THE DELAGOA BAY REVIEW

18/12/2011

JOSÉ CARLOS AREOSA PENA E O JORNALISMO MOÇAMBICANO APÓS 1975

Filed under: Imprensa Moçambique, José Carlos Areosa Pena — ABM @ 4:49 pm

Muitíssimo grato a José Orlando Areosa Pena, filho de José Carlos Areosa Pena, por ter acedido ao meu pedido de mais informação sobre o seu pai, em baixo contida.

Esta é a primeira de algumas crónicas com fotos e textos de Areosa Pena.

Areosa Pena, aqui numa pose à Ernest Hemingway. Para visionar a fotografia em tamanho máximo, prima na imagem duas vezes com o rato do seu computador. Esta e as restantes fotos restauradas por mim.

A internet tem destas coisas. Se o exmo. Leitor procurar o nome de José Carlos Areosa Pena no Google, provavelmente o que vai reparar é que o Mia Couto em 1989 ganhou em Maputo o prémio de jornalismo Areosa Pena.

Areosa Pena merece ser recordado aqui, por várias razões, entre a quais a de que um dos mais prestigiados prémios de jornalismo em Moçambique tem o seu nome.

A versão mais curta vai em baixo.

Aqui, a minha versão ultra-curta. Areosa Pena nasceu na cidade nortenha portuguesa do Porto. Em 1949, com 12 anos, foi com os pais viver para Moçambique. Começou a escrever cedo e nunca mais parou. Em meados anos 60, foi trabalhar para o Notícias, o principal jornal da então província portuguesa. Em 1970, mesmo no fim do breve delírio marcelista, fez parte da equipa que funda a revista Tempo em Lourenço Marques, de onde sai em 1973, indo trabalhar para os SMAE e operando de Lourenço Marques como correspondente do então não menos estridente Expresso, de Lisboa, e o mais maleável A Capital, também de Lisboa. Após o golpe militar em Lisboa, no final de Abril de 1974, torna-se o chefe de redacção do Notícias de Lourenço Marques, que nos seis meses que se seguem foi um dos palcos de excelência do debate e pressões em redor do tema da Independência (não quando, mas mais como). Ficou no posto durante três anos, depois saíu, desempenhando cargos diversos não relacionados com a sua vocação de excelência, voltando brevemente à profissão em 1980 a pedido do então presidente. No entanto não permaneceu por muito tempo. No final de Março de 1981, morreu de doença.

O pequeno José Carlos com a mãe no Porto, 1939. Dez anos, depois conhecia Moçambique pela primeira vez.

Obviamente, Areosa Pena distinguiu-se pelo seu gosto pela escrita e pelo trabalho que foi desenvolvendo ao longo da sua vida. Espero poder ter acesso a algumas das suas crónicas e textos, que nunca li.

Mas, principalmente, Areosa Pena é recordado hoje em Moçambique pelo facto de ter sido ele uma das referências que iniciou e formou as primeiras fornadas de jovens talentos jornalísticos moçambicanos após a Independência, que mais tarde evoluíram para serem figuras de referência da recente e actual imprensa moçambicana.

Claro que é quase caricato falar-se de “jornalismo” entre 1975 e 1992 em Moçambique. Tal como se dizia que sob a ditadura portuguesa se praticava um jornalismo manietado, direi que igualmente se fazia algo que se parecia com jornalismo “comprometido” após o dia 20 de Setembro de 1974, a data efectiva da Independência de Moçambique. Em que a linha partidária da cúpula da Frelimo de então era tudo o que contava.

Creio, no entanto, que o importante é que gerações de então jovens iniciaram os seus percursos profissionais sob a alçada de Areosa Pena, aprendendo um ofício e desenvolvendo vocações que estiveram na génese do que mais tarde evoluiu para o actual jornalismo moçambicano.

São essas vivências, e a sua recordação, que presumo estejam na base de se ter instituído um prémio de excelência na escrita em Moçambique.

O tal que um então quase anónimo Mia, recebeu em 1989.

Após a sua morte, Sol Carvalho, um dos seus colaboradores, escreveu o prefácio de um pequeno livro, onde foram reunidos alguns dos escritos de Areosa Pena. Nele, são recordados com óbvio afecto, os tempos de convívio pessoal e profissional entre os dois homens. Escreveu Sol: ” No curto período da sua vida profissional em que trabalhou pela segunda vez na Tempo (da qual havia sido fundador) todos o sentíamos como um ponto de referência para o nosso trabalho profissional. O “velho” (em idade e profissão) era mais do que isso: aceitou receber estagiários a seu cargo e trabalhar com eles muitas vezes em prejuízo do seu próprio tempo que, na altura, ele já sabia curto.”

Mais há a dizer sobre Areosa Pena.

A seu tempo.

O jovem recruta José Carlos Areosa Pena faz a tropa em Moçambique, 1956. Excepto em Dadrá e Nagar Haveli, o império ainda dormia. Craveiro Lopes, então presidente português, visita Lourenço Marques.

O esboço biográfico curto, acima referido, creio que preparado pouco depois da sua morte:

P. 1 de 3

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Areosa Pena creio que no final dos anos 60. Em Lourenço Marques.

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5 comentários »

  1. Excelente exemplo António! partilhei no AL LM. Canimambo! Feliz Natal para ti e para os que te são caros! E continua em 2012 nesta “belíssima corrida que não cansa”! Um abraço Laura Seixas

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    Comentar por Laura Maria Saraiva Seixas — 18/12/2011 @ 10:26 pm

  2. Acho louvável a intenção de lembrar o velho Areosa, pessoa que conheci pessoalmente e com quem privei durante bastante tempo.

    Mas é preciso ter cuidado em não misturarmos as nossas opiniões privadas quando estamos a falar de outrém, porque podemos, com isso, acabar por prestar um mau serviço à pessoa que pretendemos homenagear. Neste artigo temos um caso claro:

    “Claro que é quase caricato falar-se de “jornalismo” entre 1975 e 1992 em Moçambique.”

    Isto é um insulto à memória do Areosa Pena – e de todos os outros jornalistas moçambicanos. Esta afirmação aniquila todo o trabalho feito pelo Areosa Pena e por vários outros profissionais competentes ao longo desses anos – e se foram anos difíceis para o jornalismo, pois se saiba que é muito mais qualificado o jornalismo em tempos difíceis do que quando, como agora, cada um diz indiscriminadamente aquilo que lhe aflora à cabeça, sem rigor nem critério, sem profissionalismo nem arte.

    Ora, com esta afirmação, temos o Areosa Pena reduzido à qualidade de… comprometido, à categoria de alguém que se subjugava e acatava as ordens, já que era um tempo “Em que a linha partidária da cúpula da Frelimo de então era tudo o que contava”. Só isso explica que essa mesma cúpula atribuísse ou aceitasse a atribuição deste nome para o principal prémio de jornalismo e não outro! Ora, o Areosa Pena que eu conheci fo tudo menos comprometido. Logo, é profundamente caricato dizer que “é quase caricato falar-se de “jornalismo” entre 1975 e 1992 em Moçambique”.

    Portanto, leitores, fazia-se jornalismo em Moçambique naquele período, sim, jornalismo duro, trabalhado, elaborado. E foi por isso que o nome do Areosa Pena foi dado ao principal prémio de jornalismo.

    Obrigado.

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    Comentar por Carlos — 20/12/2011 @ 9:27 am

  3. “Claro que é quase caricato falar-se de “jornalismo” entre 1975 e 1992 em Moçambique.”?

    Das duas.. duas: ou o conceito de jornalismo militante passou a ser defeito, ou a miltância numa causa, como foi o caso de Areosa Pena, passou a ser outro defeito!

    …ou então, este comentário é feito por alguém que não viveu os melhores anos da revolução moçambicana, onde a militância era de jornalistas, operários, escritores, pintores, camponeses, inteletuais de todo o tipo…

    ou será que também é “caricato” falar miltância por uma causa, como foi o caso de Areosa Pena (e outros intelectuais)?

    Já agora, junto o nome do meu pai, militante e repórter de imagem, a este “caricato” grupo de grandes inteletuais militantes que, como Areosa Pena, deram o seu melhor por uma causa que, no entretanto, se foi diluíndo no “pouco caricato” jornalismo ao serviço de grupos económicos aos quais os jornalistas têm que vergar a sua opinião nas ditas sociedades livres ocidentais…

    Fernando

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    Comentar por Fernando — 20/12/2011 @ 9:01 pm

    • Fernando, desculpa – tardiamente – quem é teu pai? e não te zangues tanto que faz mal. ABM

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      Comentar por ABM — 15/01/2012 @ 4:16 am


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