1992 em Moçambique. Tal como se dizia que sob a ditadura portuguesa se praticava um jornalismo manietado, direi que igualmente se fazia algo que se parecia com jornalismo “comprometido” após o dia 20 de Setembro de 1974, a data efectiva da Independência de Moçambique. Em que a linha partidária da cúpula da Frelimo de então era tudo o que contava.
Creio, no entanto, que o importante é que gerações de então jovens iniciaram os seus percursos profissionais sob a alçada de Areosa Pena, aprendendo um ofício e desenvolvendo vocações que estiveram na génese do que mais tarde evoluiu para o actual jornalismo moçambicano.
São essas vivências, e a sua recordação, que presumo estejam na base de se ter instituído um prémio de excelência na escrita em Moçambique.
O tal que um então quase anónimo Mia, recebeu em 1989.
Após a sua morte, Sol Carvalho, um dos seus colaboradores, escreveu o prefácio de um pequeno livro, onde foram reunidos alguns dos escritos de Areosa Pena. Nele, são recordados com óbvio afecto, os tempos de convívio pessoal e profissional entre os dois homens. Escreveu Sol: ” No curto período da sua vida profissional em que trabalhou pela segunda vez na Tempo (da qual havia sido fundador) todos o sentíamos como um ponto de referência para o nosso trabalho profissional. O “velho” (em idade e profissão) era mais do que isso: aceitou receber estagiários a seu cargo e trabalhar com eles muitas vezes em prejuízo do seu próprio tempo que, na altura, ele já sabia curto.”
Mais há a dizer sobre Areosa Pena.
A seu tempo.
O jovem recruta José Carlos Areosa Pena faz a tropa em Moçambique, 1956. Excepto em Dadrá e Nagar Haveli, o império ainda dormia. Craveiro Lopes, então presidente português, visita Lourenço Marques.
O esboço biográfico curto, acima referido, creio que preparado pouco depois da sua morte:
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Areosa Pena creio que no final dos anos 60. Em Lourenço Marques.
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